O que Palmirinha poderia ter feito em vida para evitar briga por herança entre as filhas?

Consultamos o processo para entender o que motivou a briga; advogado explica a origem da confusão e as lições que você pode tirar dessa história

Vovó carismática que alegrou as tardes da TV brasileira por anos, Palmirinha Onofre morreu em maio de 2023, aos 91 anos. De acordo a família, Palmirinha morreu vítima de problemas renais crônicos. Passados oito meses do falecimento da apresentadora, suas três filhas travam uma briga judicial pela herança.

Nesta terça-feira (30), as partes voltaram a pedir para que o processo passe a ocorrer em sigilo de justiça. No início do processo, a juíza Cláudia Bevilacqua Vieira havia recusado um pedido semelhante. Não há prazo para uma resposta.

A disputa judicial opõe as herdeiras mais velhas, Tania Rosa e Nanci Balan, contra a mais nova, Sandra Bucci, que é a inventariante do processo. Nessa função, coube a Sandra fazer as “primeiras declarações”, que é a apresentação inicial do patrimônio.

Não se sabe qual o valor exato do patrimônio de Palmirinha. No entanto, de acordo com reportagem do portal UOL, a disputa inclui movimentações financeiras que, somadas, ultrapassam o valor de R$ 5 milhões.

Conforme consultado no processo pela Inteligência Financeira, as irmãs contestaram a declaração da caçula, especialmente em dois pontos: o faturamento apontado para a empresa de Palmirinha e os empréstimos que a mãe teria feito, em vida, para Sandra.

Mas como evitar esse tipo de problema? A reportagem ouviu o advogado Issei Yuki Júnior, especialista em direito de família, que explicou o que faltou no caso de Palmirinha para que a coisa transcorresse sem essa ruidosa disputa judicial.

O que Palmirinha poderia ter feito em vida para evitar disputa?

De acordo com o especialista, o principal ponto é que a culinarista e apresentadora poderia ter deixado um testamento, informando o seu desejo para o destino dos seus bens. Ou, então, já ter constituído uma holding familiar, o que facilita a sucessão após o óbito.

“A autora da herança poderia ter feito testamento, lembrando que, os bens que o compõem tem que respeitar o direito sucessório, respeitando os herdeiros necessários, que tem direito a parte legitimada herança; ou ainda utilizado de uma holding familiar, que facilita o planejamento sucessório e fiscal”, afirma.

Pela lei brasileira, é possível destinar livremente até 50% do patrimônio para quem se desejar. Por outro lado, ao menos 50% são para os herdeiros necessários que o advogado mencionou, os filhos e os cônjuges com comunhão de bens. Da mesma forma, na holding familiar, uma empresa administra o patrimônio. Assim, quando uma das pessoas morre, não é preciso fazer a transmissão dos bens, uma vez que o patrimônio é da empresa, da qual todos são sócios.

Empréstimos às filhas

Outro ponto sensível no caso de Palmirinha diz respeito aos empréstimos que a mãe teria feito às filhas. As irmãs mais velhas afirmam que Sandra recebeu um empréstimo de R$ 1,5 milhão de Palmirinha para a compra de um apartamento, de acordo com reportagem da revista Veja São Paulo. Segundo a matéria, Sandra alega que o valor real é de R$ 300 mil e que já pagou, em transferências de R$ 165 mil para cada uma das irmãs.

O advogado Issei Yuki Júnior explica que os empréstimos feitos pela falecida são considerados adiantamento de herança e devem ser objeto de colação por parte das herdeiras. Ou seja, a herança deve ter o desconto desses valores. Caso a apresentadora tivesse formalizado os empréstimos ou doações e listado isso em testamento, a resolução do conflito entre as filhas estaria melhor endereçada.

Situação atual da herança de Palmirinha

A juíza Claudia Bevilacqua Vieira determinou que Sandra informe os valores que Palmirinha emprestou às filhas, mas disse que a Vara de Família não é a correta para discutir se a saúde financeira da empresa está nos conformes ou se há alguma irregularidade.

“No presente inventário apenas poderá ocorrer a partilha de quotas da sociedade pertencente à falecida (e não os valores representativos”), escreveu a magistrada em sua decisão. Portanto, as discussões sobre a empresa terão que ocorrer em uma ação própria para tal.

Nos últimos meses, as disputas se acirraram. De acordo com a Veja SP, a herdeira Tania protocolou em 13 de dezembro um pedido para excluir a irmã do inventário, por supostamente ter sonegado a herança. Ela pediu a condenação de Sandra por litigância de má fé e por supostamente não ter pago os impostos sobre os empréstimos.

Ao portal UOL, Sandra afirma vai se manifestar apenas nos autos do processo. “O que eu posso antecipar é que estou muito tranquila. Tudo foi feito exatamente como a mamãe queria. Tudo vai ser esclarecido”, afirmou a herdeira à reportagem do site.