Petrobras (PETR4) tem nova queda na bolsa com dividendo extra ainda no centro das atenções
Petroleira perdeu R$ 55 bilhões em valor de mercado com a decisão de não distribuir proventos adicionais aos acionistas
As ações da Petrobras operaram com volatilidade nesta segunda-feira (11) depois do enorme tombo registrado na sexta-feira (8) em meio aos ruídos provocados pela decisão da empresa de não distribuir dividendos extraordinários, como era esperado pelo mercado financeiro.
Há uma expectativa também relacionada a uma reunião entre o presidente da estatal, Jean Paul Prates, com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em Brasília.
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Os investidores há tempos vêm manifestando temor pela ingerência política na empresa, que vem derrubando seu valor de mercado.
No período da manhã, as ações da empresa abriram em queda em torno de 2%. Mas, durante a tarde, os papéis preferenciais (PETR4) viraram e chegaram a subir 2,4%.
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Contudo, na reta final do pregão, com a divulgação de trechos de uma entrevista em que o presidente Lula afirma que a empresa “não pode pensar só nos acionistas”, PETR4 voltou ao campo negativo e fechou o dia com queda de 1,3%,
Frustração
O pano de fundo para o desempenho foi a decisão da companhia de não distribuir dividendos extraordinários avaliados em R$ 43,9 bilhões, o que provocou um enorme ruído no mercado.
A decisão de reter os recursos foi uma orientação do próprio governo, como demonstra a decisão, dividida, do Conselho de Administração.
Votaram contra a distribuição cinco conselheiros indicados pelo governo e a representante dos trabalhadores. Os quatro representantes de acionistas minoritários votaram a favor da distribuição de 100%.
Segundo Prates, inicialmente, a diretoria da estatal propôs 50% dos dividendos extraordinários para reserva e 50% para pagamento agora.
Mas, diante da resistência dos representantes do governo, ele se absteve de votar na reunião. “Essa novela (dos dividendos) continua, não acabou.”
Os diretores da empresa fizeram questão de dizer, ao longo da sexta-feira, que, mesmo sendo retido, esse dinheiro acabará voltando para o bolso dos acionistas, já que não pode ser usado para outra coisa – como investimento ou pagamento de dívida.
Mas, no mercado, mais uma demonstração de ingerência política na empresa acabou pesando.
Sinalizações de Lula
O presidente Lula tem dado mostras ininterruptas de que pretende usar as empresas estatais diretamente dentro do seu plano de governo – mesmo sendo, no caso da Petrobras, uma empresa aberta, com ações em bolsa e sócios minoritários.
“O que nós queremos é o seguinte: as empresas brasileiras precisam estar de acordo com aquilo que é o pensamento de desenvolvimento do governo brasileiro. É só isso que nós queremos”, disse Lula recentemente, em entrevista à RedeTV.
Uma das frentes desses investimentos, no caso da Petrobras, é a volta dos recursos para refinarias.
O governo já anunciou, por exemplo, a retomada das obras de Abreu e Lima, em Pernambuco, refinaria que se tornou um dos principais símbolos da corrupção nos governos petistas anteriores.
Com um custo inicial estimado em R$ 7,5 bilhões, as obras do empreendimento – tocadas pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão – consumiram quase R$ 60 bilhões, sem terem sido concluídas.
De acordo com a delação premiada do ex-executivo da Odebrecht Márcio Faria da Silva, as obras na refinaria teriam rendido R$ 90 milhões em propinas a ex-executivos da estatal ligados ao PP, ao PT e ao PSB.
Ministério da Fazenda
No caso dos dividendos extras, porém, integrantes da própria equipe econômica defenderam o pagamento em conversas com Prates durante a semana passada.
Esses recursos ajudariam o Ministério da Fazenda no esforço fiscal para alcançar a meta de déficit zero.
A União é o principal acionista da empresa e, portanto, seria a maior beneficiária desses recursos.
Para membros da Fazenda, a proposta de Prates, de distribuir 50% dos valores extraordinários apurados em 2023, “era bem razoável”.
A ideia, porém, não teve o apoio necessário no Conselho de Administração, que decidiu por restringir a distribuição apenas aos dividendos ordinários, retendo o restante.
Risco político
O Goldman Sachs avalia que o risco de uma intervenção governamental na Petrobras cresceu após a estatal decidir não pagar dividendos extraordinários com o lucro remanescente no quarto trimestre de 2023.
Por outro lado, o banco vê que isso já está parcialmente refletido no preço das ações, com o American Depositary Receipt (ADR) fechando em baixa de 11,5% na sexta-feira, 8.
“Historicamente houve vários casos em que as manchetes aumentaram a percepção de risco, o que não levou a uma mudança de fundamentos significativos o suficiente para evitar a valorização do preço das ações no longo prazo”, disseram os analistas Bruno Amorim, Joao Frizo, e Guilherme Costa Martins, em relatório enviado a clientes.
Com informações do Estadão Conteúdo