Desemprego muito baixo aumenta pressão sobre inflação de serviços e coloca juro neutro a 10%, analisa Marilia Fontes da Nord Research
Fundadora da Nord Research faz projeções sobre a reunião do Copom e o que esperar dos juros e da inflação após a decisão do Copom de hoje
O desemprego está nas mínimas históricas e isso causa sinal de alerta. O aumento da oferta de trabalho sem aumento da produtividade deve pressionar a inflação, principalmente a de serviços, nos próximos meses e colocar o juro neutro da economia brasileira em patamares mais altos.
A percepção é da sócia-fundadora e analista de renda fixa da Nord Research, Marilia Fontes.
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“Esse nível baixo de desemprego vai acelerar a inflação de serviços (no Brasil). Então, é isso que o mercado está circulando nessas novas projeções do (Boletim) Focus”, disse Marilia em entrevista exclusiva à Inteligência Financeira.
Ela se refere à piora nas expectativas apresentadas na segunda-feira (3) no Boletim Focus, o último a ser divulgado antes da reunião do Copom desta semana. Nesse sentido, o mercado ajustou para cima tanto as projeções para inflação quanto de juros.
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Dados sobre vendas e consumo também acendem alerta
Marilia Fontes vê como quase consolidada a alta de 0,50 p.p para os juros no Brasil após a reunião do Copom desta quarta-feira (6). Além disso, também dá como quase certa a queda de 0,25 p.p. para os juros nos Estados Unidos.
A alta no Brasil, inesperada no início do ano, acontece porque o mercado está revisitando as expectativas de inflação para patamares mais altos, imaginando que esse nível de Selic não conseguirá controlar a inflação.
A analista alerta não só para os níveis de emprego, mas também para dados como de vendas no varejo e consumo em geral, “todos têm vindo muito fortes, o que é estranho”, avaliou.
Juro neutro está acima de 10% agora, diz Marilia Fontes
Mas a grande surpresa, para ela, é a resiliência do aumento da massa salarial no Brasil. A massa de renda real do trabalho subiu 7,2% em setembro na relação com o mesmo mês de 2023.
Ela alerta que o receituário de alta de juros não deu certo até aqui. Ao menos, não na proporção que o mercado esperava, mesmo com a retomada do ciclo de alta dos juros.
“Talvez o que a gente esteja vendo mais diante seja uma necessidade de Selic maior ou um juro neutro – que não acelera a inflação nem desacelera a economia – um pouco maior”, analisa Marilia Fontes.
Ela entende que dada a experiência recente os juros neutros, que estavam perto de 9% ou abaixo disso, passam para 10%, ou acima.
Projeções do Focus
Segundo o Focus desta semana, para a Selic, a previsão para o fim de 2024 permaneceu em 11,75%. Mas a taxa esperada no encerramento de 2025 subiu de 11,25% para 11,50%.
Entre outros fatores, o novo ciclo de aumento da Selic é puxado pela inflação desancorada. E o Boletim Focus mais atual traz notícias ruins nesse sentido.
Então, o mercado subiu a previsão do IPCA 2024 de 4,55% para 4,59%.
Enquanto a previsão do IPCA 2025 avançou de 4% para 4,03%.