2 conceitos que fazem você desistir de investir (e você nem percebe)
Estamos no começo do ano e este momento é sempre igual: muitas pessoas fizeram suas promessas de Ano-Novo e alguns já começam a deixá-las para trás. Outros serão perseverantes por semanas, meses e, quem sabe, até o fim do ano.
A verdade nua e crua é que com grande frequência as pessoas desistem no meio do caminho. Desistir ou perseverar tem a ver com disciplina, persistência e autocontrole, que são assuntos que pegam diretamente no mundo dos investimentos.
Um dos mais famosos testes sobre autocontrole foi desenhado pelo psicólogo austríaco Walter Mischel e é conhecido como o marshmallow test (Teste do Marshmallow). Nesse teste, numa sala isolada, era oferecido a uma criança um marshmallow e era explicado que, se ela conseguisse esperar até a volta da pessoa que conduzia o experimento, receberia um segundo marshmallow.
O tempo que a criança teria que esperar até a volta da pessoa não era determinado, embora, por motivos óbvios, não passasse de alguns minutos. Mesmo assim, muitas crianças tinham dificuldade de resistir à tentação de comer o marshmallow imediatamente.
O interessante é que Mischel acompanhou as crianças do teste por décadas e concluiu que aquelas crianças que tiveram autocontrole e conseguiram se dar bem no teste acabaram apresentando várias características positivas ao longo da vida.
Tiveram melhores notas na escola, o que acabou levando a melhores empregos e a um nível de renda mais elevado. Também tiveram relações de amizade ou de amor mais estáveis e duráveis e, principalmente, se declaravam mais felizes.
Já aqueles que não passaram no teste se saíram exatamente ao contrário nesses pontos e, além disso, demonstraram, com maior frequência, envolvimento com criminalidade e drogas. Pois é, disciplina traz diversos pontos positivos para a vida.
Disciplina tem a ver com bons hábitos de alimentação, atividade física e boa relação com dinheiro. Ou seja, conseguir controlar os impulsos pelos gastos, organizar-se financeiramente e acumular recursos ao longo da vida.
As finanças comportamentais estudam dois conceitos que estão intimamente ligados à ideia de autocontrole.
1) Viés de presente
O viés de presente é aquela tendência que nós, em geral, temos de preferir uma pequena compensação hoje em detrimento a um grande benefício no futuro. Nosso cérebro está desenhado para procurar essas compensações. É difícil não resistir às tentações de curto prazo.
Por isso é fácil consumir alimentos não tão saudáveis, embora agradáveis ao paladar, em detrimento de uma alimentação mais saudável. Por isso, também é difícil se exercitar e ceder à preguiça ou ao sedentarismo. Por isso, as pessoas passam pela vida sem acumular volumes de dinheiro suficiente, principalmente para viver a aposentadoria.
As finanças comportamentais dividem as pessoas em relação ao viés do presente em 2 grupos: os sofisticados e os ingénuos.
Os sofisticados são aqueles que sabem do seu problema de autocontrole e buscam mecanismos para se protegerem.
É a pessoa que deixa o despertador longe da cama para ter que se levantar para desligá-lo e não acordar a família toda. É o sujeito que sabe que tem vontade de comer doces e, portanto, não os compra no mercado e, assim, não os tem em casa de forma acessível.
É a pessoa que programa suas aplicações para o dia em que recebe o dinheiro no fim do mês e dessa forma acaba investindo sem sequer contar com aqueles recursos.
Já os ingênuos são aqueles que têm uma crença infundada na sua força de vontade futura. É o sujeito que sempre pensa em mudar seus hábitos alimentares, mas nunca começa ou rapidamente desiste. É aquele que pensa que este ano vai se organizar financeiramente, mas já começa o mês de janeiro ou fevereiro com gastos excessivos.
2) Inversão de preferências
A inversão de preferências é aquilo que passa pela nossa mente e nos faz mudar de opinião. É como a força que nos faz desistir dos planos de Ano-Novo, que nós tanto desejávamos. É aquilo que faz com que a pessoa que tinha se programado para correr cedo pela manhã mude de opinião e se entrega mais alguns minutos de descanso.
É aquilo que faz com que não consigamos guardar o volume de recursos que tínhamos planejado quando recebemos o nosso 13º. É como se eu desejasse uma coisa e a minha vontade mudasse. E lembre-se: conseguir guardar é o primeiro passo.
O mercado de investimentos apresenta oportunidades muito interessantes em diversas classes de ativos. A renda fixa está com juros bastante elevados, a bolsa está bastante descontada, mas de nada adianta que essas oportunidades existam se não temos capacidade de guardar recursos para serem aplicados no mercado.
Por Martin Iglesias, CFP e colunista íon. Artigo originalmente publicado na coluna ‘Sinapses’, no Feed de Notícias do íon Itaú. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.
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