Por que os grandes bancos ainda não entraram no novo consignado privado?

Por enquanto, a oferta de crédito está concentrada em instituições menores

A demanda pelo novo consignado privado, que estreou na última sexta-feira, surpreendeu o setor bancário. As simulações — quando o usuário insere seus dados e o empréstimo pretendido no aplicativo da carteira digital (CTPS) e obtém dados prévios — somavam 52,5 milhões na noite desta segunda.

Já as propostas efetivamente solicitadas aos bancos superaram 6,1 milhões, ultrapassando R$ 50 bilhões em demanda. Os contratos fechados passaram de 22,5 mil, segundo o Ministério do Trabalho e Emprego.

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    Os volumes dão uma ideia do tamanho da procura. Hoje, o estoque de consignado privado no país é de cerca de R$ 40 bilhões. No entanto, é possível que a linha ainda demore para decolar. Por enquanto, a oferta está concentrada em instituições menores.

    Levantamento feito pelo JP Morgan mostra que as instituições mais ativas nesses primeiros dias foram Agibank e Parati. Dos grandes bancos, só a Caixa figura na lista.

    Fontes da indústria apontam que as maiores instituições têm sistemas mais demorados para atualizar, e estariam esperando para ver como serão os primeiros meses, para depois entrar com mais força. Quando o consignado original foi criado, em 2003, também foram os bancos médios e financeiras que testaram as águas primeiro, com os grandes só entrando depois.

    A financeira Parati pertencia à Americanas e foi comprada pela MeuTudo no ano passado. O CEO da fintech, Marcio Feitoza, diz que os primeiros dias têm sido tumultuados, com problemas no sistema da DataPrev, como margens consignáveis erradas, entre outros. Segundo ele, a empresa já fechou 60 mil contratos, mas teve de parar de operar a linha porque a DataPrev estava demorando para fazer a averbação.

    “Estamos nos preparando há meses e desenvolvemos diversas travas para não acontecer de dar um empréstimo que supere a margem consignável. Estamos trabalhando com prazos bem menores do que a lei permite, mas sendo competitivos em taxas”, afirma. Segundo ele, faz muito sentido para quem está pagando quase 7% de juro ao mês migrar para o consignado, com uma taxa média de 3%, 4%. “Essas taxas vão cair mais nos próximos meses, quando os sistemas estiverem funcionando direitinho.”

    No Agibank, o CEO, Glauber Corrêa, diz que a prontidão tecnológica, combinada à experiência que o banco digital já tem no consignado, permitiu que fosse protagonista no lançamento da operação. “Todas as camadas de tecnologia e atendimento estão sendo naturalmente pressionadas pela demanda. No entanto, graças à nossa capacidade de escala, estamos conseguindo dar vazão a esse fluxo e organizando a entrada para melhor atender os clientes. Monitoramos continuamente os fluxos para identificar e mitigar eventuais gargalos, mantendo a experiência do cliente como prioridade.”

    Fernando Perrelli, sócio e CEO da Byx Capital, fintech que atua em consignado, diz acreditar que os grandes bancos só entrarão mais fortemente a partir de 25 de abril, quando poderão ofertar a linha nos seus aplicativos. “Eles vão trabalhar dentro da base de clientes que já têm, mandar ‘push’ dentro do app. Devem ofertar a troca de uma linha mais cara por outra mais barata, ampliando prazo e dando limite adicional”, opina.

    Procurada, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) não se manifestou. Já a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) apontou que o número de simulações não representa o total de clientes interessados, já que uma pessoa pode fazer várias simulações. No entanto, lembrou que o número de pessoas fazendo consultas é “um sinal claro do grande interesse do público-alvo”.

    O executivo de um banco de médio porte diz que tem acompanhado o desenrolar do produto, mas aguarda a implementação de algumas melhorias. “Não está claro como será a reaverbação em caso de troca de emprego, a questão da retenção, como lidar com eventuais apropriações indébitas. Tem muita movimentação, mas pouca contratação de fato. O mercado vai ficar testando a água para ver preço, se tem espaço”, diz. Outro alto executivo vai na mesma linha. “O produto atraiu muita atenção. Resolvendo alguns problemas operacionais, vai crescer bem.”

    O CEO de outro banco médio diz que a demanda surpreendeu, mas que ainda está testando as engrenagens operacionais do produto e os riscos associados. “A demanda veio muito forte, mas não significa que vai ter proposta dos bancos para tudo isso. Tem casos em que o banco retorna um limite menor que o desejado e tem clientes que ficarão de fora por risco de crédito. Então, temos de ver esse volume de simulações com essa lente.”

    No levantamento, os analistas do JPMorgan fizeram simulações com seis perfis de usuários. Eles apontaram que as taxas ficaram entre 2,99% e 4,99%, que as ofertas muitas vezes vieram diferentes do solicitado pelos usuários e que a experiência de uso no app da CTPS não foi tão boa. “Acreditamos que o consignado privado vai começar devagar e só deve ganhar tração após 25 de abril, quando os bancos poderão ofertar nos seus próprios aplicativos.”

    Os analistas também notaram que Inter e Nubank, que têm sido vocais na oferta de consignado, não apareceram nas simulações feitas pelo JP, assim como outros grandes bancos além da Caixa.

    O representante de uma fintech diz ainda que os grandes bancos podem não ter tanto interesse em ofertar o novo consignado privado porque canibalizaria clientes que já têm empréstimo pessoal, onde os juros são maiores. “Acho que vai ser uma linha bastante disputada, de margens apertadas.”

    Heverton Peixoto, CEO da Omni, diz que chegou a estudar o produto, mas decidiu não ofertá-lo. “Trabalhamos com as classes C, D e , mas é um público de empreendedores, não de CLT. Acho que o governo poderia ter trabalhado em uma engenharia melhor dessa linha. Talvez só permitir, em um primeiro momento, para quem quer tomar para pagar uma dívida mais cara. Caso contrário, corre-se o risco de isso estimular o consumo e a inflação.”

    A Jeitto, que no mês passado comprou a fintech Pilla, operadora do consignado privado tradicional, diz que começou a testar a nova funcionalidade em pequena escala e a partir de abril vai liberar mais propostas, de forma gradual. “Apesar da forte demanda inicial, o número de propostas aprovadas e contratos firmados ainda é baixo. Isso se deve ao momento inicial de adaptação, tanto por parte dos trabalhadores quanto das instituições, além de ajustes técnicos e operacionais ainda em andamento”, diz o CEO, Fernando Silva.

    Amilcar Chaves, da Matera — que oferece software para diversas instituições que trabalham com consignado — lembra que, para o empregador que antes não oferecia esse benefício ao trabalhador, vai existir uma obrigação na sua folha de pagamento que antes ele não tinha. “Para as instituições financeiras vai demandar uma adequação tecnológica e inteligência de análise de crédito para ter a melhor oferta, diante da concorrência que vai existir”, diz.

    *Com informações do Valor Econômico

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