‘Investidor aprendeu que a diversificação fora do país faz sentido independente do cenário de juros’, diz head de investimentos do C6 Bank

Igor Rongel falou com a Inteligência Financeira sobre o fluxo de recursos para o exterior, juros e dólar

Igor Rongel, head de investimentos do C6 (Foto: Helga Martins / Divulgação)
Igor Rongel, head de investimentos do C6 (Foto: Helga Martins / Divulgação)

Lançado em agosto de 2019, o C6 Bank segue ampliando a sua área de investimentos. Em julho deste ano, o banco começou a disponibilizar mais opções de renda fixa aos seus clientes, que passaram a ter acesso a títulos do Tesouro Direto e Letras Financeiras (LFs). “Agora a gente já tem uma prateleira com uma completude que entendemos super competitiva”, afirma Igor Rongel, head de investimentos do C6 Bank.

Em conversa exclusiva com a Inteligência Financeira, Rongel falou sobre o fluxo de recursos para o exterior e sobre novas possibilidades de investimento que devem ser abertas com o J.P.Morgan, que, em agosto, anunciou o aumento de sua participação no banco brasileiro de 40% para 46%.

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A seguir, confira os principais trechos da entrevista com o executivo.

Que balanço você faz sobre 2023?

A gente observou, de um ano para cá, após as eleições, uma certa migração um pouco mais acelerada de recursos para o exterior, eventualmente de alguém com medo do risco-Brasil e do risco fiscal. Já vínhamos observando esse fluxo desde a época em que os juros estavam em 2%. O brasileiro tem um perfil rentista. Ele gosta de sentar na renda fixa, e os juros aqui normalmente estão altos. Você tem ali uma remuneração livre de risco, razoavelmente interessante.

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Então, desde quando o juro estava em 2%, esse perfil rentista começou a olhar alternativas. A gente vem observando um certo interesse por conhecer um pouco mais o que tem de diferente. E isso convergiu para um momento em que os bancos e as corretoras começaram a facilitar o acesso para esse recurso para ir para fora. Muita conta já é de graça.

Antigamente você tinha que ir muitas vezes para os Estados Unidos, pegar uma papelada gigantesca toda em inglês, exigia-se um recurso alto para você deixar o dinheiro lá fora. A eleição deu uma empurrada, o fluxo já vinha bem acelerado e assim continua. Só que, com as taxas de juros altas, a gente teve uma concentração na renda fixa de novo.

Com o juro a 2%, migrou um monte de gente para para bolsa, que teve um pico de cadastro de CPF. Agora o fluxo é inverso. Mas o interessante foi esse quesito de diversificação internacional. A nossa leitura é a de que o investidor aprendeu que a diversificação fora faz sentido independente do cenário de juros.

Como você observa o cenário da renda fixa nos Estados Unidos?

Hoje em dia, os juros lá fora também estão muito altos. Então, também tem essa influência de ter uma remuneração de 6%, 7% em dólar, o que era inviável. Quando a gente abriu o nosso serviço de conta global (em 2022), a gente via as pessoas colocando recurso lá fora concentrado mais em bolsa.

Agora, com as taxas de juros lá fora bem altas também, a gente tem um Time Deposit (um produto de renda fixa com prazo determinado para resgate, atrelado a uma taxa pré ou pós-fixada), que é como se fosse um paralelo do CDB, pagando 6,5% por ano em dólar. Então, nesse patamar de remuneração, a gente já começa a ver um movimento diferente.

Os recursos novos que estão indo lá para fora têm uma concentração maior na renda fixa do que era no passado. Longe ainda do que tem no Brasil, aqui é bem mais concentrado. Então, se você pegar a expectativa de ganho de capital pela variação do câmbio (a projeção do C6 é que o dólar termine este ano em R$ 5,3, e em R$ 6 no ano que vem) mais 6,5% por ano, está suficiente para a pessoa ficar na renda fixa e não precisar tomar algum tipo de risco.

