Inflação dos shows: por que os ingressos ficaram mais caros no Brasil?
Vale a pena pagar quanto para assistir a um show do seu ídolo? O valor máximo vai do sonho e do bolso de cada um, mas quanto custa o ingresso? Com o pós-pandemia, shows estão sendo anunciados em sequência no Brasil para este ano e o desafio para fazer caber todas essas entradas ocupa a cabeça dos fãs brasileiros.
Além de ter muitos shows para pouco dinheiro, os fãs reclamam de pagar mais pelas apresentações. De acordo com profissionais de mercado ouvidos pela Inteligência Financeira de fato houve um aumento dos preços nos últimos anos, atribuído ao encarecimento dos custos de produção das apresentações.
Nesta semana, Paul McCartney anunciou seu retorno ao Brasil. O tíquete mais caro em São Paulo, na pista premium, sai por R$ 990 a inteira, sem contar a taxa de conveniência. Os ingressos para o show do Paul McCartney, que estão sendo vendidos pela Eventim, estão disponíveis a partir de R$ 210, na meia-entrada da cadeira superior.
O caso Taylor Swift
Vamos analisar quanto custa o ingresso da Taylor Swift, por exemplo. Em 2019, a cantora anunciou para o ano seguinte um show que não se confirmou em razão da pandemia. Naquele momento, para a pista, setor que reúne a maior parte do público, foram oferecidas duas opções, um ingresso a R$ 450 e a pista premium a R$ 850.
Neste ano, a cantora voltou a marcar shows no país, mas desta vez ofertando apenas a pista premium, a um valor de R$ 1.050 a inteira. Isso desconsiderada a taxa de conveniência, um acréscimo de cerca de 15% no valor do ingresso ao final da compra.
Portanto, para ficar no principal espaço da apresentação no Allianz Parque, o custo mínimo saltou 133%, de R$ 450 para R$ 1.050. A variação apenas de premium versus premium ficou em linha com uma correção pelo IPCA, que levaria os R$ 850 para R$ 1.081.
Outros setores também subiram, Um dos espaços mais visados de shows no estádio do Palmeiras, a cadeira inferior foi de R$ 500 em 2019 para R$ 750 em 2023. Portanto, um salto de 50%. Corrigido pelo IPCA acumulado de 27,26% o novo valor seria de R$ 636. Os cálculos foram feitos na Calculadora do Cidadão, do Banco Central.
Por que os ingressos estão mais caros?
Para entender o que se passa com esse mercado, a Inteligência Financeira ouviu Paulo Baron, presidente da Top Link Music e promotor de shows; e André Matalon, sócio da Music On Events, que já trabalhou com apresentações de artistas como Beyoncé, Katy Perry e Ed Sheeran.
Os especialistas citam algumas razões que podem ajudar a explicar a alta no preço dos ingressos:
- A valorização do dólar. Nos shows internacionais, o cachê se tornou o maior custo para os produtores. No entanto, mesmo nas apresentações de artistas nacionais, a alta da moeda americana também impacta o transporte aéreo.
- O preço dos combustíveis, que encarece os custos com logística e geração de energia. Os custos com estruturas para palco e iluminação também aumentaram, segundo os promotores.
- Cachês inflacionados no pós-pandemia. De acordo com André Matalon, a disputa dos produtores pelas atrações nos últimos meses fez com que negociações tenham sido fechadas a valores mais altos do que eram praticados.
- A popularização da meia-entrada. Regulamentada em 2013, a regra garante uma oferta de ingressos pela metade do preço a estudantes e outras categorias. Os produtores devem reservar 40% do total de ingressos para essa modalidade. Eles alegam, no entanto, a falta de contrapartidas do setor público para custear o desconto.
André Matalon receia que esse cenário de contratos fechados a cachês mais altos somado à finitude do bolso do público pode resultar em problemas para o setor em breve.
“Depois da pandemia, os promotores estão acelerando para ofertar seus shows e isso é um pouco perigoso. Com essa competição acirrada, os ingressos estão ficando caros”, diz o empresário. “Estou preocupado de ter tanta oferta, porque no final do dia as pessoas não vão ter dinheiro para tudo.”
Festivais também estão mais caros
Paulo Baron afirma que o aumento dos custos com infraestrutura explica o surgimento de mais festivais. “Quanto mais artistas de uma vez, o público aceita pagar um pouco mais e você atrai mais pessoas de uma vez. Justamente para conseguir custear a estrutura”, diz.
Festivais estão se multiplicando no país, mas também estão entre as atrações que ficaram mais caras. O Lollapalooza Brasil, que em 2019 cobrava R$ 1.800 no ingresso para os três dias, abriu a edição de 2023 para a venda geral cobrando pouco mais de R$ 2.500. Com a taxa de conveniência, o total da inteira ia a R$ 3.024.
Citada como vilã, a meia-entrada também começa a ser driblada por organizadores. O Primavera Sound São Paulo, que acontece em dezembro, calcula a meia de R$ 675 com base em uma inteira de R$ 1.350. No entanto, esse valor maior só existe caso o comprador se recuse a fazer uma doação de R$ 25, o que abaixa o valor da inteira para R$ 810 sem que a meia caia para o equivalente, de R$ 405.
Para André Matalon, uma dificuldade dos grandes festivais é a falta de opções de locação. “O único lugar em São Paulo que você consegue colocar mais de 50 mil pessoas em um palco é Interlagos. No Anhembi, você consegue no máximo 35 mil em um palco, enquanto no Jockey o custo com piso é alto e a vizinhança barra os eventos”, diz.
