Churrasco vai ficar mais caro: preço da carne deve subir em 2025. É hora de investir em ações de empresas do setor?
Aumento tem relação com o ciclo da pecuária, entre outros fatores
Se você curte reunir os amigos e a família aos domingos ao redor da churrasqueira, saiba que esses encontros podem ficar mais salgados a partir do ano que vem. Isso porque, de acordo com a consultoria Datagro, o preço da carne deve subir em 2025.
E esse aumento não tem relação com o dólar, como muitos imaginavam. Nesse caso, o preço da carne está diretamente ligado ao ciclo da pecuária.
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Menos oferta, preço da carne sobe
Mas, afinal de contas, o que é o ciclo pecuário? De acordo com Cesar Castro Alves, gerente da consultoria agro do Itaú BBA, quem determina esse processo é o produtor. “Ou seja, o dono da vaca”, afirma.
Alves conta que o bezerro é a principal receita do criador. Então, quando o preço dos bezerros está muito baixo, existe o estímulo de “descartar” a vaca. “Que nada mais é do que o abate e a venda da carne. E é exatamente isso o que vem acontecendo nos últimos 3 anos”, comenta.
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Assim, aumenta a oferta da proteína no mercado, o que faz o preço cair.
“E aí, à medida que passa a faltar bezerro no pasto, já que muitas vacas foram descartas, começa a ter pouca oferta e o preço do bezerro vai subindo. Desse modo, o produtor passa a não descartar mais as vacas. E isso faz a oferta de carne diminuir e é para onde estamos caminhando. A consequência disso, claro, é o aumento do preço da carne”, explica o especialista.
Para se ter uma ideia, o Datagro prevê que em 2025 o abate de animais no Brasil, o que inclui, claro, o setor bovino, deve cair 4,6%. Já em 2026 a queda é um pouco maior, de 7,5%.
Aumento no preço da carne: custos de produção e clima
Porém, não é apenas isso que está influenciando o churrasco mais caro. Claudio Felisoni de Angelo, presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo & Mercado de Consumo (IBEVAR) e professor da FIA Business School apresenta outros pontos que impactam o preço da carne.
E o primeiro deles é o aumento dos custos de produção. “Isso porque, no período que vai de 2019 até o final do primeiro trimestre de 2024, a carne subiu 28,5%. Em contrapartida, a maior parte dos itens que fazem parte do processo de criação bovina cresceu acima de 30%”, afirma o professor.
Aliás, abaixo você vê a tabela completa com os aumentos de cada item:
Item | Variação Total Acumulada (2019-2024)(*) |
Terra (valor de mercado) | 60,0% |
Fertilizantes | 40,0% |
Equipamentos | 50,0% |
Medicamentos veterinários | 45,0% |
Ração | 35,0% |
Vacinas | 35,0% |
Energia elétrica | 35,0% |
Defensivos agrícolas | 35,0% |
Sementes de forrageiras | 30,0% |
Suplementos minerais | 25,0% |
Água (custos de captação) | 25,0% |
Genética (sêmen) | 25,0% |
Combustíveis | 35,0% |
Serviços técnicos | 25,0% |
Mão de obra | 22,0% |
Carne bovina | 28,5% |
(*) Até o fim do primeiro trimestre de 2024 |
Além disso, o clima também opera de forma positiva ou negativa na produção bovina. “Um estudo realizado pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) aponta, baseada em imagens de satélite, que mais da metade do território nacional, cerca de 55%, está comprometida devido à seca. Desse modo, o impacto é negativo, o que contribui para o aumento do preço da carne”, afirma o professor.
