Bolsa surpreende, sobe 10%, mas investidor pessoa física deve pensar antes de entrar no jogo

Empresas citadas na reportagem:
O Ibovespa engata trajetória de alta em 2025. Desde o início do ano o principal índice da bolsa brasileira já subiu 10%, negociado acima dos 132 mil pontos nesta quarta-feira (26).
Sendo assim, esse é um bom momento para o investidor pessoa física mergulhar na renda variável? E em caso positivo, quais são as empresas e setores que podem ser boas oportunidades hoje?
A Inteligência Financeira ouviu cinco especialistas do mercado financeiro, que se dividem sobre a conveniência da pessoa física investir na bolsa hoje.
O consenso, contudo, é que estamos diante de um cenário ainda incerto e que as oportunidades, se existem, estão em prazos mais longos. As empresas e setores que se destacam, são bancos, commodities, infraestrutura e energia.
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Vale a pena investir na bolsa agora?
“Para quem possui um horizonte de longo prazo e segundo muitos estudos internos que fazemos, agora parece ser um momento muito promissor“, avalia Gustavo Akamine, sócio e gestor da Constância Investimentos.
“A nossa bolsa continua muito descontada em vários quesitos. Ainda temos muito espaço para subir daqui para frente, mas é um pouco cedo para dizer que esse é um movimento que vai se perpetuar”, aponta Lucas Furst, especialista em renda variável da Manchester Investimentos.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, acredita que não é o momento para essa migração. Ao menos não de investir na bolsa de forma relevante na composição da carteira.
“Não acho que o momento seja o ideal para a pessoa física. Tem alguns papéis que podem ser considerados descontados sim, mas muito mais olhando como uma diversificação com potencial de alta relevante do que realmente como um direcionamento”, afirma ainda Gustavo Cruz.
“Sempre há janelas de oportunidades, mas nesse momento de otimismo o investidor tem que ter cautela. O investidor tem que entender o seu perfil, de acompanhar a volatilidade sem grandes emoções”, diz Marcelo Boragini, especialista em renda variável da Davos Investimentos.

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Por que a bolsa sobe em 2025 e o que esperar daqui para frente?
A virada neste início de ano foi motivada, afirmam os especialistas, por um conjunto de fatores. O principal é o reposicionamento dos investidores internacionais, que se viram diante de uma piora de expectativas sobre a economia norte-americana, provocando um fluxo de recursos para outros mercados.
Nesse cenário, o Brasil se beneficia especialmente porque os múltiplos das ações brasileiras estariam excessivamente descontados.
“O Brasil estava fora do radar dos investidores globais, com poucos fundos posicionados no País. Mas um DXY mais fraco (indicador do dólar frente a uma cesta de moedas) abriu espaço para uma rotação de dinheiro para mercados emergentes, e o Brasil, com ativos descontados, foi um dos destinos preferidos”, explica Ian Toro, especialista de renda variável da Melver.
No cenário interno, os especialistas citam ainda uma perspectiva de altas mais moderadas na taxa básica de juros e a sinalização do início do conhecido ‘trade eleitoral’. De acordo com Lucas Furst, da Manchester, as pesquisas que indicaram queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estão na conta, com o mercado já de olho nas eleições de 2026.
Perspectivas para o restante do ano
Daqui para frente, a perspectiva é de incerteza e uma dose alta de volatilidade. Por isso, quem defende a entrada do investidor pessoa física na bolsa apoia a estratégia de longo prazo, aproveitando papéis bons e negociados a preços baixos.
“O que temos de certeza é que a volatilidade é o nome do jogo. Ainda é cedo para afirmar com certeza o rumo da bolsa”, afirma Biagini, da Davos.
Ian Toro cita um cenário positivo e um negativo para a bolsa hoje:
- O cenário positivo: “Se o apetite global por risco continuar e a política monetária dos EUA não endurecer, o Brasil pode continuar atraindo capital, especialmente se os preços das commodities permanecerem elevados. Além disso, a discussão sobre alternância de poder no País pode gerar um ambiente mais favorável para reformas e maior previsibilidade econômica”
- O cenário negativo: “Os juros brasileiros continuam altos, com a Selic a 14,25%, e o Copom sinalizou que pode subir ainda mais se a inflação não ceder. Isso encarece o crédito, limita o crescimento e reduz a atratividade de ações para o investidor local, que pode preferir a renda fixa. Além disso, a deterioração dos dados da dívida pública pode aumentar a percepção de risco”
Onde investir na bolsa de valores em 2025?
Os especialistas citam alguns setores e empresas que podem ser boas oportunidades para o investidor pessoa física na bolsa hoje.
Lucas Furst (Manchester), Ian Toro (Melver) e Gustavo Akamine (Constância) mencionam o setor financeiro. Toro e Akamine destacaram especificamente o Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4) como possível opção para investimento.
“O Itaú Unibanco é frequentemente recomendado por analistas devido a sua sólida performance e capacidade de adaptação às mudanças econômicas”, diz Ian Toro.
Os setores de energia, infraestrutura e saneamento foram citados por Marcelo Biagini (Davos), Furst, Toro e Akamine. Toro mencionam Alupar (ALUP11), devido ao potencial de crescimento e estabilidade financeira, e Akamine menciona Sabesp (SBSP3).
Biagini, Furst e Toro indicam o setor de commodities. O especialista da Melver aponta para Suzano (SUZB3), que se beneficia da demanda global por produtos sustentáveis.
Gustavo Akamine aponta ainda os investimentos em small caps. O sócio da Constância Investimentos lista Allied (ALLD3), “que negocia a 4x lucro mesmo num período ruim”, e Terra Santa Agro (LAND3), “que negocia num valor substancialmente abaixo do laudo de suas terras”.