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Marcação a Mercado: a renda fixa sob um novo olhar
A renda fixa é a preferência nacional e isso não é bem uma novidade. No entanto, ao longo das últimas décadas, a relação entre o brasileiro e seus investimentos tem evoluído e, como em todo processo de desenvolvimento, em certos momentos é importante entender bem o caminho antes de seguir em frente.
Após o sucesso do Tesouro Direto, das debêntures incentivadas e de tantas outras inovações que surgiram no universo da renda Fixa no Brasil, desta vez, a evolução não está em um novo produto de investimento. Trata-se da regra da marcação a mercado, que em janeiro passou a valer para títulos públicos, debêntures, CRIs e CRAs.
A marcação a mercado altera a forma como enxergamos os nossos investimentos em títulos de renda fixa. E é ainda um importante passo em direção a mais transparência.
Mas afinal, o que é marcação a mercado?
De forma direta, marcar a mercado um ativo é simplesmente o ato de precificá-lo de acordo com o valor que o mercado atribui a ele naquele momento. Já imaginou caso o governo aprovasse uma lei ordenando que aquela parte de bens do seu Imposto de Renda fosse atualizada diariamente?
Façamos alguns paralelos com outros itens do nosso dia a dia, por exemplo, a precificação dos veículos. Todo dia, alguma entidade (como a Fipe) faria cotações de preços de todas as marcas e modelos de veículos e definiria o preço do seu carro de acordo com a oferta média de compra recebida por um automóvel com as mesmas características naquele dia.
E para a sua casa? Você se sentiria confortável caso dissessem que seu apartamento, em um determinado dia, valia metade do que você pagou por ele há menos de seis meses, mesmo que você não tenha interesse algum em se mudar dali? Se sentiria mais rico caso ele fosse mais bem avaliado no dia seguinte?
É provável que a preocupação seja uma palavra que venha à cabeça ao imaginar essas situações. No entanto, já é algo comum aos gestores de fundos de investimentos e mesmo a você, caso tenha tido alguma experiência no Tesouro Direto ou na Bolsa de Valores, com fundos imobiliários e ações.
Você analisa uma empresa, lê relatórios, conversa com especialistas e decide por comprar ações de determinada companhia. Espera, neste caso, que dentro de alguns anos ela terá um grande crescimento e, por consequência, seu preço reflita toda essa jornada, lhe gerando bons lucros. Contudo, no dia seguinte, questões alheias à empresa e às suas premissas podem fazer com que suas ações se valorizem ou mesmo apresentem queda no preço.
Isso é mostrado a você pela sua corretora, como variação no seu patrimônio, mesmo que você tenha passado o dia inteiro na praia sem fazer nenhuma alteração em sua carteira de investimentos. Esta será a realidade também no mercado de Renda Fixa, porém com uma diferença: caso mantenha o seu título até o vencimento, o retorno continuará sendo igual ao contratado.
A marcação a mercado é uma evolução
Pelo método de marcação na curva, anteriormente vigente, o preço correspondia ao valor de aquisição do título atualizado diariamente pela taxa contratada no momento da compra, sem relação com o mercado secundário.
Como você pode já ter começado a refletir nos últimos parágrafos, atribuir valor a um ativo pode envolver um elevado grau de subjetividade –e eu te entendo se ainda acredita que a marcação na curva é a metodologia mais adequada para os seus investimentos.
Como pai de dois filhos, também tendo a resistir às explicações técnicas da pediatra ressaltando a importância da febre como manifestação de alguma enfermidade. Sem este sinal do corpo não saberíamos quando procurar ajuda e, possivelmente, teríamos de lidar com problemas ainda mais sérios à frente. É difícil, no entanto, ver o lado positivo das coisas quando os pequenos estão suando frio com temperatura acima dos 39 graus.
O mercado secundário, assim como a oscilação da temperatura corpórea, serve para nos emitir sinais. Em certos momentos, um banho morno e uma dose de paciência são o melhor a se fazer, em outros uma intervenção é necessária. Todavia, o termômetro é ferramenta necessária para direcionamento em ambos os casos e, no mundo dos investimentos, é a marcação a mercado que faz este papel.
Daqui para frente, tenha bem estabelecidos os seus objetivos financeiros para conseguir utilizar da melhor forma possível este termômetro. Bons investimentos!
*Por Lucas Queiroz, CNPI, Analista do Itaú BBA e colunista íon. Texto originalmente publicado na coluna “Ideia Fixa”, no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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