Equity crowdfunding é porta de entrada para investir em startups; mas vale a pena?

Retorno e risco são altos neste tipo de operação
Pontos-chave:
  • O ideal é que o investidor não aplique mais que 5% do patrimônio
  • A liquidez acontece quando a startup abre capital ou é comprada, o que pode levar 4 anos

O investimento em startups, conhecido como venture capital, tem entrado aos poucos na carteira do pequeno investidor. A dinâmica mudou com o equity crowdfunding. Nele, os pequenos investidores se juntam para acessar o mercado privado, adquirindo parte do novo negócio desde a fundação, a partir da união com outros interessados. “Cada investidor entra com a quantia que lhe é possível e, juntos, conseguem participar do negócio quando a quantia mínima é atingida. O tíquete médio desse investimento fica entre R$ 8.000 e R$ 10.000 por oferta”, conta a presidente da Kria, plataforma de investimento em startups, Camila Nasser.

Por que investir em pequenas empresas?

O que torna o investimento atraente, de acordo com Camila, é o retorno de até dez vezes o valor investido. Mas quem conhece bem o mercado financeiro sabe que não tem bons retornos sem risco. Nesse caso, eles são proporcionais. Segundo Nasser, o ideal é que o investidor não aplique mais que 5% do patrimônio nesse tipo de operação, apesar dos cuidados garantidos pelas plataformas. “Antes de ingressar no crowdfunding, as startups são analisadas por investidores mais experientes e analistas do mercado, que avaliam pontos como faturamento e dimensão das empresas que serão beneficiadas”.

No quesito liquidez, o investidor precisa vender sua participação na empresa para captar o lucro. O chamado “evento de liquidez” acontece sempre que a startup abre o capital na Bolsa ou é comprada por outra empresa. Ambos podem levar até quatro anos para acontecer. Para diminuir o tempo entre o investimento e o lucro, está em desenvolvimento um mercado secundário de negociação dessas participações societárias, que atuaria como uma bolsa de valores composta por startups.

“O investidor vai conseguir vender sua participação na empresa sem ter que esperar um IPO (oferta pública inicial de ações) ou fusão com uma empresa maior”, diz Nasser, que vê na mudança um caminho para democratizar o venture capital.

CVM muda as regras do equity crowdfunding

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) publicou uma nova instrução para regular as plataformas de equity crowdfunding. A reforma amplia de R$ 10 milhões para R$ 40 milhões o limite de receita bruta que define o conceito de sociedade empresária de pequeno porte – o valor ficou acima do sugerido na audiência pública sobre o assunto, aberta em 2020, de R$ 30 milhões. A nova norma, a instrução 88, também permite a flexibilização das formas de divulgação da oferta pública.

Desde que criou a regra, a CVM colocou a obrigatoriedade de que as ofertas ocorram por meio de plataformas que passam pelo processo de autorização na autarquia e assumem a responsabilidade pelas ofertas, além de exigir que os emissores prestem as informações determinadas. Ao longo dos anos, o número de plataformas passou de quatro, em 2016, para 56 em 2021.

A CVM considera que a principal medida a ser implementada pela resolução 88 é a obrigatoriedade de que as empresas sejam escrituradas, ou seja, que tenham o registro cronológico de todos os fatos da oferta. Isso poderá ser feito por meio de um escriturador registrado na autarquia.

Onde investir via equity crowdfunding?

Para o sócio fundador da Efund, Igor Romeiro, o crescimento dos investimentos por meio das plataformas de financiamento coletivo “demonstra que o investidor começa a acreditar nesta modalidade de aporte, abandonando um temor inicial de que seria somente uma tendência volátil e passageira”.

Para ele, outro indicador de disseminação da credibilidade é que os aportes foram distribuídos pelos mais diferentes segmentos, desde a construção civil até o agropecuária, passando por precatórios e criadores de conteúdo digital, entre vários outros.

“Acreditamos que mesmo em um cenário desafiador para o investidor, como o que temos em 2022, com eleição, aumento das taxas de juros e inflação, que convida para os investimentos em renda fixa, o crescimento do equity crowdfunding poderá ser superior aos 50%”, afirma Romeiro.

Quanto o equity crowdfunding movimentou em 2021?

O financiamento coletivo em startups, também conhecido como equity crowdfunding, movimentou cerca de R$ 204 milhões no ano passado, com 116 ofertas públicas, de acordo com levantamento da plataforma Efund Investimentos. O montante representa um crescimento de 2,4 vezes comparado ao registrado em 2020, de R$ 84,4 milhões.