Babu Santana: ‘Nunca soube o que era investir. Quando ganhei o BBB, comecei a estudar essa parada’

Cantor, ator e empresário, Babu Santana fala sobre sua relação com o dinheiro

O ator, cantor e empresário Babu Santana, ex-participante do Big Brother Brasil (BBB), tem uma daquelas histórias tão fantásticas que nem parecem ser realidade. Cria do morro do Vidigal, no Rio de Janeiro, ascendeu e se consolidou como um dos atores mais proeminentes do Brasil. Babu se destacou em obras do cinema nacional, como Cidade de Deus, Batismo de Sangue e Mundo Cão. Porém, sua interpretação mais reconhecida é de Tim Maia, no filme biográfico do cantor.

Contudo, Babu foi o vencedor do prêmio Grande Otelo, o maior da dramaturgia brasileira, duas vezes. Hoje, é o dono do selo musical Paizão Records, dedicado à cena trap, funk e rap dos jovens da periferia. O empreendedor fala sobre sua vida após o Big Brother Brasil, negócios, arte e muito mais. Acompanhe:

O que houve na sua vida depois do BBB20?

Eu nunca tinha parado para pensar nem nunca me inscrevi. Quando recebi o convite, pensei: “será que aceito?”. A vida não estava muito boa e 2019 não foi um ano muito bom para cultura. Estava sem patrocínio, sem trabalho e, como tenho três filhos, a questão financeira falou mais alto. Aí eu pensei: “que mal tem? Vou ganhar esse cachê…”.

Você achou que fosse ganhar o BBB, Babu?

Nunca pensei que fosse ganhar o prêmio. Não tenho o perfil de Big Brother. Na pior das hipóteses, vou ficar uma semana pegando uma piscininha de graça. Lembro que quando conversei com a Manu Gavassi e com o Pyong Lee, fiquei assombrado: “Eu deixei 300 e poucos vídeos”, disseram. Para quê? Para quem? Eu era totalmente low profile, comecei a usar o Instagram só para não perder minhas fotos. Tanto é que as minhas primeiras postagens não tinham nem legenda.

Então, percebi que se eu achava que tinha poucas chances, não teria nenhuma. E foi aí que eu percebi que queria o prêmio, para provar algumas coisas. Para minha surpresa, quase 100 dias depois, descobri que o Brasil tinha abraçado essa minha correria, e isso me deixou muito emocionado.

Foi engraçado quando falei com a dona Rosa [a proprietária do imóvel que Babu aluga]. Ela me disse: Babu, você disse que está me devendo dois meses mas, na verdade, são três. E, aí, eu me liguei da minha realidade. Aos poucos apareceu um novela e outra, lives, fui fechando contratos, e a vida, de fato, mudou.

Babu, como é sua relação com o dinheiro?

Um dos filmes que eu fiz, chamado “Meu nome não é Jhonny”, tem uma cena que achei muito interessante. O Jhonny está conversando com um traficante internacional que, ao pagá-lo, diz: “você está ganhando bem, hein? Minha meta é juntar US$ 1 milhão”. E o Jhonny responde: “minha meta é gastar US$ 1 milhão”.

Quase tatuei essa frase porque era algo ficcional demais. Porém, nunca consegui guardar dinheiro. Achava um absurdo. Tinha uma tia super regrada e antenada, que investia em Bolsa e tudo. E, aí, num dia, ela pareceu com um telefone, na época que um telefone custava o preço de um carro popular. Então, ela sempre foi uma mulher para frente. E ela me dizia: “você precisa guardar dinheiro”! Como, se faltava?

Qual era sua estratégia?

Eu tinha uma técnica: se neste mês eu atrasasse a conta de luz, no mês seguinte eu acertava tudo e atrasava a água. Assim, eu era ótimo nessa administração de orçamento. Antes do BBB, nunca me sobrou dinheiro. Uma vez me questionaram se não ganhei muito dinheiro com o Tim Maia. Não! Gente, no cinema brasileiro, nem o ator mais consagrado conseguiria ficar rico só atuando. Cinema é uma arte cara e penosa, e 96% das sala brasileiras passam filmes estrangeiros. É um mercado que não tem muito espaço dentro do próprio País. Quem trabalha com arte e cultura no Brasil está fadado a lidar com esses orçamentos pequenos.

O que paga melhor?

A televisão e a publicidade remuneram melhor. Mas, também, é um mercado cruel. Você tem que estar dentro dos padrões, e há muito pouco tempo tem se visto pessoas pretas e corpos gordos na publicidade. Meus amigos catalãos diziam que a publicidade do Brasil parecia com a do Canadá: pessoas brancas, magras e jovens.

Então, eu nunca soube o que era poder investir, já que eu tirava de um mês para poder suprir o outro. Quando ganhei o BBB, comecei a estudar essa parada. Mas eu tenho uma visão comunitária. Quando peguei a primeira grana bacana, aluguei uma casa de 400m e coloquei toda a minha equipe lá, e a equipe era formada, basicamente, de amigos meus. Empreguei todos eles e fui muito criticado. Mas meu primeiro investimento foi nas pessoas. No meu filho, na minha filha e na educação deles.

Você fala de dinheiro com seus filhos?

Eles têm uma mesada e onde moramos é muito difícil se deslocar de transporte público. E eu dou o dinheiro para eles e eles precisam administra-lo. Tento trazer essa conscientização, porque, até pouco tempo atrás, eles também viviam a realidade da dureza financeira.

O pensamento é nunca andar para trás. Mas, como artista, estamos sempre na corda bamba. Então eu prefiro saber sempre como me virar. A grande vantagem é que eu sei viver com R$ 10 por semana. Hoje eu tenho uma condição melhor, e estou aprendendo a lidar com isso também.