Mulheres mais poderosas e ricas: como isso mexe com a economia, segundo o Bank of America

Impactos serão profundos no mundo dos investimentos, mas também em setores como produtos infantis, esportes e joias, diz estudo

Com as mulheres assumindo uma porção maior da riqueza global as indústrias precisam se adaptar.

Essa é conclusão do Bank of America num relatório desta semana.

Com elas superando os homens nas matrículas universitárias, escalando na hierarquia das empresas, ou herdando parte de patrimônios familiares, adiando a gravidez e tendo menos filhos, elas mudam o jogo de forças em setores inteiros da economia.

As autoras do levantamento estimam que a riqueza das mulheres atingiu US$ 93 biliões no final de 2023, aumento de US$ 16 bilhões em três anos, com destaque para Estados Unidos e Ásia.

Isso só não foi maior porque mais de 40 países ainda não têm leis sucessórias equitativas, a maioria deles de geografias de renda média ou baixa.

Investidoras + conservadoras

Como em geral têm renda menor, mas vivem mais, as mulheres mostram menor tolerância a riscos, preferindo proteger o capital.

Além disso, aponta o estudo, dois terços das mulheres que já investem relataram tentar identificar e investir em empresas que reflitam os seus próprios valores.

Consequentemente, uma pesquisa nos Estados Unidos detectou que 70% das entrevistadas relataram ter mudado de consultor financeiro um ano depois de ficarem viúvas.

“Ou seja: a abordagem distinta das mulheres ao investimento significa oportunidade”, afirmaram as autoras do estudo, Dimple Gosai e Kay Hope.

Economia prateada

O BofaA também analisou setores que podem ser impactados por um maior poder de compra feminino.

Uma tendência que, segundo as autoras, merece atenção, é o de mulheres com idades na faixa de 50 a 70 anos.

Elas estimaram que esse público, hoje de 1,4 bilhão no mundo, subirá para 2,1 bilhões até 2050, um aumento de aproximadamente 47% em relação a hoje.

“Mulheres atualmente nessa faixa de idade têm mais dinheiro, independência e oportunidades do que as gerações anteriores. E as mulheres que vierem depois delas provavelmente terão ainda mais”, diz o estudo.

Mulheres: mudanças profundas

Para as autoras do estudo, a maior transferência de riquezas terá como consequência a aceleração de algumas indústrias, enquanto outras perderão força.

Para dar uma dimensão disso, tomemos como referência dados sobre maternidade. Até 1965, uma mulher média dava à luz mais de cinco filhos. Hoje esse índice médio é de 2,3 filhos.

Porém, mais de 90 países caíram abaixo da taxa de substituição de 2,1. E a taxa continua caindo.

Menos crianças significa menos gastos com fórmulas infantis, mamadeiras, fraldas, brinquedos, cadeirinhas de carro.

“Empresas de mercados desenvolvidos que operam nestes setores podem já sentir a pressão, procurar um nicho de mercado ou ganhar espaço de concorrentes”, afirma o BofA, citando que isso já é um assunto em mercados como China, Brasil e Estados Unidos.

Em contrapartida, negócios ligados a cuidados de saúde, comércio eletrônico e logística (ligados a compras online), além de serviços domésticos, devem ganhar força.

Isso é verdade também para mercados menos óbvios.

O banco estima que a receita gerada pelos esportes de elite femininos ultrapasse US$ 1 bilhão em 2024 pela primeira vez.

Em outros mercados, parte das transformações é intuitiva. Outras, nem tanto.

É o caso da indústria de joias.

“As mulheres de hoje não estão esperando para receber joias finas como presente de um parceiro; cada vez mais, elas próprios compram”, afirma o documento.

O De Beers 2023 Insight Report apontou que 31% das mulheres norte-americanas que compraram joias com diamantes em 2020 o fizeram para si mesmas.

O número foi de 33% na China (contra 25% em 2019) e de 24% na Índia (21% em 2019).

A fabricante Pandora relata que as pesquisas na internet por “presentes para mim” aumentaram 400% desde 2017, e que quase 90% dos entrevistados da Geração Z dão presentes para si mesmos.