Em 30 anos, Edgard Corona saiu da condição de ser engenheiro químico e trabalhar na usina da família para virar dono da 3ª maior rede de academias do mundo, a Smart Fit (SMFT3). Ao todo, Edgard comanda 1.459 “lojas” – que é como ele chama cada academia -, sendo que 294 são franquias. No Brasil, são 706 unidades. As academias que estão no estrangeiro, aliás, já representam 53% da receita do grupo. “Temos 2,1 milhões de clientes. Então, 1 a cada 100 brasileiros é cliente nosso. Na Colômbia, essa proporção é de 1 a cada 3”, contou Edgard Corona para o podcast Visão de Líder da Inteligência Financeira.
O grupo Smart Fit compreende as marcas seguintes: Smart Fit, Bio Ritmo, Race Bootcamp, Vidya, Jab House, Tonus Gym e o agrupador Total Pass (ferramenta pela qual empresas fazem adesão e os funcionários pagam uma mensalidade para ter acesso a várias unidades). “Não se permitir ousar é travar a empresa”, diz Edgard.
Você pode acompanhar nossa conversa com Corona de duas maneiras: assistindo a entrevista ou lendo os principais trechos logo abaixo. Em ambos os casos, você vai conhecer um pouco mais sobre o executivo que comanda a rede Smart Fit.
No que a Smart Fit se diferencia no mercado?
A mensalidade na Smart Fit custa entre R$ 89 e R$ 149. A gente trabalha com preço menor, que se justifica em função da diferença do custo de locação desses espaços. Então, a marca não tem um aluguel na rua Oscar Freire (região nobre de São Paulo). Nosso ticket menor. Mas damos acesso, qualidade, saúde e atividade física às pessoas.
A Smart Fit foi um marco, porque mudou todo o conceito de academia e gerou uma a tendência para o setor no Brasil. Hoje tem um monte de fit pra cá, fit pra lá. Mas o benefício é que isso é deu mais acesso para mais gente.
O modelo de gestão da Smart Fit
Acho que é importante ter competição nessa área. Temos um modelo de gestão nosso que é tornar simples o que é complicado. A gente tem muita meta e métrica, desdobrando um monte de dados. Temos três, quatro bons indicadores, e deixar as equipes motivadas.
Então, é sempre uma curva de aprendizado. Somos uma empresa que vai aprendendo. A gente olha muito o erro, porque isso faz parte do aprendizado.
A empresa, então, sempre deu um certo grau de liberdade para que os talentos aparecessem e que a gente conseguisse se desafiar para fazer mais do que imaginava que pudesse fazer.
Uma coisa que eu sempre falo para minha turma é o seguinte: se o cara tá vivo e crescendo, tem aprendizado.
Então, a primeira coisa que a gente faz olhando para a concorrência é trabalhar mais do que eles.
Smart Fit em expansão
Temos 270 lojas, 160 mais fora do Brasil e que já representam 53% da receita do grupo. E todas na América Latina. Nem todas em modelo de franquia. Mas todos os locais têm uma área de expansão imobiliária que a gente trabalhou muito, através de dados, de possível geração de receita, para entender onde estão as melhores oportunidades. Então, cada cada país tem uma área de expansão. Temos também um comitê de expansão no Brasil.
Quando a gente mapeia um país, identificamos as academias nos bairros, e, às vezes, os imóveis não aparecem. Mas esses imóveis brotam para a gente, porque medimos tudo: aluguel, condição da operação, tamanho do imóvel, custos fixos. A gente olha quais são os retornos em cima de cada um. Então, como tem muita coisa vindo de fora, esse balanço está um pouco mais favorável.
“O que quebra uma empresa é o financeiro, não o econômico”
A gente sempre trabalha com caixa alto na Smart Fit, porque a primeira coisa que quebra a empresa é o financeiro, não o econômico. Então, eu sempre olhei para o caixa, sempre trabalhei com caixa bastante confortável. Nossos gastos e endividamentos não muito altos. Tiver uma boa oportunidade para fazer uma expansão um pouco mais pujante. Eu posso dar esse passo, mas sou bem conservador, cauteloso.
Visão de longo prazo
Teve um ano que nós tínhamos um guidance (projeção) para mercado de 190 lojas. E eu quebrei esse guidance, porque não fazia mais sentido para a companhia. Não estamos aqui pensando no trimestre. Estamos aqui para nos perpetuar na história. Para o acionista, essa mudança chacoalha, mas nós mantivemos o caixa no lugar certo.
Por que o investidor compraria SMFT3?
Por nossa série de crescimento. E porque temos uma gestão segura. Estamos performando. Não é muito difícil entender nosso modelo. Temos disciplina, então, é uma somatória de processos, de equipes. Tudo isso junto acaba entregando o resultado maior para o investidor. E o brasileiro quer dinheiro agora. É uma característica imediatista, de curto prazo. Esse sujeito ganhava, ganhava 10% na renda fixa. Mas é preciso ter uma história ao longo do tempo, com uma empresa crescendo 20% ao ano, recorrentemente, gerando caixa.
Gestão da Smart Fit
Sou um líder que sei que, do time inteiro, sou o mais incompetente. Reconheço minhas deficiências na hora de montar um time. E isso fui aprendendo ao longo do tempo, dando oportunidades em uma empresa que aprende criar, tendo interlocução. Meu papel é deixar a turma ter discussões estratégicas e não deixar eles esqueceram da cultura e das entregas. Você não pode acabar um dia sem ter se tornado um pouco melhor, sem ter aprendido alguma coisa.
Os erros de Edgard Corona
Os erros do passado e alguns que certamente acontecem hoje, me fizeram um empreendedor bem sucedido. Aqui tem um espaço para errar. Houve grandes erros que não faria de novo, mais bola para frente, não quero repetir. Fez parte do aprendizado, porque é impossível ter 100% de certeza na teoria. Já trabalhei em confecção e na usina da minha família. E, com certeza, errei em todos os lugares. Então, para mim, é importante mudar. Abro uma empresa, tento, e vamos para frente.
“Fiquei rico cobrando pouco”
Eu acho que sim: fiquei rico cobrando pouco. Tudo é uma disrupção. Fui mudando e mudando. Saí do Brasil para ver novos modelos, algo parecido com a Smart Fit e pensei: “Isso precisa ir para o Brasil’. E eu trouxe.
Engajamento da equipe na Smart Fit
Seu time precisa saber onde você quer chegar. Então precisa bater o NPS. Isso ajuda muito, porque você tem uma meta simples, mas que é uma somatória de tudo o que você precisa fazer para melhorar a vida do cliente. E fazer a diferença na vida de pessoas. Isso é um compromisso muito sério que você tem que ter.
O que é ter inteligência financeira?
Nunca perdi muito dinheiro, mas construí tudo devagarzinho, grão por grão. Para mim, ser conservador é importante em tudo. Ser conservador no caixa da empresa, no endividamento, e trabalhar com caixa alto. Porque há momentos de incertezas. Agora, ter moeda estável é importante no nosso negócio. É muito difícil por a inflação no preço.