Títulos de dívida soberana de países ricos sobem e podem impactar mercado de ações

Retorno dos títulos de dívidas soberana dos países ricos subiram em todo o mundo. Isso, além de pressionar o governo, afeta a renda variável

Traders acompanham o desempenho do mercado financeiro global. Foto: Yves Herman/Reuters
Traders acompanham o desempenho do mercado financeiro global. Foto: Yves Herman/Reuters

Os rendimentos dos títulos de dívidas soberana dos países mais ricos aumentaram em todo o mundo. E isso, além de pressionar governos endividados, como é o caso da Inglaterra, que vem sofrendo com o assunto nos últimos dias, pode afetar o mercado de renda variável mundo afora.

De novembro para cá, o Treasury com vencimento em dez anos, o mais líquido título de renda fixa dos Estados Unidos, subiu 0,6 ponto percentual (p.p.). Um bond soberano com mesmo prazo, emitido pela Inglaterra, subiu exatamente o mesmo.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

Mas, paralelamente, títulos do tesouro de outros países desenvolvidos subiram, num movimento nada convencional. Os bonds da Alemanha escalaram 0,50 pp. Os da Austrália, 0,2 p.p. E, por fim, até os títulos soberanos do comportado Japão subiram em sua ponta longa: 0,1 p.p.

Títulos de dívida têm altas conectadas

Para os bancos, como o JPMorgan, todas essas altas estão conectadas. Elas repercutem assim a escalada dos papeis dos Estados Unidos.

Últimas em Investir no Exterior

O mercado financeiro nesses países precifica a expectativa da economia para o segundo governo de Donald Trump, que começa no próximo dia 20. O mandatário ameaça esquentar a economia com tarifas e incentivos, o que serviria como combustível para a inflação. Isso sem contar na pressão adicional que esse movimento joga sobre o déficit fiscal dos Estados Unidos.

Ameaça aos bancos centrais

Na renda fixa, a dinâmica é inversa a da renda variável. Assim, sempre que um título de dívida sobe, o investidor já comprado no papel, perde.

Além disso, não é só o investidor que sente o impacto. A alta mundial dos títulos de renda fixa de longo prazo ameaça complicar os esforços dos bancos centrais que vêm cortando as taxas de juros de curto prazo.

Os cortes nas taxas visam, então, reduzir os custos de empréstimos para consumidores e empresas. Mas o aumento nos rendimentos está, em vez disso, tornando os empréstimos mais caros.

Reportagem do Wall Street Journal indica que a taxa média de hipotecas de 30 anos nos Estados Unidos subiu para 6,9% na semana passada.

EUA puxam a fila da alta dos títulos de dívida

Neste momento, a maioria dos analistas acredita que os EUA estão impulsionando a recente liquidação do mercado de títulos.

Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA, que vinham em queda em 2024, tiveram seu primeiro grande impulso em outubro com a divulgação de fortes dados mensais de empregos que dissiparam os temores de uma recessão iminente.

Então, Donald Trump venceu a eleição presidencial dos EUA prometendo políticas que muitos investidores acreditam ser inflacionárias, e autoridades do Federal Reserve mudaram suas previsões para menos cortes de taxas em 2025.

“Basicamente, é a eleição do Trump, a história da guerra de tarifas, a inflação dos Estados Unidos. Isso tudo diminui bastante o ritmo de corte de juros”, afirma Ian Caó, sócio e diretor de investimentos da Gama. A empresa conecta investidores brasileiros a gestores globais.

“Então, (houve) a abertura dos juros americanos, que são o benchmark do mundo inteiro. Você está vendo esse movimento refletido em tudo”, ele conta.

Pelo mundo

Os rendimentos das dívidas soberanas são determinados pelas expectativas dos investidores sobre quais taxas de juros de curto prazo serão as médias ao longo da vida de um título.

Os rendimentos da Treasury, dos Estados Unidos, são maiores do que os dos títulos alemães. Isso porque as taxas são mais baixas na Europa, onde a economia cresce menos neste momento.

A boa notícia para os investidores é que o aumento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA geralmente reflete uma economia robusta, o que deve sustentar os lucros corporativos.

No entanto, o lado ruim é que esse movimento pode pressionar o mercado de ações. À medida que o retorno da renda fixa aumenta, ativos mais arriscados, como ações, podem parecer mais caros.

“Não tenha dúvida de que esse aumento dos bonds soberanos vão chegar nas ações”, afirma Fabio Passos, sócio da gestora Nest Investimentos.

Ele ainda espera crescimento das grandes empresas, em função da política de Donald Trump. Mas esse crescimento deve ficar mais contido. “Antes, tinha gente falando de crescimento de duplo dígito das empresas americanas. Agora, esquece isso”, destaca.

S&P x títulos de dívida

E, sim, o S&P parou de crescer. Apesar do principal índice de bolsa do mundo aumentar 25,5% em 2024, desde o final de novembro ele enfrenta desafios para avançar.

Uma medida das avaliações de ações é o Excesso de Rendimento CAPE, desenvolvido pelo economista Robert Shiller.

Sua fórmula calcula a relação lucro pelo preço, menos os rendimentos de títulos ajustados pela inflação. No final de dezembro, esse excesso de rendimento era de apenas 1,24%, nível que historicamente se traduziu em retornos ruins para ações nos próximos 10 anos. Historicamente, anos bons contam, segundo a equação de Shiller, com uma faixa de valor típica entre 2,05% a 3,77%.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

Mais em Estados Unidos


Últimas notícias

VER MAIS NOTÍCIAS