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Economia americana e ambiente para investimentos
O ambiente para investimentos depende de diversos fatores, locais e internacionais, e, em particular, da postura de política monetária nos EUA, que tem o maior e mais profundo mercado financeiro do mundo, seja de renda fixa ou variável, bem como os ativos mais líquidos, os títulos do Tesouro americano. A postura do Fed (o banco central) não é o único determinante das condições financeiras globais, mas é, no curto prazo, o mais importante.
Desde março de 2022, o Fed vem elevando a taxa de política monetária, que saiu de zero para a vizinhança de 5,4%. Além disso, o Fed tem revertido a expansão quantitativa, o programa massivo de compra de ativos implementado durante a pandemia, deixando vencer US$ 95 bilhões de títulos por mês. Com essas iniciativas, O FOMC (o Copom do Fed) vem procurando realizar algo que muitos bancos centrais tentam, e nem sempre conseguem, qual seja desinflacionar a economia sem ocasionar uma recessão – antes da crise de 2008, os períodos de crescimento nos EUA eram costumeiramente abortados pelo aperto da política monetária.
Sinalização do Fed
Recentemente o Fed vem sinalizando que o ciclo de aperto estaria próximo do final. Contudo, a sinalização não é unânime. Lá, como cá, há uma divisão entre membros do comitê mais ou menos tranquilos a respeito das perspectivas inflacionárias. E o desempate dependerá da evolução dos dados mais relevantes, sobre a inflação e a atividade econômica.
A inflação vem caindo, liderada pelos itens mais voláteis, mas também com uma modesta acomodação das pressões sobre preços de serviços – a variação do índice de preços ao consumidor recuou de um máximo de 9,1%, em junho de 2022, para 3,2% na última divulgação, enquanto a inflação de bens (núcleo) saiu de 12,3% para 0,8%, e o núcleo de serviços de 7,3% para 6,1%. A inflação da mão de obra também cedeu um pouco, de 7,4% para 5,3%.
Atividade econômica
Já a atividade econômica, impulsionada por um mercado de trabalho resiliente, e também pelo uso de parte da poupança acumulada na pandemia para sustentar o consumo, dá sinais que pode evitar uma recessão – a propósito, os economistas do Fed, que previam tal desenvolvimento para esse ano, mudaram de ideia. Recentemente os economistas do Itaú revisaram a projeção de crescimento para a economia americana esse ano de 1,7% para 2,1%.
Esse contexto, de iminente parada no ciclo de aperto monetário, pode sugerir um aumento na exposição à renda variável nos EUA. Mas há motivos para cautela. O aperto monetário pode estar terminando, mas não existem condições, aparentemente, para iniciar uma flexibilização tão cedo – provavelmente não antes do segundo semestre de 2024. Nesse meio tempo, os efeitos defasados e cumulativos do aperto monetário vão seguir se materializando. A situação do setor bancário, especificamente o segmento regional, não é plenamente confortável, e os portfolios de empréstimos ao setor imobiliário corporativo têm se mostrado problemáticos. Além disso, a recente perda de valor dos títulos públicos de duração mais longa, associada aos problemas fiscais vividos pelos EUA, também tende a impactar o balanço dos bancos.
Dado esse pano de fundo, parece prematuro pensar em uma migração rápida da renda fixa para a renda variável, em especial no que se refere a ações de companhias mais dependentes do ciclo econômico. Casos específicos de sucesso, sejam setores ou ações individuais, podem fazer sentido, mas a maré ainda não está levantando todos os barcos.
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