Maior exportação
Outro fator que também tem contribuído para o aumento do preço da carne é a maior demanda do mercado global pela proteína. Tanto que de acordo com a Food and Agriculture Organization (FAO), e outras organizações, a demanda por carne bovina deve continuar a crescer. Veja abaixo:
Ano | Demanda Global de Carne Bovina (milhões de toneladas métricas) |
2000 | 56,2 |
2001 | 56,8 |
2002 | 57,4 |
2003 | 58,0 |
2004 | 58,7 |
2005 | 59,4 |
2006 | 60,1 |
2007 | 60,8 |
2008 | 61,5 |
2009 | 62,1 |
2010 | 62,8 |
2011 | 63,5 |
2012 | 64,1 |
2013 | 64,8 |
2014 | 65,5 |
2015 | 66,3 |
2016 | 67,0 |
2017 | 67,8 |
2018 | 68,6 |
2019 | 69,5 |
2020 | 70,5 |
2021 | 71,0 |
2022 | 71,6 |
2023 | 72,1 |
2024 | 72,6* |
‘A alta está só começando’
E se a sua dúvida é quanto que o preço da carne deve subir, saiba que os especialistas ainda não conseguem taxar uma porcentagem do aumento.
Mas vale sabe que segundo Cesar Castro Alves, a alta está apenas começando. “Em dezembro, por exemplo, o valor desse tipo de proteína já deve estar maior do que agora. Ainda assim, 2025 não deve ser o ano com o aumento total. Isso deve acontecer entre 2026 e 2027”, afirma o especialista.
Impacto do aumento do preço da carne bovina para o investidor
Diante disso tudo, claro que os investidores acendem um sinal para entender como que essa alteração no valor pode afetar – ou não – os ativos financeiros ligados ao agronegócio.
Para Claudio Felisoni de Angelo, o aumento do preço da carne irá trazer maior receita e possivelmente lucros para a pecuária como um todo e para os frigoríficos. “Por isso, é provável que teremos valorização das ações de empresas como JBS (JBS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva Foods (BEEF3)”, diz.
Por outro lado, Gustavo Troyano, analista do setor de alimentos do Itaú BBA, afirma que quando o preço da arroba do boi sobe, isso pressiona o custo do frigorífico. “E aí, ocorre uma pressão inflacionária do preço. O que pode ser menos favorável para essas empresas de carne bovina”, argumenta.
O que pode ser a variável dentro desse contexto e ajudar a manter essas empresas como boas opções de investimentos? O ambiente de demanda. “Afinal, o preço de venda desses frigoríficos está muito atrelado à demanda. Até porque, o próprio Brasil, a China, que é um grande importador da nossa carne bovina e os Estados Unidos (que está com falta de boi), podem pagar um pouco mais caro na proteína bovina”, comenta Troyano.
Além disso, as empresas de ração animal também podem ser impactadas positivamente. “Afinal de contas, se o aumento de preços persistir, como parece ser o caso, isso deve levar a um aumento do rebanho. O que beneficiaria essas empresas de ração animal, dependendo também dos preços do milho e da soja”, analisa o professor.
É hora de investir no mercado bovino?
Claro que a decisão em aplicar parte do dinheiro em empresas ou ativos financeiros ligados ao mercado de proteína bovina é totalmente sua.
“Mas é importante saber que ao considerar investimentos nesse setor, vale focar em empresas e ativos financeiros que têm potencial de se beneficiar das tendências do mercado ou que demonstram resiliência em diferentes cenários econômicos, como JBS (JBS3), Marfrig (MRFG3), Minerva Foods (BEEF3), BRF (BRFS3) etc”, afirma o professor Claudio Felisoni de Angelo.
Gustavo Troyano afirma que a principal empresa que pode ter uma maior relevância em relação ao preço da carne no Brasil, e que merece uma atenção especial na hora de investir, é a Minerva.
“Isso porque, metade da sua produção fica por aqui. Ou seja, ela está bastante exposta às movimentações da proteína bovina no Brasil. Sem esquecer que, recentemente, a Minerva adquiriu diversos ativos da Marfrig. Então, a grande discussão é entender qual o potencial de rentabilidade desses ativos e a velocidade que a empresa irá entregar essa integração dos ativos. Em isso acontecendo, vendo um potencial, a empresa bancando os ativos, teremos um olhar melhor”, conclui o analista do Itaú BBA.