Verde, de Stuhlberger, alerta para sinais de ‘crise de crédito’ na economia brasileira

Gestora destaca em carta mensal que 'os prêmios de risco dos ativos brasileiros seguem bastante altos'

Luis Stuhlberger, da Verde Asset — Foto: Silvia Costanti / Valor
Luis Stuhlberger, da Verde Asset — Foto: Silvia Costanti / Valor

O mercado brasileiro, em meio a um ambiente global mais complexo, segue focado no “barulho gerado pelo novo governo”, segundo escreve o time de gestão da Verde Asset, liderado por Luis Stuhlberger e Luiz Parreiras, em sua carta mensal aos investidores.

“Mesmo medidas corretas da perspectiva fiscal, como a reoneração dos combustíveis, conseguem ser acompanhadas de graus excessivos de ruído desnecessário e contraproducente, neste caso a taxação das exportações de petróleo e os reiterados ataques ao Banco Central”, afirma a Verde. “Há sinais de um incipiente ‘credit crunch’ [crise de crédito] atingindo a economia brasileira, cujo enfrentamento requer boas políticas públicas e não bravatas. Não por acaso os prêmios de risco dos ativos brasileiros seguem bastante altos”.

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Na comunicação aos cotistas, a gestora relata que o “tom construtivo dos mercados desenvolvidos em janeiro foi substituído por um choque de realidade em fevereiro, em que a economia americana mais uma vez surpreendeu, contra o consenso que ao fim do ano passado projetava entrar em recessão em pouco tempo, e deu mais sinais de pujança e mais resiliência do que outros países maduros”.

Dados de emprego, renda e consumo divulgados ao longo do mês superaram as expectativas, e levaram a uma importante mudança de percepção dos agentes financeiros. Se antes, o cenário vinha sendo pautado pela tese da desaceleração, desinflação, e um possível pivô do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) na direção dos cortes de juros — o que empurrou o dólar para baixo em relação a outras moedas, levou os índices de ações para cima e os spreads de crédito cederem —, fevereiro contou outra história. A moeda americana se fortaleceu, especialmente contra as divisas do G-10, as taxas de juros dos países desenvolvidos subiram e as bolsas devolveram “parte da exuberância do início do ano”.

Exemplo dessa movimentação é que as taxas futuras de juros para o fim de 2024 subiram “incríveis” 89 pontos básicos, de 3,12% para 4,01%.

Para a Verde, “a renovada alta de juros, combinada à pujança de curto prazo demonstrada pelas economias desenvolvidas — sem esquecer do processo de reaceleração da China —, ainda não foram devidamente refletidas em todos os ativos de risco”.

Desempenho e estratégia da gestora

Com esse pano de fundo, o fundo Verde fechou fevereiro praticamente no zero a zero, com ganho de 0,04%. No ano, acumula valorização de 2,78%, ante 2,05% do CDI.

A gestora descreve ter tido ganhos nas posições de renda fixa, com destaque para a parcela comprada em inflação implícita no Brasil, opções na curva de juros americanos de curto prazo, e uma nova posição comprada em implícita nos Estados Unidos. O livro de moedas apresentou resultados marginais na posição vendida em euro. Já as perdas vieram da exposição em ações no Brasil, e em em commodities, particularmente ouro, que devolveu no mês passado a valorização observada em janeiro.

O fundo manteve exposição na bolsa brasileira, e voltou a montar estratégias de hedge na bolsa americana. A posição comprada em inflação implícita no Brasil foi mantida, mas a casa zerou o risco tomado em juros na Europa. A Verde também iniciou posições tomadas em juros e compradas em inflação nos EUA. A gestão segue comprada em ouro e petróleo, mas encerrou a posição vendida no euro contra compra de real. As posições em crédito high yield global e crédito local foram mantidas.

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