MRV, Azul e outras: veja as ações que mais caíram na bolsa em 2024 e se é hora de comprar

Piores quedas na bolsa: veja lista das ações do Ibovespa com as piores perdas em 2024 e se é hora de entrar em alguns desses papéis

A lista de ações que mais caíram na bolsa em 2024 tem cinco empresas com perdas superiores a 30% no período. Entre elas, estão algumas importantes. As ações da MRV (MRVE3), com queda de 34%, e da Azul (AZUL4), com desvalorização de 30,79%, ainda podem se recuperar, dizem analistas.

A liderança negativa está com uma empresa de educação, a Cogna (COGN3). Ela e outra empresa do segmento, a Yduqs (YDUQ3), sofreram basicamente pelos mesmos motivos e segundo os analistas podem ter problemas mais difíceis a superar em 2024.

Nesse sentido, veja as piores quedas na bolsa em 2024 até aqui e as explicações para a queda. Saiba também o que esperar dos papéis a partir de agora.

Ações que mais caíram na bolsa em 2024

EmpresaAtivoÚltima
cotação
(R$)
Variação
(%)
CognaCOGN32,14-37,82
CVCCVCB32,29-35,14
MRVMRVE37,34-34,64
CSN MineraçãoCMIN35,04-34,56
AzulAZUL411,09-30,79
CSNCSNA313,78-29,4
VivaraVIVA323,74-29,01
YduqsYDUQ316,05-26,81
CosanCSAN314,55-24,9
EztecEZTC314,07-24,79
RaízenRAIZ43,03-23,47
Fonte: B3/ Valor Pro – Os dados foram coletadas às 11h da sexta-feira, 10 de abril

Retomada do FIES? Não foi bem assim

O primeiro ponto a se observar é a discussão sobre a possível revisão do MEC com relação às regras para cursos online, que pode afetar diretamente a oferta dessas instituições de ensino nos produtos de maior crescimento de demanda.

Há ainda questões relacionadas ao financiamento de cursos superiores via FIES. “Houve um impulso (às empresas na bolsa no ano passado) por conta das falas do Lula, de querer impulsionar o setor”, disse Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos.

Contudo, diferentemente do que acontece com o Minha Casa, Minha Vida e o setor de construção, a participação do governo deve ter perfil diferente desta vez: “O empenho está na educação básica, enquanto o (ensino) superior não tem grandes projetos”, avalia Cruz.

Oferta de cursos de medicina foi parar no STF

Além disso, há expectativa negativa sobre julgamento no Superior Tribunal Federal (STF) a respeito de novos cursos de medicina.

Fernando Siqueira, head de research da Guide Investimentos, explica que “há uma regra que prevê que cursos de medicina só poderiam ser abertos onde o governo toca o programa Mais Médicos”, congelado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro e, agora, novamente em pauta.

“Com isso, as empresas alegavam que não conseguiriam abrir cursos porque não havia demanda suficiente na região. Assim, conseguiram colocar as vagas em outros lugares, via liminares”, o que pode ser revisto pelo Supremo.  

Fies; ações da Cogna, setor de educação
Polo da Universidade Anhanguera, que pertence à Cogna (COGN3), em Piracicaba, interior de SP – Foto: Divulgação

Aumento da base de alunos, mas redução das margens

Para piorar, os resultados das empresas no ano passado não foram bons. “Houve aumento da base de alunos nos cursos presenciais. Contudo, isso veio a custo de mensalidades mais baixas que o esperado, que não acompanham a inflação. Isso gerou frustração nos investidores”, destaca Siqueira.

Pesa ainda sobre o desempenho do setor na bolsa os juros altos, que acabam reduzindo o acesso da população à formação superior.  

Por fim, os analistas destacam a participação dos cursos online, “que a princípio foram benéficos, mas acabaram por prejudicar as margens (de lucro) porque os alunos não aceitam pagar o mesmo que pagavam no presencial por cursos à distância”, alerta Cruz, da RB.

Assim, Guide e RB não têm recomendações para as empresas do setor.

CVC e Azul caem mais de 30%

Segundo a Ativa, a Azul “vem fazendo o que consegue” diante do cenário desfavorável, “com dólar e combustível para cima, o que faz com que a recuperação do setor seja mais vagarosa” em se tratando de retomar os números pré-pandemia.

Além disso, pesa sobre o setor aéreo e de viagem e turismo a saída da Gol dos índices da bolsa após seu pedido de recuperação judicial e a consequente perspectiva de redução da participação da empresa no mercado.