‘VIP do VIP’
Para além do encarecimento dos ingressos em si, é cada vez mais frequente a criação de espaços mais VIPs que a pista premium e pacotes especiais. No caso do show da Taylor Swift, por exemplo, pacotes que vão de R$ 1.250 a R$ 2.250 oferecem acesso antecipado ao Allianz Parque, além de brindes.
O grupo NX Zero, que faz turnê especial após anos de pausa, vende o ingresso inteiro para a pista VIP do show em São Paulo a R$ 390, mas há a opção Hot Sound por R$ 640 que dá direito a “um lugar exclusivo em frente ao palco”. O pacote mais completo, com foto com os artistas, sai por até R$ 1.380.
“Os artistas precisam ganhar cada vez mais com shows para suprir a falta do dinheiro das gravadoras. Hoje, são os artistas que precisam custear muitas coisas dos seus álbuns com o próprio bolso, da gravação até o impulsionamento nas redes sociais, então eles incluem essas experiências diferenciadas para poderem pagar por isso”, diz Paulo Baron.
André Matalon diz que as experiências precisam ter em mente não prejudicar quem não pode comprá-las. “Estão criando o VIP do VIP e eu não vejo isso com bons olhos. Entrar antes pode ser uma boa, mas um novo setor não. Você acaba prejudicando a pista, que comporta muita gente que vai sair insatisfeita”, alerta.
Quanto custa o ingresso dos principais artistas?
Quanto custa o show do Gusttavo Lima
Para falar de artistas nacionais, peguemos o exemplo do cantor sertanejo, tido como um dos maiores cachês do país. De acordo com apuração da Folha de S.Paulo com profissionais da indústria, o Embaixador cobra R$ 1 milhão para fazer uma apresentação.
No aplicativo da produtora Balada Music, de Gusttavo Lima, o ingresso para um show do cantor varia bastante. O artista é muito contratado para apresentações custeadas por associações agropecuárias e prefeituras país afora, que oferecem as apresentações a custos módicos.
Quem quiser assistir à apresentação do sertanejo na Agropec, em Paragominas (PA), paga apenas R$ 100 na pista e R$ 300 na área vip. Já a próxima apresentação individual dele, em Chapecó (SC) no dia 29, tem ingressos a partir de R$ 100 até mesas para grupos, que chegam a custar R$ 4.000.
Ele ainda fará mais três apresentações da série Buteco, com convidados. A apresentação em agosto em São Paulo está esgotada. No entanto, há ingressos para os shows em Porto Alegre por até R$ 420 e em Salvador por até R$ 900.
Quanto custa o show do Coldplay
O grupo liderado por Chris Martin é habitué do Brasil e, na sua última passagem, fez uma série de apresentações em São Paulo. Em 2016, a banda cobrava R$ 680 por um lugar na pista premium. Neste ano, o mesmo setor custou R$ 980 a inteira de cada ingresso.
Os shows do Coldplay no Estádio do Morumbi tiveram ainda ingressos vendidos por R$ 750 na cadeira inferior, por R$ 590 na pista e por R$ 490 na cadeira superior. Foram 6 shows em São Paulo, 3 no Rio de Janeiro e 2 em Curitiba.
Quanto custa o ingresso do show do RBD
O RBD volta a fazer shows após 15 anos em 2023. O grupo mexicano vem ao Brasil em novembro com o ingresso mais caro em R$ 850, na inteira da pista premium. Há quinze anos, a apresentação do grupo na Via Funchal tinha ingressos de até R$ 500.
Comparativamente, até barateou. O preço cobrado em 2008 era cerca de 120% do salário mínimo praticado então, de R$ 415. Já o preço de R$ 850 é cerca de 64% do atual piso salarial de R$ 1.320 mensais.
Esgotados, os ingressos pro show do RBD em São Paulo custavam ainda R$ 420 na cadeira superior, R$ 480 na pista e R$ 560 na cadeira inferior, com a opção de meia-entrada.
Quanto custa o show da Beyoncé
De acordo com o jornalista especializado José Norberto Flesch, Beyoncé fará shows no Brasil em 2024. No entanto, até o momento é só isso que se sabe. A cantora não confirmou oficialmente as apresentações nem divulgou datas ou preços de ingressos.
Na última vez que se apresentou em São Paulo, em 2013, Beyoncé vendeu ingressos que iam de R$ 180 a R$ 630. Na mesma oportunidade, a cantora foi a atração principal de uma das noites do Rock in Rio.
Quanto custa o ingresso do show do Guns N’ Roses
O Brasil ficou de fora da turnê de 2023 da banda de rock, mas eles vieram ao país no ano passado. O tíquete mais caro saía por R$ 950, sendo que em 2016 o valor máximo cobrado era de R$ 780, ambos os ingressos sendo inteiras para a pista premium.
O show do Guns em São Paulo em 2022 também teve ingressos a R$ 650 na cadeira nível 1, a R$ 380 na cadeira nível 2 e a R$ 480 na pista comum.
Quanto custa o ingresso do show do Rod Stewart
O cantor britânico Rod Stewart faz show no Brasil em setembro. Ele se apresenta no estádio Allianz Parque, em São Paulo, em uma noite de shows que também terá a apresentação de Ivete Sangalo.
Há ingressos disponíveis apenas para a cadeira nível 1 lateral, que sai por R$ 720 a inteira, e para a cadeira nível 1 central, vendida a R$ 600. Os demais setores, que iam de R$ 160 a R$ 1.100, já estão esgotados.
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