VÍDEO: ‘Nosso maior concorrente não é a airfryer. É o fogão a lenha’, diz Júlio Cardoso, presidente da Supergasbras
VÍDEO: ‘Nosso maior concorrente não é a airfryer. É o fogão a lenha’, diz Júlio Cardoso, presidente da Supergasbras
Com apenas 30% da visão do olho direito, executivo conta como foi chegar à liderança da empresa, que passou de uma gestão familiar para a internacionalização
A Supergasbras vende gás liquefeito de petróleo, o GLP, ou o popular gás de cozinha. A companhia tem 21% do mercado, 4.500 funcionários, 8.500 revendedores. Atende 10 milhões de famílias e 60.000 clientes empresariais. Mas há um detalhe nesta história: o presidente da companhia, Júlio Cardoso. Júlio é cercado de singularidades. Primeiro, ele trabalha na empresa há 34 anos – fato cada vez mais raros dentro das corporações.
Além disso, Júlio é deficiente visual. Tem apenas 30% da visão de um dos olhos e, por isso, está sempre com um par de óculos. Os óculos de lentes grossas e amarelas servem para proteger os 30% de visão que lhe restam. “No ano 2000, com 37 anos, eu perdi 70% da visão do olho direito, e, em 2015 perdi 50% do olho esquerdo. Ambos por razões diversas, nada associado. E em 2021, no meio da pandemia, eu tive uma lesão no olho esquerdo, um machucadinho no olho esquerdo que acabou pegando infecção e eu perdi a visão do olho esquerdo.”
Se o fato tivesse acontecido com você, o que teria feito? Júlio chorou. Chorou copiosamente. Mas viu que sua nova condição estava abalando profundamente sua família. Então, enxugou as lágrimas, adaptou-se à nova vida e eis ele aqui, no Visão de Líder. A entrevista você acompanha no vídeo acima, ou em seus principais trechos logo abaixo:
O que faz a Supergasbras
Mas vamos por partes. Antes de conhecer a saga de Júlio Cardoso, vamos conhececer a Supergasbras, subsidiária do grupo holandês SHV Energy, que é líder mundial em gás liquefeito de petróleo GLP, mais conhecido como gás de cozinha.
A empresa tem 21% de participação de mercado no Brasil, com 4.500 funcionários, 8.500 revendedores e atende 10 milhões de famílias e 60.000 clientes empresariais.
Quem é Júlio Cardoso, presidente da Supergasbras
O carioca Júlio Cardoso é filho de pai mineiro e mãe catarinense. É administrador de empresas formado pela PUC do Rio, com um MBA em finanças, feito no Ibmec. Trabalha na Supergasbras há 34 anos e em 2004, ele teve papel fundamental na fusão entre Minasgás e Supergasbras.
Júlio, no entanto, vem de uma família classe média alta. O pai chegou à diretoria de um grande banco mas, quando Júlio fez 21 anos, o pai se perdeu em meio à inflação elevada e acabou falindo. “Perdemos tudo, a gente teve que começar do zero.”
Ele, então, era o filho mais velho entre seus cinco irmãos. E o cenário piorou. “Meu pai, infelizmente, logo depois faleceu. Eu tinha 24 anos e aí começa minha vida. Eu não, eu não herdei recursos financeiros, mas eu herdei educação, valores, direcionamentos. Então, eu passei a trabalhar nessa direção.”
Como Júlio Cardoso perdeu a visão
Eu tive uma situação em 2000, aos 37 anos, quando eu perdi 70% da visão, depois em 2015 quando perdi 50% da visão do olho esquerdo. Ambos por razões diversas. E, em 2021, no meio da pandemia, eu tive uma lesão no olho esquerdo, um machucadinho que acabou gerando uma infecção e eu perdi 100% do meu olho esquerdo. Então, hoje eu enxergo felizmente com 30% do meu olho direito.
Os ensinamentos da deficiência
A grande lição da minha deficiência é que você tem que valorizar o que você tem e não lamentar o que você deixou de ter – ou quer ter. Sou feliz com 30% da minha visão. Todo dia de manhã, quando eu acordo, eu agradeço. A maioria das pessoas acorda de manhã e não lembra que tem os dois olhos e está enxergando maravilhosamente bem. E isso é uma coisa que o ser humano precisa aprender.
Aprender a valorizar o que tem, a aproveitar a vida como ela é, entender a força que a gente tem, de no momento que a gente valoriza o presente e valoriza tudo ao seu redor.
