América Latina: queda em título de renda fixa americana não reduz pressão sobre juros básicos na região
Considerado o ativo de renda fixa mais seguro do mundo, o T-Note de dez anos vem dragando a liquidez dos mercados
O Fed, banco central americano, adotou um tom mais ameno sobre novas altas de juros nesta quarta-feira (1). Com isso, o Treasury (T-Note) de 10 anos perdeu força, caindo imediatamente para 4,75% ao ano (a.a.), após ultrapassar a casa dos 5% a.a. dias antes. Mas qual o impacto desse movimento para a América Latina, região fortemente impactada pelo desempenho da renda fixa da maior economia do mundo?
Considerado o ativo de renda fixa mais seguro do mundo, o T-Note de dez anos vem dragando a liquidez dos mercados. Os investidores querem segurança e não há nada melhor do que deixar o dinheiro rendendo perto de 5% e com risco praticamente zero de calote.
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Mas um dos reflexos paralelos disso é que esses T-Notes de dez anos têm influenciado diretamente o ciclo de normalização monetário dos países emergentes, em especial na América Latina.
Países como Brasil, Chile, Colômbia e México, para ficar com as maiores economias da região atualmente, estão mais ou menos prontos para começar ou em alguns casos continuar cortando os juros de suas economias.
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Mas com a taxa de provento básico dos Estados Unidos na banda de 5,25% a 5,50% ao ano, ninguém quer reduzir o prêmio de seu pais, sob o risco de abrir uma avenida para a fuga de capital em direção aos Estados Unidos, com desvalorização de sua moeda.
Relatório da XP sobre América Latina
Relatório recentemente publicado pela XP, assinado pelo economista Francisco Nobre, aponta que o momento de juros altos dos EUA, principalmente o do T-Note de 10 anos, representa um risco para a inflação da América Latina, “podendo afetar o ciclo de flexibilização dos juros dos bancos centrais” da região.
“Os ciclos de flexibilização em andamento devem continuar, embora com cautela”, aponta o relatório. Países como Brasil, Chile, Uruguai e Peru já iniciaram seus ciclos de flexibilização e, segundo Francisco Nobre, é improvável que sejam interrompidos. “Ainda assim, a magnitude e a velocidade dos cortes podem ter se tornado mais limitadas, especialmente se a recente desvalorização das moedas forçar outra alta nas expectativas de inflação”, destaca o texto.
Moedas da América Latina estão mais vulneráveis
Na opinião dos especialistas, a alta mais recente nas taxas de longo prazo dos títulos do tesouro dos EUA forçou uma queda nos diferenciais de juros e tornou as moedas latino-americanas mais vulneráveis. Isso representa um risco para a inflação e adiciona pressão sobre a política monetária.
“Acho que o caso mais emblemático disso é o Chile”, destaca André Diniz, economista da gestora Kinea. “O Chile começou em julho a fazer um processo de normalização monetária. Começou de forma agressiva, cortando 100 pontos base (1%) na taxa de juros. E a repercussão disso foi que a moeda teve uma depreciação muito forte em muito pouco tempo”, diz.
O Chile iniciou o ano com juros básico de 11,25% ao ano e, atualmente, ele está em 9,50%. Segundo Diniz, o resultado dessa queda forte foi que o Banco Central do Chile começou a reduzir o ritmo de cortes nas reuniões subsequentes, culminando na semana passada em um corte de 50 pontos. “(Essa redução no ritmo) surpreendeu o mercado”, afirma.
O Brasil, por sua vez, começou cortando de 0,50 ponto percentual em 50 ponto percentual, como na decisão de ontem, a terceira consecutiva no mesmo patamar. “A repercussão para o Brasil desse processo de abertura de taxa de juros nos Estados Unidos foi que a taxa terminal foi reprecificada muito para cima. Então, a gente chegou a discutir uma taxa terminal do Brasil em torno de 8,5%, 9%. Hoje, a gente está falando de uma coisa mais próxima de 11% ao ano”, diz o economista da Kinea.
E, por fim, México e Colômbia ainda não conseguiram começar a cortar juros. O México, por ter uma economia muito interligada com a dos Estados Unidos, e por ter um banco central que usualmente se mexe muito parecido com o Fed, é o que terá maior dificuldade, na visão do economista da XP. A taxa de juros mexicana está estacionada em 11,25% ao ano.
A Colômbia, para o especialista da Kinea, com juros em 13,25% ao ano, também não tem perspectiva de iniciar o processo de normalização. “Hoje (ontem) teve uma reunião do Banco Central da Colômbia que continuou com a taxa de juros parada”, aponta.