“A Gol, saindo do mercado, prejudica a CVC (CVCB3) porque há menos opção para a pessoas viajarem e os preços vão para cima, já impactados pelo preço do dólar e principalmente do petróleo, principal custo das áreas para operar”, explica Cruz. Saiba mais sobre a queda da CVC.

Dessa maneira, com o cenário turvo sobre o destino do dólar e do petróleo, e sem uma saída ainda bem definida para a situação da Gol, os analistas não recomendam compra para os papéis. Por ora.

Desempenho das ações da Azul na bolsa chama a atenção do mercado – Foto: divulgação

MRV está no top 3 entre as piores quedas da bolsa em 2024

A MRV teve um 2023 positivo, mas cai quase 35% este ano por conta, principalmente, de surpresas negativas relacionadas à operação e projeções. “No início do ano, houve muita revisão nas estimativas, o mercado esperou números altos de lucro – perto de R$ 1 bilhão -, mas isso já foi revisado várias vezes”, diz Siqueira, da Guide Investimentos.

Luis Assis, analista da Genial Investimentos, conta que no ano passado a empresa teve boa recuperação das margens. Por isso, as perspectivas da operação brasileira da empresa, que também atua no exterior, melhoraram consideravelmente. “As ações responderam a essa melhora ao longo de 2023”, diz.

O que aconteceu perto do final do ano foi a ‘descoberta’ por parte dos analistas de despesas financeiras relacionadas às vendas de recebíveis que a MRV vinha fazendo há alguns anos.

Esse efeito implicou em revisões negativas de lucro para 2024, 2025 e 2026. Com isso o papel ficou relativamente mais caro em relação ao múltiplo P/L.

“Isso provocou uma pressão de vendas do papel, seja pelo múltiplo mais alto ou pela sensação de muitos analistas/gestores buy-side de que pouca gente entende bem da contabilidade da MRV”, explica Assis.

Entenda o que aconteceu com a empresa

Assis diz que essa “descoberta” não se trata de informações que a companhia escondia ou que era impossível de saber que existiam. Isso porque elas já constavam nos resultados e eram públicas há muitos trimestres. “O problema é que pouca gente se atentava a isso”, avalia.

“Por isso, digo que a sensação dos gestores é de que pouca gente entende de fato da contabilidade da MRV”.

MRV destoa do setor de construção

A empresa teve um dos piores desempenhos da bolsa de valores em 2024 pelos motivos explicados acima. Contudo, há mais fatores que fizeram a empresa caminhar na direção contrária do setor como um todo: a economia norte-americana.

“A MRV tem exposição grande nos Estados Unidos pela Resia (empresa do grupo). Com a perspectiva de início da queda da taxa de juros americana sendo postergada ao longo de 2024, as estimativas de preço de venda dos imóveis caíram, já que a precificação de imóveis para locação costuma ser feita com base no cap rate, que é muito correlacionado à taxa de juros futuros”, explica Assis.

Recuperação à vista?

Para a Genial, há chances de recuperação para a MRV ainda em 2024. Mas será preciso que a economia americana colabore.

“Nesse sentido, o início de corte de juros nos Estados Unidos deve ser um gatilho relevante, com as vendas de propriedades da Resia (que costumam ser divulgadas) refletindo um cap rate menor”, revela o analista da Genial.  

Da mesma maneira, os projetos relacionados à primeira faixa do Minha Casa, Minha Vida podem melhorar a margem líquida da MRV ao aumentar a demanda de imóveis.

Por outro lado, os fatos que pesam contra a empresa já estão no preço. “Assim, praticamente tudo que é negativo para o papel já está precificado”, complementa Assis.

Agora, a Genial divulga preço-alvo de R$ 15 para MRV. Além disso, dá recomendação de compra.

Lista de ações que mais caíram na bolsa tem gigantes da mineração e siderurgia

A CSN e a CSN Mineração têm sofrido especialmente no setor de mineração e siderurgia.

Esse ambiente “desafiador para os preços globais do aço e de fraca procura por minério de ferro na China”, como menciona o Itaú BBA em relatório, favorece “empresas que acreditamos negociar a múltiplos relativamente baratos. 

Com isso, o banco de investimentos reviu as projeções para a CSN, de compra para neutro, com os papéis com preço-alvo de R$ 15 para 2024 e com a empresa perdendo preferência no setor para Usiminas, que tende a ganhar mais que os pares diante do preço do minério de ferro em patamares mais baixos.  

Para a CSN Mineração, o Itaú BBA viu preços e volumes realizados melhores do que o esperado nos resultados do 4T23. Ainda antes da virada do trimestre, o Itaú BBA tinha recomendação neutra e previa os papéis em R$ 7,40.