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Será que ainda vale a pena comprar um carro?
Apesar da popularização do trabalho remoto (e suas possibilidades de home office ou de anywhere office), o deslocamento ainda é parte fundamental das nossas preocupações. Mesmo que o seu trabalho permita que você trabalhe de qualquer lugar do mundo, outros aspectos da vida, como lazer, família e serviços, vão requerer um certa mobilidade.
Por isso, o papel do carro nas ruas tem sido ressignificado. Com a expansão das malhas de transporte público nas cidades médias e grandes, e o surgimento dos aplicativos de mobilidade particular, comprar um carro próprio deixou de ser um sonho ou, mesmo, uma obrigação para muitas pessoas.
Segundo Rogério Brandão, planejador financeiro da Serafin, o automóvel tem, de fato, perdido espaço de importância entre os desejos de consumo da sociedade. Mas ainda existem situações em que sua posse é transformada em produtos de serviço de mobilidade, em vez de um bem ou um patrimônio. Por isso, sua compra precisa de planejamento.
O parcelamento de um carro deve ocupar, no máximo, 30% do orçamento de uma pessoa ou de uma família. “Até aí, é o que nós chamamos de dívida saudável. Mais do que 30% vai começar a comprometer seus outros gastos e obrigações”, explica.
Afinal, ter um carro sai caro?
“Os preços subiram durante a pandemia. Um carro popular que valia R$ 40 mil antes disso hoje pode ser encontrado por algo na faixa de R$ 65 mil”, descreve Carlos Castro, sócio fundador da SuperRico. Ele conta que a elevação dos preços decorre de um desabastecimento na cadeia global automobilística.
O evento em questão é a crise dos semicondutores, que são componentes importantes de muitos produtos que dependem de tecnologia. Com o início da pandemia e o resfriamento da produção de automóveis, outros bens como computadores e televisores passaram a ser privilegiados, em detrimento dos componentes que integrariam os carros.
“Os juros estão muito caros, é verdade. Via de regra, este não é o momento de financiar nada, muito menos um carro, que tem uma taxa de desvalorização muito alta”, diz. Mas Castro ressalta que todas as escolhas financeiras devem levar em conta necessidades e comodidades práticas. Inclusive na hora de comprar um carro.
Mais do que preços
Pessoas que se deslocam muito por automóvel – próprio, alugado ou por aplicativo de viagem – devem fazer as contas dos seus gastos de mobilidade. “Se você sai pouco de casa ou se o transporte público da região é bom, não tem porque você comprar ou alugar um carro do ponto de vista financeiro”, diz Castro.
Os gastos com seguro, manutenção e a depreciação do veículo precisam valer a pena em relação aos gastos com combustível – que traduz o uso do carro. Castro aconselha que a compra de um carro se compense: “os gastos precisam se pagar para valer a pena, senão você estará perdendo dinheiro”.
Mas, caso a mobilidade urbana seja lenta ou ineficaz, e as viagens sejam necessárias, um carro passa a fazer sentido. “Se você gasta todo dia com passagem de ônibus, metrô ou trem que demora e tá sempre lotado, faz todo o sentido se planejar para ter um carro. Agora, se você não precisa de um carro para suas obrigações e quer ter mesmo assim, é um direito seu também – mas é preciso saber que o carro vai se tornar um passivo”.
Comprar um carro ainda vale a pena?
Para a consultora financeira Dina Prates muitos fatores sociais interferem na tomada de decisão e na avaliação de custos e benefícios de um automóvel. Ela exemplifica com sua história: acostumada a voltar tarde para casa após a jornada de trabalho, ela tinha de conviver com as inseguranças do transporte público e com os trechos solitários a pé. Em dado momento, percebeu que a mobilidade particular poderia ser a porta de saída para estes riscos.
“Os automóveis podem trazer um processo de independência e autonomia para mulheres”, afirma. Assim, outros fatores além do gênero, como composição familiar e tempo de deslocamento entre as regiões de habitação e trabalho devem entrar na conta.
O carro também pode ser uma fonte de renda – principal ou paralela -, ela argumenta. Afinal, as possibilidades são muitas: desde o trabalho de motorista para aplicativos de transporte até o serviço de entrega de comércios.
Mas, para além do trabalho, um veículo próprio pode significar incrementos na qualidade de vida como um todo. “Aos fins de semana, é comum que as frotas de ônibus sejam reduzidas”, diz Dina. O maior intervalo, nestes casos, gera um impacto negativo no bem-estar, uma vez que as esperas podem se estender por horas.
Por isso, também é importante avaliar o automóvel como um facilitador do dia a dia, e não só como uma ferramenta de deslocamento para o trabalho ou patrimônio. A consultora afirma que dimensões da vida como economia de tempo e acesso ao lazer não podem ser ignoradas no desenho de objetivos financeiros – como a compra de um carro.
Reportagem de: Guilherme Naldis
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