Volatilidade e riscos da renda fixa: existem ativos que são quase renda variável?
Os riscos da renda fixa envolvidos podem fazer com que esse tipo de investimento seja considerado quase uma renda variável? Mas, afinal, há volatilidade nessa classe de ativos? As perguntas podem parecer esquisitas. Isso porque a renda fixa é conhecida como a família de investimentos mais segura e previsível do mercado. Mas será que a […]
Os riscos da renda fixa envolvidos podem fazer com que esse tipo de investimento seja considerado quase uma renda variável? Mas, afinal, há volatilidade nessa classe de ativos? As perguntas podem parecer esquisitas. Isso porque a renda fixa é conhecida como a família de investimentos mais segura e previsível do mercado. Mas será que a fama se justifica em todos os casos?
Nem sempre. Para entender o que acontece, ouvimos três especialistas. Eles são Anderson Miranda, head de distribuição da W1 Capital, Felipe Souto, CEO da Bloxs, e José Cassiolato, sócio da RGW Investimentos.
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Riscos da renda fixa: existem ativos que devemos encarar com uma espécie de renda variável?
Invariavelmente a resposta dos especialistas é positiva. Sim, existe volatilidade na renda fixa. Essa volatilidade e os riscos envolvidos podem, sim, fazer com que alguns de seus ativos sejam quase uma renda variável.
Prefixados e atrelados à inflação
Como exemplo de volatilidade na renda fixa, eles citam títulos prefixados e atrelados à inflação. Um deles é o Tesouro IPCA+. “No mercado secundário, seu preço pode oscilar bastante, principalmente com mudanças na taxa de juros”, explica Felipe.
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De acordo com Anderson, isso quer dizer, que se você tiver um título desse tipo, considerado previsível e seguro, mas tiver que vender antes da data de vencimento, pode sofrer com a chamada marcação a mercado, que é basicamente o preço que outros investidores topam pagar pelo ativo no momento da compra.
Debêntures incentivadas
Para Felipe, outro exemplo são as debêntures incentivadas. “Especialmente as de projetos de infraestrutura, que estão ligadas ao desempenho do emissor e podem sofrer bastante em períodos de incerteza econômica”, ressalta.
CRIs e CRAS
Na lista do CEO da Bloxs, também entram na lista de renda fixa que é quase variável os CRIs e CRAs, que são lastreados em recebíveis imobiliários e do agronegócio. “Eles dependem tanto do crédito do emissor quanto da performance dos contratos subjacentes”, explica ele.
Notas comerciais
E, para finalizar, ele inclui as notas comerciais, que, apesar de serem investimentos de curto prazo, podem ser afetadas por crises no setor ou no mercado como um todo. “Em resumo, o investidor individual está descobrindo que a renda fixa de fixa só tem o nome”, resume o especialista.
Quais são os principais riscos da renda fixa?
José afirma que duas características aproximam um ativo de renda fixa de um ativo de “renda variável”. Eles são duration e risco de crédito. “Os títulos longos e com alto risco de crédito sempre apresentaram um perfil de retorno volátil para os investidores”, diz ele.
Juros impactam longo prazo
E por que isso acontece? “Basicamente porque, com a taxa de juros aumentando, títulos novos oferecem taxas mais altas do que os títulos alocados dos clientes”, explica Anderson.
Isso faz com que a saída no mercado secundário, ou seja, a venda do título para outros investidores antes da data de vencimento, tenha que ser “mais barata” já que existem títulos melhores emitidos no mercado. Nesse sentido, cria volatilidade na renda fixa.
Em resumo, como explica Felipe, quando os juros sobem, como é o caso agora, o preço de títulos de renda fixa, principalmente os de longo prazo, cai. E o contrário também pode acontecer. Se os juros voltarem a cair, o preço dos títulos de renda fixa de longo prazo tende a subir. “Essa sempre foi uma característica desses ativos”, diz ele. “Mas fica mais evidente em momentos de instabilidade econômica”, ressalta Felipe.
Risco de crédito gera volatilidade na renda fixa
Em relação ao risco de crédito, Felipe explica que, se o emissor ou o setor no qual ele atua estiver com dificuldades, os preços podem cair bastante. “Isso acontece muito com debêntures, CRIs e CRAs, por exemplo”, diz ele.
“Além disso, a liquidez também pesa. Assim, em momentos de crise, fica mais difícil vender esses ativos no mercado secundário, o que pode levar a quedas nos preços” complementa o especialista.
Por fim, ele afirma que o mercado mudou bastante nos últimos anos. “Hoje, o investidor pessoa física participa muito mais ativamente do mercado secundário, e isso pode amplificar as oscilações, porque ele reage mais rapidamente às notícias e indicadores”, explica Felipe. De acordo com o especialistas, além das condições normais do mercado, o comportamento dos investidores (tanto dos que querem vender títulos antes do vencimento quanto dos que buscam esse tipo de título para compra) também tem seu papel na volatilidade.