Alerta do Banco Central sobre risco fiscal preocupa mercado
Divergências no governo quanto a meta de zerar o déficit fiscal tem potencial de interromper o ciclo de normalização monetária
Sem grandes surpresas no tom do Banco Central (BC) e nas perspectivas para a taxa Selic nas próximas reuniões, os analistas do mercado financeiro focaram suas atenções nos riscos apontados pelo comunicado do Copom. A principal preocupação do mercado é a questão fiscal, com potencial de interromper prematuramente o atual ciclo de normalização monetária.
Nesta quarta-feira (1), o Banco Central cortou pela terceira vez a taxa básica da economia, em 0,50 ponto percentual, levando os juros para 12,25% ao ano.
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Na leitura do comunicado, que acompanha a decisão, os agentes do mercado se debruçam sobre o trecho do texto que alerta para a necessidade de se manter a meta de zerar o déficit fiscal para o ano que vem.
Chance de Selic terminal acima de 9,50%
Para Rodolfo Margato, economista da XP, a decisão do Copom veio dentro das expectativas, mas com duas alterações em destaque. A primeira, diz respeito à retirada do comentário sobre a resiliência da atividade doméstica. E a segunda, sobre as projeções de inflação mais altas em 2024 e 2025.
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“A sinalização recente, de alterações no cenário internacional e também das incertezas fiscais domésticas, acabam aumentando a probabilidade desse nosso cenário-base, portando acima do que mostra o consenso hoje, de 9,25% segundo o Focus”, afirma o economista. A XP vê chance de Selic terminal acima de 9,50%.
Por incertezas fiscais, Margato refere-se a uma possível disputa dentro do governo sobre a meta fiscal para o ano que vem. Enquanto o presidente Lula afirma que é preciso repensar a meta para ampliar os investimentos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, busca ampliar a receita para manter a meta de zerar o déficit fiscal.
Relação entre países desenvolvidos e emergentes
A economista-chefe do Santander, Ana Paula Vescovi, diz que, no comunicado, o Copom mudou de tom em relação ao cenário da atividade econômica, destacando que alguns dados passaram a apontar para a desaceleração que anteriormente esperava.
“Apesar disso, estamos mais céticos quanto à probabilidade de uma Selic muito mais baixa em 2024”, destaca a economista.
“Na nossa opinião, o diferencial da taxa de juros (dos países desenvolvidos) em relação aos países emergentes já é baixo. Como resultado, um aumento do risco de taxas terminais mais baixas está agora mais dependente de uma mudança no ambiente de taxas globais no sentido de um clima mais pacífico”, afirma.
Órama destaca cenário internacional em comunicado do Copom
Alexandre Espirito Santo, economista-Chefe da Órama, destaca que o Comitê ressaltou a necessidade de atenção e cautela quanto ao cenário internacional. Isso devido às elevadas taxas de juros de longo prazo nos EUA, que atingiram máxima desde 2007, e as novas tensões geopolíticas.
No âmbito doméstico, o economista observa a atenção do comunicado sobre os riscos ficais para o ano que vem.
“Como bem ressaltou o presidente do BC, a equipe econômica vinha emitindo sinais de que tinha como alvo zerar o déficit primário em 2024, apesar do mercado duvidar que essa meta fosse exequível, como vinha apontando o boletim Focus”, aponta Espírito Santo.
“Todavia, uma demonstração oficial contrária do Executivo causa desconforto e, sob o olhar das expectativas, pode, sim, interferir na política monetária mais à frente”.
Fiscal é calcanhar de Aquiles, diz Empiricus
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, concorda com o economista da Órama. “O fiscal brasileiro é o nosso calcanhar de Aquiles”, observa.
“Nesse contexto, (de divergências sobre o déficit) esquece qualquer chance de aceleração (na queda dos juros). Hoje, a taxa da curva de juros aponta para uma Selic terminal entre 10,5% e 11%. Eu acho que vai cortar mais, convergindo para um dígito alto, 9,5% ou 9% até o início de 2025”, destaca o analista.