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A virtude está no meio: o que o planejamento financeiro nos ensina sobre equilíbrio
In medio virtus ou in medio virtus est é uma frase que ouvi muitas vezes durante a minha infância e que merece uma explicação, pois, frequentemente, é mal interpretada. Para muitos, chega a parecer uma alusão à mediocridade. Já cheguei, inclusive, a ouvi-la como desculpa para não fazer as coisas bem-feitas.
A frase, que significa “A virtude está no meio”, na verdade, é sobre equilíbrio, evitar erros e encontrar a circunstância na qual, ao não exagerar, chegamos a um ponto ótimo. Explico.
É claro que a gula não é uma virtude. Pelo contrário, é um vício. Podemos dizer que a virtude está no meio, num equilíbrio no qual a alimentação serve ao nosso corpo e nos permite ter energias para conseguir fazer aquilo que é necessário enquanto desfrutamos do prazer da mesa.
Já a perdularidade (a gastança excessiva) tampouco é uma virtude. Por outro lado, como dizia a minha querida avó Laura (que Deus a tenha), querer guardar dinheiro a todo custo também não é uma qualidade. Aliás, isso também tem nome: avareza. Aqui, a virtude, novamente, está no meio. Ou seja, nem a gastança nem a avareza.
Onde está a virtude no planejamento financeiro?
Sempre pensei no planejamento financeiro como uma ferramenta para que as pessoas consigam equilibrar, da melhor forma possível, o presente com o futuro.
Isto é, guardar recursos para compras de bens ou para o momento em que pararem de trabalhar, mas sem deixar de aproveitar coisas boas e belas da vida. Afinal, a vida passa e há momentos que não voltam.
Planejamento não é sobre não gastar. É sobre saber com “o que” e “quando” gastar e, também, saber construir sensações de segurança e de liberdade, que são sentimentos que o dinheiro pode trazer.
No fim das contas, dinheiro é para ser usado. O tolo o desperdiça, o insensato não o aproveita e o sábio… esse sim sabe equilibrar, compreendendo totalmente a frase in medio virtus. O planejamento financeiro é, no fim das contas, o conjunto de ideias e técnicas que ajudam as pessoas nessa caminhada pela trilha do equilíbrio.
O meu grande amigo Jurandir Macedo, da Universidade Federal de Santa Catarina, costuma dizer que só existem dois erros graves que podem ser cometidos nas finanças pessoais: o primeiro é poupar muito e viver pouco e o segundo é poupar pouco e demorar para morrer.
Lamentavelmente, a variável que permite otimizar de forma cartesiana o ritmo com que cada um deve guardar dinheiro é o tempo de vida, sobre o qual não temos nenhuma ingerência.
Gosto quando o poeta Vinicius de Moraes diz que a vida é a arte do encontro, mas tenho certeza de que para este fim nobre ele me permitiria fazer uma pequena alteração, dizendo o seguinte: “a vida também é a arte de encontrar o equilíbrio”. In medio virtus.
Por Martin Iglesias, colunista íon e planejador financeiro CFP®, especialista líder em investimentos e alocação de ativos do Itaú Unibanco. Artigo originalmente publicado na coluna ‘Crônicas do Professor’, no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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