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Bancos podem levar até 3 anos para se livrarem de créditos podres da pandemia, diz Jive
Os bancos brasileiros podem levar até três anos para se livrarem de operações de crédito geradas durante a pandemia e que resultaram em créditos podres e calotes devido à piora das condições econômicas no país. É o que diz Guilherme Ferreira, sócio da Jive Investments, uma das maiores gestoras de recuperação de créditos do país.
“Vai levar de um ano e meio a três anos para processar toda essa massa de recursos concedida num período de juros extraordinariamente baixos. E que foi sucedida por uma combinação de inflação e aumento dos juros”, disse Ferreira em entrevista à Inteligência Financeira.
Queda de juros à vista?
De acordo com Ferreira, não há expectativa de queda significativa das taxas de juros num cenário breve. Além disso, o perfil de muitos devedores segue em deterioração, o que significa que os índices de inadimplência ainda podem piorar nos próximos trimestres. “Não sabemos ainda se já chegamos ao fundo do poço”, disse.
Para ele, esse quadro se agravou nos últimos meses em alguns nichos de mercado, como nas linhas para empresas. Ainda, neste ano, houve a crise deflagrada pelo rombo contábil na Americanas (AMER3). Isso a levou à recuperação judicial e tornou os bancos ainda mais seletivos na concessão de novos créditos.
Encarecimento de crédito
Especialistas da indústria bancária e do mercado de capitais têm dito que todo esse quadro encareceu o crédito, aumentando os encargos financeiros dos tomadores. Como alternativa, quem pôde acabou usando caixa próprio para pagar dívidas, o que também piorou as condições de liquidez.
“E o dinheiro vai continuar caro por algum tempo”, disse o executivo, salientando o foco dos credores para formar carteiras com melhor qualidade.
No curto prazo, a consequência é que o perfil dos empréstimos corporativos, especialmente para empresas de menor porte, pode piorar antes de melhorar. Isto é um efeito conhecido no mercado como ‘Curva J’.
Revenda de carteiras de crédito
Para ‘limpar’ a carteira, os bancos costumam se valer do recurso de revender carteiras de crédito inadimplente para empresas, por exemplo, para companhias como Jive, Return (do Santander Brasil), Ativos (Banco do Brasil), Recovery (Itaú Unibanco) e RCB (Bradesco).
Ferreira estima que algumas categorias de carteiras de ‘créditos podres’, como se chama no jargão do mercado, estão sendo preparadas pelos bancos para serem vendidas em 2024. Assim, tais carteiras devem seguir dando combustível para o setor.
Estimativas de consultorias financeiras apontam que esse mercado deve movimentar até R$ 75 bilhões no Brasil em 2023. Isso após negócios de cerca de R$ 60 bilhões no ano passado.
Desenrola deve decolar, avalia executivo
Criada em 2010 por Ferreira, ex-executivo do Lehman Brothers, e outros executivos do mercado financeiro, a Jive se concentra na compra e recuperação de créditos estressados. Em geral, por meio de fundos captados no mercado com investidores institucionais, principalmente do exterior.
Com a crescente demanda do mercado por produtos de investimentos alternativos, a gestora está, portanto, focada na captação de seu quarto e maior fundo. Isso deve ser concluído com até R$ 5 bilhões neste ano. Aliás, a meta da Jive é oferecer rentabilidade líquida de 20% ao ano.
Além de carteiras de crédito de empresas, a empresa opera no setor imobiliário. Tal segmento tem atravessado um período difícil no Brasil diante do ciclo de juros mais altos. Dessa forma, muitas das transações são feitas com as próprias construtoras para garantir a conclusão de obras.
Embora a Jive não opere com crédito de pessoas físicas, Ferreira avalia que o Desenrola será favorável para a atividade econômica. Vale lembrar que o Desenrola é um programa anunciado pelo governo federal. Focado no Tesouro Nacional, seu objetivo é comprar de bancos carteiras de crédito estressadas de famílias de baixa renda.
“O programa tem potencial de colocar milhões de pessoas de volta no mercado de crédito, com impacto positivo para a economia como um todo”, disse.
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