Embraer (EMBR3), Petrobras (PETR4) e o agro? BTG aponta possíveis alvos de tarifas de Trump no Brasil
Empresas citadas na reportagem:
Embraer (EMBR3), Petrobras (PETR4), empresas do agronegócio e de máquinas estão entre os setores e empresas do Brasil que podem ser diretamente atingidos por uma guerra tarifária dos Estados Unidos, segundo um estudo do BTG Pactual.
O estudo traça dois cenários principais. No que o banco considera mais provável, de tarifas mais seletivas, o impacto para o Brasil seria bastante limitado.
Porém, se o governo de Donald Trump usar como critério reagir com igual intensidade a barreiras do Brasil, o efeito pode atingir uma variedade de exportadores nacionais.
Em qualquer caso, “o Brasil é um alvo potencial”, afirmam os analistas Iana Ferrão e Pedro Oliveira, autores do relatório.
Os comentários refletem as incertezas crescentes sobre os impactos globais de uma escalada tarifária de Trump, iniciada neste mês e que terá uma guinada no começo de abril.
Trump anunciou uma política tarifária protecionista fundamentada no princípio de “reciprocidade”, visando reduzir o déficit comercial americano.
Uma investigação sobre barreiras comerciais impostas por outros países aos EUA está em andamento, com anúncio previsto para 2 de abril. Ainda não há clareza sobre o que virá no pacote.
Cenário de tarifa média de 5,8% sobre produtos do Brasil
Nesse primeiro cenário, os EUA aplicariam uma tarifa média de 5,8% sobre as importações originárias do Brasil, a mesma que o país aplica aos estadunidenses.
Na prática, segundo o BTG, diversos produtos brasileiros atualmente isentos ou com tarifa mínima passariam a enfrentar uma barreira tarifária moderada.
Na balança comercial, as exportações brasileiras para o mercado americano diminuiriam em cerca de US$ 2 bilhões em 2025 e US$3 bilhões em 2026, já considerando o impacto dos 25% sobre as exportações de aço.
Cenário 2: Tarifa média dos EUA elevada para 25%
Aqui, o BTG considerou que os EUA elevarão a tarifa média sobre as importações do Brasil para 25%, visando a simular uma equivalência em relação às barreiras não tarifárias impostas pelo Brasil.
Neste caso, diversas exportações atualmente competitivas passariam a ficar inviáveis para o mercado americano.
Os analistas consideram esta alternativa como extrema e improvável.
Isso impactaria, por exemplo, o setor aeronáutico, leia-se Embraer (EMBR3), cujas aeronaves ficariam bem mais caras para companhias aéreas americanas.
Além disso, no agronegócio e alimentos, produtos como suco de laranja, café, carnes bovina e de frango, açúcar e etanol sofreriam forte redução de competitividade nos EUA.
“Muitos desses itens enfrentariam barreiras quase proibitivas”, afirma o BTG.
Por fim, os setores de máquinas e equipamentos também veriam suas vendas diminuírem. Poderia, no limite, sobrar até para petróleo, afetando a Petrobras.
Atualmente, 2,6% da produção total da Petrobras é exportada para os Estados Unidos.
No conjunto, isso resultaria numa queda de cerca de US$ 8 bilhões nas exportações brasileiras para os EUA em 2025.
Consequentemente, o superávit da balança comercial brasileira diminuiria aproximadamente US$ 10 bilhões neste ano e a US$ 13 bilhões em 2026.

Segundo os analistas, o impacto total dependerá, em grande parte, de como o Brasil responderá ao aumento de tarifas, seja aceitando negociar com os EUA e diminuindo algumas barreiras.
No caso das tarifas sobre aço e alumínio, em vigor desde 12 de março, o governo brasileiro optou por buscar o diálogo em vez de retaliar imediatamente.
Quais são os setores no Brasil que mais exportam para os EUA?
O setor nacional de semimanufaturados de ferro e aço, por exemplo, têm 72,5% de suas vendas externas
direcionadas aos EUA. Por isso, são mais vulneráveis a medidas protecionistas.
Situação semelhante ocorre com veículos aéreos e espaciais (63,2%), motores e máquinas (61,4%), materiais de construção (57,5%), etanol (48,5%), madeira e derivados (43,3%) e petróleo e derivados (27,9%).
Por outro lado, produtos como minério de ferro, soja e carnes, apesar de sua relevância no comércio exterior do Brasil, têm participação mínima nas vendas aos EUA, o que reduz o impacto potencial sobre esses setores.

Brasil é um dos países que mais impõem barreiras a importações
As discussões sobre possível aumento de tarifas deixam o Brasil numa situação vulnerável porque está entre os países mais fechados do mundo em termos de comércio exterior.
A tarifa média ponderada pelo volume de importações do Brasil é cerca de 5,8%, contra cerca de 1,3% dos EUA.
Mais do que isso, o Brasil está entre os países que mais aplicam barreiras não tarifárias.

E um redução de barreiras internas pressionaria a indústria nacional.
Para o BTG, caso o Brasil seja levado a reduzir barreiras não tarifárias, setores intensivos em uso de insumos básicos (por exemplo, metalurgia) e aqueles relacionados ao vestuário, maquinário e produtos semimanufaturados seriam os mais pressionados.
Nas últimas décadas, enquanto as tarifas foram reduzidas globalmente, o Brasil permaneceu relativamente fechado via barreiras não tarifárias.
“Estudos apontam que, após a liberalização dos anos 1990, a proteção não tarifária no Brasil voltou a crescer nos 15 anos mais recentes”, afirmaram os analistas.
Quais são os principais mercados de exportações do Brasil?

Quais são os países que mais exportam para o Brasil?

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