Investimento e fé: conservadores começam a medir forças com agenda woke nos EUA

Investidores com temática religiosa, junto com entidades de classe, vêm fazendo empresas desistirem de apoio ao aborto e a causas da comunidade LGBTQIA+

Robert Netzly: ETFs com temas cristãos. Foto: Divulgação
Robert Netzly: ETFs com temas cristãos. Foto: Divulgação

Na última segunda-feira (6), o McDonald’s descontinuou algumas iniciativas em prol de grupos minoritários, como o LGBTQIA+.

Em comunicado, a cadeia de lanchonetes anunciou a suspensão de metas de aumento da participação de minorias em cargos de liderança. Além disso, afirmou que não vai mais cobrar que seus fornecedores também se comprometam com políticas DEI.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

Não foi a única. Nos últimos meses, Toyota, Ford, Walmart, John Deere e um punhado de grandes corporações internacionais recuaram na agenda DEI (diversidade, equidade e inclusão).

A Toyota afirmou que não mais patrocinará eventos como paradas gays e que deixaria de participar do índice Igualdade Corporativa da Campanha de Direitos Humanos (HRC), segundo a Bloomberg.

Últimas em Investimentos

A Harley-Davidson também desistiu de participar do HRC, comunicou em um post no X do bilionário Elon Musk.

Esse revés ganhou tração na virada para 2025, ilustrando como a onda conservadora no país vem tomando, além dos votos que conduziram Donald Trump de volta à Casa Branca, também o bolso de pessoas e instituições americanas.

Dessa forma, uma parte do mercado está empurrando para trás iniciativas de empresas como as cotas para minorias.

Por trás disso, dentre outros fatores, está o ativismo de investidores com temática religiosa.

Investimento religioso faz oposição à agenda ESG

Um dos executivos mais ativos na causa dos investidores cristãos, Robert Netzly, presidente da gestora de ETFs Inspire, não esconde o objetivo de combater frontalmente a agenda ESG (acrônimo para o que o mercado se acostumou a identificar como boas práticas ambientais, sociais e de governança corporativa).

“Embora o investimento ESG tenha sido celebrado por investidores com certas visões de mundo, um exame biblicamente informado revela preocupações significativas que levaram a danos sociais e comprometem valores profundamente arraigados”, afirmou Netzly à Inteligência Financeira.

A Inspire tem 9 ETFs, todos com temas cristãos, com patrimônio conjunto de US$ 1,7 bilhão. A gestora pretende lançar mais dois deles em 2025.

Segundo Netzly, o ESG enquanto investimento ‘biblicamente responsável’ aborda várias das mesmas questões, mas frequentemente em lados opostos.

Como exemplo, citou o aborto e a causa LGBTQIA+, normalmente apoiados pelos esforços ESG, mas combatidos pela fé cristã.

Nesse sentido, Netzly avalia que a eleição do republicano Trump ilustra que esse sentimento é majoritário na sociedade americana.

“Os investidores e o público em geral estão fartos das políticas de extrema esquerda que estão prejudicando nossas famílias, crianças, bairros e bem-estar financeiro, e eles estão votando com seus investimentos, bem como com suas cédulas”, disse ele.

Investimento de impacto bíblico

Seus comentários ilustram como instituições com temática religiosa vem adotando postura mais assertiva na defesa de seus interesses como investidoras.

Maior gestora dos Estados Unidos desse espectro, com carteira de US$ 24 bilhões, a GuideStone Funds é um exemplo.

Criada em 1918, no Texas, inicialmente para gerir fundos de previdência de pastores aposentados da Igreja Batista, a GuideStone atuava mais em favor dos direitos de trabalhadores e da proteção de crianças.

Recentemente, porém, a gestora passou a atender um público mais amplo de interessados em investimentos religiosos.

Há sete anos, a gestora criou um grupo específico para defender interesses desse público entre acionistas.

Assim, parte do trabalho é levar o conservadorismo às políticas das empresas nas quais investem.

Isso envolve, dentre outras ações, coordenar votos em assembleias de acionistas para forçar as companhias a mudarem algumas medidas ou se explicarem a respeito de decisões tomadas anteriormente.

No último relatório de ‘impacto’, a companhia citou dentre os resultados desse trabalho mudanças nas políticas do JPMorgan, da Alphabet (dona do Google) e da Meta (controladora de Instagram, Facebook e WhatsApp).

Ativismo crescente e trabalho coordenado

Os investidores com orientação cristã são um grupo cada vez mais engajado que direta ou indiretamente gerencia cerca de US$ 500 bilhões.

Treze deles compõem a Faith Driven Investor, entidade que reúne fundos de pensão católicos e de igrejas protestantes e gestoras de ETFs com motivação cristã.

Em conjunto com organizações como Alliance Defending Freedom, que apoia juridicamente causas cristãs, e a expoentes do conservadorismo americano, esse grupo vem colecionando vitórias.

Algumas são fruto do voto coordenado em assembleias de acionistas. Ou de processos questionando a constitucionalidade de algumas práticas corporativas.

Contudo, essas causas também se revestiram de apoio popular como as do ativista Robby Starbuck, que se especializou em campanhas contra empresas woke.

A expressão, equivalente a acordar, em português, virou sinônimo para políticas caras aos democratas e é um termo odiado pelos republicanos.

A agenda afirmativa vinha ganhando terreno há anos nas empresas norte-americanas.

Mas esse jogou começou a mudar em 2023, quando a Suprema Corte do país decidiu que campanhas afirmativas de universidades dos Estados Unidos eram inconstitucionais.

Assim, mesmo antes desse recente revés mais amplo, Johnson&Johnson, Coca-Cola e Uber já haviam diminuído o tom em seus relatórios sobre diversidade.

Com a ampla vitória republicana em 2024, mais empresas entenderam que chegou a hora de mudar a direção.

Após eleição, bancos de Wall Street e Meta se aliam a Trump

O recuo nas agendas ESG e DEI faz parte de um movimento mais amplo de grandes corporações, que ganhou força após a eleição de Donald Trump.

Após a vitória do republicano, gigantes de vários setores da economia fizeram movimentos na direção de agendas defendidas pelos conservadores.

Na virada do ano, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Wells Fargo, Citi e Bank of America deixaram a Net-Zero Banking Alliance (NZBA).

A NZBA é uma aliança global apoiada pela Organização das Nações Unidas (ONU) de combate às mudanças climáticas.

Trump, um crítico de causas ambientalistas, já prometeu que reverterá decisões que hoje proíbem a exploração de petróleo na costa dos Estados Unidos.

Mais recentemente foi a vez do presidente-executivo da Meta, Mark Zuckerberg, anunciar o abandono da moderação de conteúdo no Facebook e no Instagram. A moderação de conteúdo foi adotada nos últimos anos por redes sociais como forma de combater notícias falsas.

Porém, Trump e os republicanos se opõem à prática, por considerarem que a moderação é uma forma de censura à liberdade de expressão.

Investimentos religiosos dos EUA também em empresas da B3

Os ETFs da Inspire investem em ações de quatro empresas brasileiras: B3 (B3SA3), BB Seguridade (BBSE3), Suzano (SUZB3) e WEG (WEGE3).

Além disso, separadamente a gestora detém papéis de mais uma dúzia de ações brasileiras, incluindo papéis da Petrobras (PETR4) e da Vale (VALE3).

A Guidestone investe em títulos de dívida do governo brasileiro e também em bonds da Vale e do Banco do Brasil, entre outros.

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


Últimas notícias

VER MAIS NOTÍCIAS