Com o baque no mercado de renda variável nos últimos dias, muitos investidores podem pensar em concentrar seus recursos na renda fixa. O ciclo de alta da Selic, a taxa básica de juros, contribui para a atratividade de títulos públicos e de crédito privado. O foco está em construir uma defesa contra a inflação e o mau humor do mercado com o fiscal brasileiro.
“Depois da corrida para a Bolsa com taxas de juros menores, vemos novamente uma migração para a renda fixa com o ciclo mais propício para isso”, analisa Marcelo Mello, vice-presidente de Investimentos, Vida e Previdência da SulAmérica. As dicas de Mello e outros especialistas em renda fixa estão em títulos curtos e que acompanham a taxa básica de juros.
LFTs
Para o VP da SulAmérica, o melhor instrumento hoje em renda fixa são as Letras Financeiras do Tesouro Direto (LFTs). Quem escolhe esse investimento está, na prática, emprestando dinheiro para o governo, que devolve a grana com juros no vencimento estipulado.
As LTFs estão atreladas à Selic, a taxa básica de juros, o que significa que se a Selic sobe, a rentabilidade do seu investimento também sobe. Como o Banco Central está promovendo a alta dos juros para controlar a inflação, a taxa está em curva de alta. Segundo o Boletim Focus, o mercado financeiro espera uma Selic a 8,75% ao ano em 2022. Hoje, a taxa está em 6,25%. A notícia é boa para o dinheiro que está em LTFs, já que sua rentabilidade vai crescer.
O instrumento é indicado para reservas de emergência e alocações de curto prazo. As Letras têm um prêmio pré-fixado (Selic + 1%, por exemplo), mas se você precisar resgatar o dinheiro antes da hora terá apenas a rentabilidade corrigida pela Selic e vende o título pela precificação no mercado secundário.
CDBs
Para o pequeno investidor, a opção ideal de Michael Viriato, fundador da Casa do Investidor, de agentes autônomos de investimento, são os CDBs. “É quase sem risco para quem investe menos de R$ 250 mil, já que está coberto pela garantia do FGC”, explica. Nessa modalidade, o investidor empresta dinheiro ao banco, que devolve o investimento corrigido por uma taxa de 110% a 150% do CDI, que anda muito perto da taxa Selic. É uma boa para quem quer surfar a onda da alta dos juros.
Outra vantagem é que esses títulos não são marcados a mercado. Eles têm marcação na curva, o que significa que se o investidor precisar vender o título antes do vencimento, ele terá uma remuneração que cresce diariamente e não depende do valor que o mercado está colocando para o ativo naquele momento. Durante um cenário instável como o que vivemos, a marcação a mercado pode ser muito arriscada.
Felipe Lima, gestor na FL Asset, acompanha Viriato e também recomenda o investimento em CDBs, mesmo de bancos pequenos. “O setor financeiro é resiliente, historicamente falando”, explica, quando fala sobre o risco de calotes.
Debêntures
Segue a mesma lógica dos CDBs, mas, neste caso, o investidor empresta seu dinheiro a empresas. As debêntures também são atreladas ao CDI, na maioria das vezes, quando não são marcadas pela própria Selic. Para Felipe Lima, é uma opção para “ter a menor exposição possível”. Esses ativos costumam ter menor liquidez que os títulos públicos os CDBs e, portanto, são mais arriscados.
NTN-B
Para quem pode ou quer correr um pouco mais de risco em busca de mais rentabilidade, o VP da SulAmérica indica o investimento no Tesouro IPCA com juros semestrais (NTN-B). Nessa modalidade, o investidor empresta dinheiro para o governo em troca da correção do dinheiro pela inflação mais um prêmio no vencimento e juros semestrais, que dependem do título escolhido. É uma boa opção para quem não quer que seu dinheiro perca valor com a inflação voltando a assustar.
Marcelo Mello alerta, porém, que esses títulos têm volatilidade maior. Quem planeja tirar o dinheiro da aplicação antes do vencimento pode ter surpresas, dependendo da precificação do mercado. Hoje, o vencimento mais perto de um título do Tesouro IPCA com juros semestrais é em 15 de agosto de 2030.