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Cristina Palmaka, da SAP: maratonista que ama números, abraçou a inteligência artificial e estuda filosofia
Responsável pela América Latina e Caribe, ela comanda 5.000 pessoas e está atenta a 48.000 clientes
Cristina Palmaka fez fama em dois mundos distintos: no de negócios e no das corridas de rua. E nesta ordem. Cristina é formada em Ciências Contábeis pela FAAP, tem mais de 30 anos de experiência, trabalhou na HP e na Microsoft. Atualmente, ela é presidente da SAP para América Latina e Caribe. Corre 21km em 1h38min e fechou a maratona de Nova York de 2022 em 3h55min – são 42km mais 195m correndo sem parar.
E esses 195m são importantes. Por quê? Porque Cristina Palmaka é atenta aos detalhes. E é isso o que chama a atenção em sua liderança. Ela assumiu a presidência da SAP Brasil em 2013 e lá ficou até 2020. Então, naquele ano, ela assumiu a presidência da companhia para América Latina e Caribe. Além disso, Cristina é membro do conselho da Arcos Dourados (holding do McDonald’s) e da Eurofarma. Já foi vice-presidente da HP e foi executiva da Philips. Cristina comanda uma equipe com 5.000 pessoas e está atenta a 48.000 clientes.
Assim, você pode ver nossa conversa com Cristina Palmaka de duas maneiras: clicando no vídeo ou lendo os principais trechos da entrevista que ela concedeu ao Visão de Líder, na sede da SAP, em São Paulo.
O mercado de tecnologia melhorou bastante. Então, é um orgulho enorme ver que o Brasil está exportando talentos em tecnologia. Isso me me enche de orgulho e é uma baita responsabilidade. Temos executivas ocupando lugares importantes na empresa, como Adriana Aroulho, que é presidente da SAP no Brasil. Quando eu cheguei, não tinha muitas líderes para a gente se inspirar. Mas eu tenho um orgulho enorme. Ela participou do processo da minha sucessão e está colocando o Brasil em outro nível, em outro patamar de inovação, de conhecimento.
E, apesar de sermos duas mulheres, a gente tem característica e perspectivas diferentes, o que é muito bacana. E, adicionalmente, na região a gente tem mais outras três líderes mulheres: uma que comanda a região Sul, outra na região Norte e outra que está no México. Então, hoje as quatro presidentes das minhas regionais são mulheres, Todas diferentes, cada uma com seu estilo.
O mercado de tecnologia hoje tem mais ou menos 12% de mulheres na América Latina. A gente tem 38%, sendo muitas em cargos de liderança. E a gente tem a ambição de chegar em meio a meio.
Mas a gente vai além no gênero, olhamos para a interseccionalidade, inclusão racial, inclusão de pessoas com necessidades especiais. E o tema de autismo é muito forte para a gente. A gente tem mais de 50 autistas na região. A inovação vem dessas pessoas, que já nasceram digitalmente num ou outro nível de conhecimento.
Eu brinco dizendo que a diversidade dá muito trabalho, porque quando você está num ambiente onde todo mundo pensa igual, é muito fácil. Só que a visão fica muito limitada das possibilidades. Então, se abrir para diferentes grupos é importante e fundamental. É a diversidade de pensamentos, de experiência, de visões. Porque em vez de você olhar uma parte muito concentrada, a tua visão, o espectro de possibilidades aumenta muito. E estando em inovação, onde as oportunidades são infinitas, a gente vai falar de tecnologia, vai falar de inteligência artificial.
As possibilidades são múltiplas, mas se você só tem uma visão, todo mundo olhando para o mesmo lado, você vai limitar as suas oportunidades. Então, quando você traz perspectivas diferentes, eu falo que toma tempo, porque você tem que genuinamente escutar a pessoa, ouvir a outra percepção, aprender, e então tem que estar com a cabeça aberta para isso. Então traz inovação, faz um ambiente acho que mais leve, traz uma nova forma.
De repente, a gente também está falando sobre inteligência artificial. E por quê? Para a gente é muito importante olhar onde a gente está inserido no tema de inteligência artificial. A gente vai usar a inteligência artificial para melhorar os processos de negócio nossos, dos nossos clientes e dos nossos parceiros. A inteligência artificial vai tornar as empresas mais produtivas, mais eficientes. Você pode fazer a automatização de processos, consolidação de contas.
Então todos estudem e façam suas faculdades, mas tenha um certo número de competências que agora são muito valorizadas, que a gente chama, que somos as firmas que usam principalmente no tema, por exemplo, de solução de problemas. A tecnologia é muito bacana, ela evoluiu muito, mas eu brinco que a tecnologia em si não tem nenhum valor, apesar de eu estar numa empresa de tecnologia, porque o que faz a diferença é como você entende o problema, que problema você quer resolver e usar adequadamente a tecnologia?
Toda grande mudança tecnológica traz outras possibilidades de profissões, de empregos, de trabalho e talvez algumas vão desaparecer. Tudo o que é muito repetitivo, que depende muito dessa atenção para erros. A gente tem clientes nossos que fazem a partir de consolidação de processos de dados. A máquina faz muito, uma forma muito mais eficiente. A gente tem casos onde tem ganho de tempo, reduz o desperdício, porque aí a máquina, as nossas soluções podem fazer uma forma mais eficiente.
O mundo do esporte é muito bacana. Eu escolhi correr, mas acho que qualquer esporte tem alguns componentes que são muito bacanas para a vida e também para a vida corporativa. Acho que o primeiro é a disciplina. Você tem que ter disciplina, horário, alimentação. Quando você está preparado para uma maratona, você tem que fazer todos os seus treinos, tem que estar preparado, mesmo eu não sendo da elite da corrida. Mas você quer fazer bem.
A disciplina é muito importante. Você tem que estar preparado física e mentalmente para eventos e reuniões. E para mim, esse equilíbrio é fundamental em tudo o que eu faço. A corrida é minha terapia, porque me dá uma possibilidade de balancear as coisas que são importantes. Então eu coloco as coisas na agenda. E, apesar de parecer solitário, assim como o líder, eu discordo. Mas para mim, tanto a liderança como a corrida, que parecem solitários, tem um trabalho em equipe gigante. Para eu liderar uma organização, tem um monte de gente incrível que está fazendo a sua parte, que está me ajudando, que está me ajudando a ser melhor, que são muito melhores que eu. Na corrida também: tem o meu nutricionista, meu treinador, meu marido, toda a família.
Eu sou uma pessoa que adora números. Fiz contabilidade, e, para mim, a utilização de dados, informações e números para tomada de decisão estruturada é fundamental. Mesmo com a inteligência financeira, a gente não pode ignorar a sensibilidade e a intuição. Então, para mim, a inteligência financeira tem um pouco das duas coisas: a parte hard dos dados e números, mas também na parte soft da intuição. Eu acho que isso que faz com que a inteligência financeira se materialize.
Quero ter tempo para aprender muito mais. Então, agora eu estou focando nos temas dos filósofos gregos, como Sêneca. Então, agora estou aprendendo uma coisa que eu deveria ter aprendido quando era mais nova. Talvez eu tivesse tido uma vida um pouquinho mais suave. Mas nunca é tarde. Eu acho que sempre é bacana aprender.
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