O interessante é que, nos últimos meses, com a remuneração da Treasury mais forte, que está no pico, a gente vê os ETFs que acompanham as taxas de Treasuries sendo movimentados muito mais. Sempre tem aquele aquele top 10, com Amazon, Tesla e Apple, mas a gente começa a enxergar os ETFs que acompanham as Treasuries, principalmente as curtas, que balançam menos. Você absorve esse ganho de as Treasuries estarem com patamar alto sem um risco maior daquelas muito longas, que, numa eventual balançada de taxa, oscilam mais.

Como você tem visto os investimentos com a queda de juros, que pode dar uma arrefecida?

O mercado tenta se antecipar. Só com a expectativa de cair, o pessoal já começa a se mexer. A gente tem visto mais recentemente que os fundos multimercados, que ficaram bem adormecidos durante um período longo, voltaram a atrair mais capital.

A bolsa de valores ainda é vista com cautela. O movimento de bolsa vai naqueles papéis mais conhecidos, como a Petrobras. Não temos visto um grande movimento para a bolsa. Até porque ela vai e volta. As pessoas ainda estão esperando. Mas com os fundos multimercados a gente já vê um movimento diferente.

Além disso, temos um pouco mais de questionamento em relação às taxas prefixadas, que caíram. Porque, com a expectativa lá na frente, a curva já cai. Então, as taxas já não estão mais como eram. Temos percebido um interesse maior por conhecer os ativos que são atrelados ao IPCA, dado que a expectativa, pelo menos a dos nossos economistas, é de que a inflação brasileira continue alta, independente de os juros caírem.

Qual é a expectativa do C6 em relação aos juros?

A nossa expectativa é de que a taxa de juros caia mais devagar do que o consenso de mercado. Agora, as taxas continuam altas. Não faz muito sentido se aventurar em um ativo de muito risco. Com os juros altos, a gente tinha uma inércia gigante, o investidor não queria nem escutar o que você tinha para falar.

Trabalhamos com recomendação em janelas. Nesses últimos tempos, recomendamos concentrar no topo dessa banda mais em renda fixa mesmo. Mas a gente nunca acha que deveria ser 100% em renda fixa. Aí, quando o mercado volta, você não pega aquela oportunidade de retorno de alguns ativos. Demora. Provavelmente a curva vai empinar antes de você, e você vai tentar pegar a oportunidade de retorno depois.

Como o C6 entra na disputa diante desse cenário?

Quando economia não anda muito, não gera riqueza. Começa a virar aquele rouba-monte. A gente é um banco novo que continua se expandindo. Num primeiro momento, o C6 desenvolveu os serviços de core bank: conta corrente, cartão de débito e crédito.

Na sequência, a gente veio colocando energia na plataforma de investimento. Ela não tem tudo que um grande banco tem. Mas agora a gente já tem uma prateleira com uma completude que a gente entende super competitiva. O último produto que faltava era o Tesouro Direto, que a gente colocou dois meses atrás.

Somos bem competitivos na renda fixa, por conta das taxas. Então, esse cenário de taxa de juros alta, em que o pessoal estava concentrando na renda fixa, para a gente não foi ruim. Foi um cenário até bom.

O C6 vem expandindo mais essa essa solução internacional, porque está tendo muita demanda. E também conseguimos ser bem competitivo com a solução, em que você só paga Imposto de Renda quando tirar o dinheiro dessa conta, operada por meio de um “smart fund” com sede nas Bahamas, que funciona como se fosse uma offshore.

Isso nos deu competitividade, porque essa solução as outras casas não têm. E, para completar esse guarda-chuva, a gente tem estreitado o relacionamento com o J.P.Morgan. Hoje em dia, o C6 já tem ativos no app como um CDB e uma carteira de dividendos do J.P.Morgan que não existe em lugar nenhum. A gente também começa a ter uma disponibilidade de relatório de conhecimento e de inteligência do banco americano para os clientes de mais alta renda. Isso será estreitado ao longo do tempo e vamos ficar cada vez mais próximos do J.P.Morgan.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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