Por que os brasileiros estão cada vez mais endividados?

Veja dicas do que fazer para não ter contas em atraso

Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF
Ilustração: Marcelo Andreguetti/IF

A inadimplência e o endividamento das famílias devem continuar em alta no curto prazo, nas palavras da economista Izis Ferreira, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Ela fez a observação ao comentar os patamares recordes de endividamento e de inadimplência, que constam da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), anunciada nesta segunda-feira.

Na prática, a inflação, mesmo menos pressionada ante o observado no segundo trimestre desse ano, ainda deve continuar em nível elevado e, com isso, a diminuir a folga para novas compras no orçamento das famílias. Ao mesmo tempo, a possibilidade de beneficiários do Auxílio Brasil contratarem crédito consignado, aprovada pelo governo recentemente, influencia na continuidade da elevação de endividamento.

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Ao comentar os dados, a técnica ressaltou que a pesquisa em julho mostra um orçamento das famílias já muito apertado pelas dívidas. A fatia comprometida com empréstimos (30,4%) atingiu pelo terceiro mês consecutivo maior patamar em mais de quatro anos na Peic. É o percentual mais alto desde novembro de 2017 (30,6%).

Ao mesmo tempo, acrescentou ela, a parcela dos chamados “superendividados”, aqueles com mais da metade do orçamento comprometido com empréstimos, continua a operar em patamar expressivo. “Do total de endividados, 21,9% tem mais da metade da renda comprometida com dívidas”, afirmou. Embora seja menor do que a de junho (22,2%) ainda assim não é tão distante para a máxima para esse dado, de 26,5% em dezembro de 2015.

A especialista observou que, em seu entendimento, as pessoas estão usando crédito para compor orçamento familiar – e, como a inflação ainda deve operar em patamar expressivo nos próximos meses, essa estratégia entre as famílias deve continuar. “O crédito deve continuar sustentando o consumo ao longo dos próximos meses embora se espere desaceleração da inflação no segundo semestre”, resumiu.

Outro aspecto mencionado por ela é a opção de tirar empréstimo consignado aos participantes do programa Auxílio Brasil. Ela explicou que, além de estimular o endividamento, também pode elevar inadimplência de forma indireta. As pessoas com direito ao auxílio do governo, em muitas ocasiões, não terão educação financeira necessária para entender sobre limite de adesão em empréstimo, em seu orçamento. “O consignado é ‘certo’ [sem risco de inadimplência] mas por falta de espaço no orçamento o consumidor pode deixar de pagar outras dívidas”, explicou ela.

Todo esse contexto faz com que a especialista projete continuidade em altas nas parcelas de endividados e de inadimplentes na Peic, não descartando outros recordes na pesquisa. “Acho que devemos ter nível bastante alto de endividamento e de inadimplência nos próximos meses”, resumiu.

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