Como falar sobre dinheiro com as crianças?

Um pequeno guia de como conversar com as crianças sobre dinheiro

Hoje, dia 12 de outubro, comemoramos o Dia das Crianças e nada mais justo que a minha coluna seja uma homenagem a estes seres humanos que serão o futuro do mundo. Aliás, falando em futuro, sempre é bom lembrar que a forma como falamos de dinheiro para as crianças vai impactar o adulto lá na frente. Portanto, isso significa ter a chance de construir um futuro melhor para nossos filhos, pois, dinheiro é um dos maiores assuntos tabus do Brasil.

E é pelo hábito de não falar de dinheiro que o assunto se tornou um tabu. Então, isso acabou se tornando um problema na vida de muitas pessoas.

Mudança de mentalidade

Uma pesquisa recente divulgada pela Serasa demonstra a mudança de mentalidade da geração atual de pais. Para você ter ideia, 56% dos pais nunca conversaram com seus próprios pais a respeito de finanças. Indo à fundo neste dado, é possível verificar que o percentual é maior entre as mulheres (65% mulheres e 48% homens).

Se formos analisar por classe social, 64% das pessoas pertencentes as classes D e E nunca ouviram falar de finanças quando criança. Este dado, particularmente, me deixa com o coração quentinho. O motivo? 8 em cada 10 pais dizem que falam com seus filhos sobre dinheiro. O assunto aparece quando é necessário dizer ao filho que algo é muito caro.

A mudança de mentalidade é positiva pois, na minha visão, o fim de um tabu começa quando começamos a falar sobre o assunto. Contudo, é preciso cuidado na abordagem para que as informações não tenham crenças limitantes.

Para a construção de uma relação saudável com o dinheiro, é essencial ser objetivo e direto, falando de forma correta que leve a criança a entender, de fato, o que é caro e o que é barato.

Então, não tenha receio de falar sobre dinheiro com seus filhos desde pequenos; não há uma idade certa para iniciar as conversas. Dinheiro faz parte do nosso dia a dia e deve ser abordado de forma natural e leve.

Comportamento é exemplo

Desde 2020 o Ministério da Educação (MEC) determina que educação financeira faça parte do currículo escolar. Na prática, o percentual de escolas que oferecem a disciplina é baixo e é quase uma exclusividade das escolas particulares.

Mas tem um detalhe que precisamos considerar: ainda que a resolução fosse cumprida, seria necessário a compreensão dos papéis de escola e família.

Para a escola cabe a tarefa de estruturar o conhecimento de maneira ordenada, oferecendo o chamado letramento financeiro.

Já dentro de casa é quando a criança verá a prática, visto que educação financeira não é somente sobre números e sim sobre comportamentos e escolhas. Neste caso, a observação dos hábitos financeiros dos pais é que tende a ter um peso maior sobre os filhos.

Hábitos comuns como a forma de usar recursos como água, energia elétrica, evitar desperdícios, fazer lista de supermercado, pesquisar preços e hábitos de consumo e investimento vão influenciar na construção da visão da criança sobre dinheiro. Também mexe com a relação que futuramente ela terá com suas finanças.

5 passos para falar sobre dinheiro com as crianças

Vale relembrar que não há um momento exato e nem receita pronta para falar de dinheiro com as crianças, mas quero compartilhar com você, minha leitora, meu leitor, algumas dicas que costumo aplicar com Joana, minha filha:

  1. Dinheiro é meio e não fim: faça diferente e transmita a seus filhos a ideia de que dinheiro é um meio e não um fim e que faz parte de nossa vida, independentemente de classe social. Dê a eles a visão de objetivos de curto, médio e longo prazos. Obviamente, use exemplos que levem em consideração a maturidade deles;
  2. Dinheiro não é apenas número: não basta apenas dizer que está caro ou barato. É necessário considerar a realidade social em que se vive, pois o que é caro para uns é barato para outros. Além disso, as crianças tendem a pensar apenas quantitativamente sem ter a noção da diferença entre quantidade, preço e valor. Explique para as crianças como um tênis de R$ 100 pode ser barato e um pacote de balas por R$ 100 pode ser caro. Pois para uma criança de 6 ou 7 anos se no pacote vem 50 balas e o tênis é somente um par, a lógica seria que o pacote de bala seja barato e o tênis caro;
  3. Mostre as diferentes formas de dinheiro: em um mundo em que não é preciso ter dinheiro físico para consumir, é essencial que desde muito cedo você mostre para as crianças que o dinheiro tem várias formas. Assim como o papel (cédula) e a moeda são dinheiro, o cartão de crédito de plástico, o cartão virtual e o PIX também são dinheiro;
  4. Use a mesada a seu favor: a mesada ou semanada deve ser uma ferramenta de aprendizagem e educação. Para definir formato e valor, leve em consideração a maturidade da criança. Ela vai errar muitas vezes. Vai gastar toda a mesada e depois chorar porque queria comprar outra coisa. É essencial que você não ceda e assi, demonstre a importância de ter objetivos e poupança por exemplo;
  5. Deixe um legado: encare que falar sobre dinheiro com seu filho é ter a  oportunidade de fazer diferente e que abordar o tema é uma forma de estar construindo o futuro dele, pensando e zelando por seu filho. Pois, por vezes não percebemos que a criança de hoje será o adulto de amanhã e a relação com o dinheiro que você passará a ele será determinante para o sucesso que ele terá na vida.

Por fim, é importante demais passar aos nossos pequenos a ideia de que “o dinheiro serve para nos servir e nunca o contrário”!

Até a próxima coluna!