Novas startups não foram afetadas por cenário adverso, diz fundador da EqSeed
O executivo norte-americano Brian Begnoche afirma, em entrevista exclusiva, que o momento é propício para investir nesse tipo de empresa
O mundo do empreendedorismo reservou ao Brasil a inusitada história da fundação da plataforma de investimento em startups EqSeed – e de uma forma bem diferente em relação às famosas empreitadas que germinaram algumas das Big Techs.
O britânico Greg Kelly largou uma posição privilegiada como diretor do Lloyds Bank, em Londres, para viver com a esposa brasileira no Rio de Janeiro. Em 2014, quando o executivo já pensava em empreender, deu de cara com o acaso.
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Sob a areia da praia de Ipanema, conheceu o norte-americano Brian Begnoche nos treinos de Beach Rugby e a amizade extrapolou o ambiente do sol, dos mates e das traves do esporte para se transformar no que hoje os investidores conhecem como EqSeed, uma das empresas pioneiras em aplicar na prática o conceito de equity crowdfunding no Brasil.
A plataforma conecta investidores a startups que estão em uma fase mais embrionária da operação. Dessa forma, a captação pode ser feita, de forma mais fácil e aberta para o público em geral, em um mercado que só profissionais, investidores-anjos e os mais experientes tinham acesso.
Hoje, a EqSeed proporciona aos investidores uma vitrine de cerca de 40 empresas. Seis já fizeram o famoso “exit”, sendo adquiridas por outras empresas e gerando retornos para os investidores. Segundo Begnoche, o retorno em média dessas seis startups foi de 40% ao ano e o tempo médio dessa rentabilidade foi de dois anos e meio.
O íon conversou com o fundador da EqSeed para entender o cenário das startups e como os investidores podem se aproveitar do panorama para diversificar a carteira.
Temos visto uma onda de demissões pelo mundo, principalmente em startups. O cenário atual impactou a operação da EqSeed?
O ponto principal para começar essa conversa é separar o joio do trigo em relação ao que está acontecendo no mundo das startups. A primeira separação que eu faria é sobre a realidade nos Estados Unidos em comparação com a brasileira. Sempre são coisas conectadas de alguma forma, mas a realidade de forma geral é bem diferente.
O peso do efeito é muito mais concentrado nas startups que chamamos de “Late Stage”, ou seja, mais maduras e mais estruturadas, do que nas “Early Stage” (que nasceram há pouco tempo).
Basicamente, quando veio a pandemia de coronavírus, os governos e Bancos Centrais pelo mundo tiveram que injetar uma quantidade enorme de dinheiro em suas economias para prevenir uma crise maior.
E no mercado de investimento em startups, houve, sobretudo em 2021, rodadas muito grandes de captação, aproveitando todo esse capital, e isso colocou lá em cima o valor de mercado dessas empresas em crescimento, que, por outro lado, também gastam muito para manter esse ritmo. Mas tudo mudou quando os governos pararam de injetar liquidez para combater a inflação.
Com isso, as startups mais maduras, que chegavam até a pensar em IPO na Bolsa, começaram a ter que controlar gastos porque os investimentos não estavam mais no mesmo patamar.
Para as startups que estão na fase “seed”, ou seja, nascendo, os custos fixos e as operações são muito menores, então há maior adaptabilidade e menos impacto nesse sentido. E é justamente com essas startups que a EqSeed trabalha.
Isso significa que é um momento bom para investir em startups que acabaram de nascer?
Com uma visão de longo prazo, sim. Mesmo que os tempos econômicos sejam de incertezas atualmente, o fato é que isso não afeta muito o investimento em startups early stage porque o retorno, provavelmente, virá em, pelo menos, cinco anos. É muito provável que, nesse período, o cenário econômico melhore muito a ponto de o mercado conseguir olhar mais para essas operações.
E isso faz com que as próprias startups dessa fase tenham tempo para crescer porque acabam não sendo altamente afetadas pela crise e são beneficiadas quando as economias melhorarem porque as chances de outras empresas se interessarem e comprarem participação nessas startups, ou até assumirem o controle, ficam maiores.
Ao nosso ver, é um excelente momento porque esse tipo de startup vai continuar captando bem nas rodadas do mercado até chegar o momento ideal de maturação do negócio e de melhora na situação econômica, terminando no que chamamos de “exit”, estágio em que uma startup é adquirida por uma empresa maior.
É nesse momento que os investidores que apostaram na startup lá atrás podem “sair” e lucrar com o investimento. Nesse sentido, a gente enxerga aqui um cenário bom para essas startups porque o mercado de M&A (Fusões e Aquisições de empresas) deve voltar a ficar mais agitado depois de um ano de 2022 praticamente parado.
Na sua visão, o modelo de investimento em startups via crowdfunding favorece para os investidores que estão mirando em negócios com maior propósito e engajamento com causas?
O brasileiro está ficando cada vez mais independente e autônomo na decisão de investimentos, querendo tomar as próprias decisões. O movimento de competição entre as mais variadas corretoras permitiu que as pessoas tenham, hoje em dia, maior acesso a produtos que antes eram exclusivos.
Além disso, a questão da liquidez mostra muito como o investimento em startups tem a ver com, de fato, acreditar no negócio e investir com propósito porque, ao contrário da Bolsa, só vai ser possível ter retorno com startups se investir e segurar.
Na bolsa, a liquidez pode ser diária para as empresas de grande porte, por exemplo. Então só isso já mostra que colocar dinheiro em uma empresa pela plataforma da EqSeed precisa ser uma decisão bem pensada e com propósito.
E, geralmente, quem investe nesse mercado passa a querer se inserir cada vez mais com as startups. Em média, o perfil costuma ser de pessoas questionadoras e que querem realmente participar mais das decisões ou pelo menos ter a chance de serem ouvidas.
É a oportunidade para o investidor fazer parte da mudança. Ele pode apoiar, participar, ver que o investimento dele está fazendo efeito, e tudo isso sem precisar ser empreendedor.
Considerando que são ativos de alto risco, como os investidores podem lidar com o investimento em startups em relação à carteira?
Logicamente, é preciso aplicar a estratégia certa em relação ao perfil de risco de cada um. O investimento em startups é para ser destinado a uma pequena parte da carteira porque é um investimento de risco elevado.
O principal motivo de as pessoas investirem é ter bons rendimentos e bater a inflação, certo? Essa é a meta número 1 de todo mundo as pessoas devem dedicar a maioria da carteira para este objetivo.
Mas entre 5% e 10% da carteira, há a possibilidade de arriscar um pouco mais e investir naquilo que pode causar impacto, que vai fazer sentido para sua vida.
É uma via de mão dupla: você pode apoiar uma startup com um negócio que você realmente acredita e que pode ter até contato com o CEO e, além disso, há chances de bons retornos pensando no longo prazo.
*Texto escrito por Leonardo Pinto, jornalista e editor do feed de notícias do íon Itaú, onde o artigo foi originalmente. Para ler este e outros conteúdos, acesse ou baixe o app agora mesmo.