Analistas destacam títulos corporativos e bolsa de mercados emergentes para investidores que têm foco no exterior
Comitê destaca que a atividade econômica segue resiliente nos EUA, o que tem levado a uma revisão para cima nas projeções
O comitê de investimentos do Itaú Unibanco destaca, nas recomendações de carteira de março, duas classes de ativo para alocação no portfólio internacional. No relatório deste mês, os títulos corporativos com grau de investimento e a bolsa de mercados emergentes têm “recomendação um nível acima do neutro (+1)”.
“Mantivemos a posição um nível acima do neutro (+1) em bolsas de mercados emergentes. A baixa alocação dos investidores globais e múltiplos descontados em relação a bolsas de mercados desenvolvidos apontam para uma assimetria positiva para os preços atuais. Isso abre espaço para uma valorização mais expressiva, a qual deve se intensificar no decorrer de uma eventual desvalorização do
dólar”, diz o relatório da equipe capitaneada pelo CIO (chief investment officer) Nicholas McCarthy.
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Sobre a renda fixa de mercados emergentes, o comitê afirma que, “apesar do desempenho positivo da classe no ano, o prêmio de risco reduzido frente a títulos de mercados desenvolvidos segue como um fator por trás de nossa posição neutra”.
Crédito
Já do lado de crédito, o comitê também mantem a recomendação acima do neutro em títulos com grau de investimento (investment grade). O documento salienta que a tendência de alta nas margens destas empresas deve ajudar a sustentar retornos, embora o diferencial nas taxas destes títulos já não apareça tão atrativo quanto antes.
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“Estes títulos ainda devem se beneficiar de um pivô na preferência de investidores por crédito de empresas com balanços mais sólidos”, avalia o comitê. Isso deve ocorrer “da mesma maneira como as ações destas mesmas empresas têm comandado a atenção do mercado”.
Por outro lado, a comissão decidiu manter posição neutra em títulos de crédito sem grau de investimento. Isso porque “o aumento na taxa de defaults, aliado ao diferencial comprimido entre as taxas desses títulos, em comparação às taxas dos títulos do tesouro americano, reduzem a atratividade de exposições como essas”.
Cenário e alocação da carteira internacional
O comitê destaca também que a atividade econômica segue resiliente nos EUA, “o que tem levado a uma revisão para cima nas projeções de crescimento”. “Já na Europa, a economia continua mostrando melhora na margem, mas ainda em nível deprimido, consistente com um crescimento baixo. As incertezas em relação ao crescimento chinês, por sua vez, permanecem no radar”, diz o documento.
O relatório pontua também que os dados mais recentes de inflação vieram mais pressionados em diversos países. Isso indica uma convergência mais gradual para a meta almejada pelos bancos centrais. Nesse sentido, diz o comitê, o mercado postergou a queda dos juros ao redor do mundo.
“À frente, acreditamos que a inflação vai continuar sua trajetória cadente, permitindo cortes de juros em algum momento, o que deve ser positivo para o desempenho de ativos de risco”, salienta o comitê.
EUA
Em relação aos Estados Unidos, o documento frisa que “o consumo americano segue robusto e os dados do mercado de trabalho continuam sólidos”. “Assim, temos visto uma melhora nas projeções de crescimento do país. Do lado de preços, a inflação no início de ano tem se mostrado mais pressionada. Isso sugere uma tendência de queda mais gradual à frente”, afirma o relatório.
Além disso, segundo o documento, “o Fed já vinha endurecendo o tom. Isso reforça a postura dependente da evolução dos dados para se ter maior convicção para iniciar o ciclo de cortes de juros”.
Em relação à bolsa americana, o comitê pontua que ela continua a se beneficiar das revisões de alta nos lucros esperados das empresas de tecnologia. Ao mesmo tempo, conforme o relatório de março, previsões de crescimento econômico robusto para este ano sustentam as expectativas de lucros para a bolsa como um todo.
“No entanto, múltiplos de precificação continuam rondando suas máximas históricas, o que poderia limitar o escopo para ganhos no índice. A turbulência observada nas ações de bancos regionais, a qual tem retornado ao radar dos investidores, deve permanecer restrita ao setor. Com estes fatores em mente, permanecemos neutros em bolsa americana”, diz o documento.
Tesouro americano
Em relação ao tesouro americano, o relatório salienta que a aproximação do ciclo de cortes de juros por parte do Fed, ainda que em um horizonte mais distante daquele originalmente precificado pelo mercado, deve sustentar retornos dessa classe de ativos à frente.
“Uma moderação na volatilidade das taxas destes títulos, por sua vez, ajudaria a reduzir o prêmio de termo embutido nos preços de títulos mais longos, especialmente o de dez anos. Apesar deste viés mais positivo, dadas as incertezas sobre o início e magnitude de um eventual ciclo de afrouxamento monetário, ainda favorecemos uma posição neutra em títulos do tesouro americano”, pontua o documento.
Europa
Na Europa, a “última milha” a ser percorrida para convergir a inflação à meta tem sido mais demorada do que o esperado, avalia o comitê. “A resiliência do componente de serviços e salários elevados justificam a postura mais cautelosa do Banco Central Europeu (BCE), que tem ressaltado a necessidade de ver mais dados para ter a convicção necessária para iniciar o ciclo de cortes de juros. Ainda assim, a maior proximidade da inflação à meta abre espaço para o início da redução de juros, a qual esperamos que comece em junho”, diz o relatório.
Nesse sentido, o comitê optou por seguir neutro em bolsa europeia. “Na Europa, um eventual pivô na postura do Banco Central Europeu seria um fator positivo, ainda mais considerando o posicionamento leve dos investidores. Ainda assim, múltiplos de precificação perto da média já não oferecem um ponto de entrada tão atrativo quanto antes”, destaca o documento.
China
Sobre a China, o documento lembra que o feriado do Ano Novo Lunar levou a um aumento do turismo e consumo no país. “Mas acreditamos que esse aumento da demanda seja sazonal. O setor imobiliário, por sua vez, continua a registrar fraqueza. A inflação ao consumidor voltou para patamar positivo, depois de encerrar 2023 com deflação. Contudo, parte desse movimento é devido à maior demanda sazonal já mencionada. O governo chinês divulgou a meta de crescimento do PIB em torno de 5% para 2024. É um ritmo que acreditamos ser desafiador e dependente de mais estímulo fiscal e monetário ao longo do ano”, resume o relatório.
Em relação à bolsa do Japão, o comitê também optou por seguir neutro. O relatório pontua que “as recompras de ações por parte das empresas devem continuar junto às reformas corporativas que tem beneficiado o desempenho do mercado”. Entretanto, segundo o documento, uma reversão na política de juros baixos poderia trazer maior volatilidade à frente.