‘Sou um PCD: presidente com deficiência’
Eu faço questão de conversar muito com nosso time, de estar próximo. O fato de ser PCD, ou um presidente com deficiência, mostra para as pessoas a humildade, a simplicidade, a resiliência. Eu sou uma pessoa feliz, grata por tudo que tenho, com uma família maravilhosa, um emprego maravilhoso, meus irmãos estão comigo, todos com saúde.
Eu só posso agradecer. E eu acho que as pessoas precisam ter um pouco mais desse desse pensamento, seja no trabalho, em casa ou no dia a dia. É muito importante que as pessoas realmente pensem de forma positiva e realista. Mas é claro que eu também choro. Eu chorei muito quando perdi a minha visão. Olhei para o meu lado, vi meu filho de 22 anos chorando, e pensei: ‘Meu Deus, eu estou fazendo meu filho sofrer’. Então, chamei ele e disse: ‘Filho, prometo para você que eu vou passar por isso, eu vou ser feliz, vou te fazer feliz. É meu compromisso com você’. Isso passou a ser meu compromisso comigo, o meu propósito de vida, eu ser feliz e fazer as pessoas ao meu redor felizes.
A rotina de um presidente com deficiência
Hoje eu sou uma pessoa dependente. Tenho dificuldade de locomoção, então eu tenho o meu assistente, o Diego, que cuida de mim como como ninguém. Toda minha família está sempre junto comigo. Eu tenho uma filha de oito anos que anda comigo, e me avisa quando tem degrau. Todas as pessoas ao meu redor cuidam de mim. Mas isso não é só para mim. As pessoas são muito boas, elas têm uma essência muito boa.
E, quando a gente tem uma deficiência e a gente tem a humildade de aceitar a deficiência, você vê como as pessoas são carinhosos, cuidadosas com a gente.
Eu uso esse óculos porque ele é um acessório de proteção. Ele não muda nada. Mas não posso perder mais os 30% da visão que ainda tenho. Então, não posso bater em um galho. Eu consigo ler de perto e, sempre que estou numa apresentação com slides eu fico muito atento, eu ouço muito bem e gravo muito bem as coisas.
A conquista da presidência da Supergasbras
Chegar à presidência da Supergasbras foi natural, juro. Eu nunca me planejei ser presidente da companhia pelo tempo de casa, pela minha experiência, pelos pela minha forma de trabalhar. Em 2019 fui convidado para assumir a presidência da companhia, e foi uma honra, um prêmio por tudo que eu fiz na organização ao longo da minha vida. É uma oportunidade incrível de fazer dessa empresa uma empresa melhor, uma empresa realmente diferenciada e fazer o bem para as pessoas de uma forma maior, mais ampla.
Então, a primeira coisa que eu fiz quando eu assumi a presidência foi perguntar para todos os colaboradores o que eles queriam para a direção, o que eles almejavam. E eles me disseram que queriam agilidade, uma empresa mais moderna, mais focada em clientes. Mais de 2500 colaboradores responderam em uma semana de pesquisa. A gente criou a Super Jornada, que é esse processo de transformação, direcionando a companhia para redução de burocracia, para ter mais agilidade e iniciar um processo de transformação tecnológico.
Concorrentes da Supergasbras
O mercado é altamente competitivo. A gente tem cinco grandes distribuidoras e 60.000 revendedores disputando o consumidor no dia a dia. Então, é um mercado bastante acirrado. A gente tem a concorrência com o natural, com gás natural, mas ela é um pouco diferente. O gás natural é mais, mais competitivo, com alto consumo comercial ou industrial. Então, o GLP fica extremamente competitivo e a gente tem uma oportunidade grande de substituição à lenha.
Ainda tem muita gente no Brasil que usa lenha para cozinhar, por incrível que pareça, em que regiões? Mais no interior, mas as classes de poder aquisitivo menor, mas tem uma oportunidade sem dúvida nenhuma de isso é uma oportunidade sócio ambiental a gente trabalhar a evolução do GLP substituindo a lenha na cocção de alimentos. Você tem uma ação ambiental que a lenha é extremamente nociva ao ambiente, além do social, que é a questão da saúde da população.
Como Júlio Cardoso lida com o dinheiro
Quando eu entrei na companhia, há 34 anos, era uma época de inflação altíssima. Então, era uma geração de caixa alta e a gente aplicava o dinheiro. Eu era eu era o gerente de operações financeiras, investia o dinheiro da empresa no mercado, como em bolsa, ouro, em opções. Eu era um especialista em operações financeiras. Hoje, contudo, tenho que me segurar para não ir para o mercado de renda variável. É importante você ter um balanço adequado do seu portfólio, com o conservadorismo para não vai correr risco.