Por que o preço da gasolina vendida pela Petrobras é atrelado ao dólar?
O presidente Jair Bolsonaro já questionou mais de uma vez a política de reajustes da companhia, que vincula o preço do combustível nas refinarias à moeda americana
O presidente Jair Bolsonaro (PL) reiterou nesta sexta-feira (17) seu descontentamento com a política de preços da Petrobras e afirmou que a companhia “pode mergulhar o Brasil num caos”. A declaração foi feita em suas redes sociais antes de a empresa anunciar reajustes de 5,2% no preço da gasolina vendida às refinarias (de R$ 3,86 para R$ 4,06 o litro) e de 14,25% para o óleo diesel (de R$ 4,91 a R$ 5,61 por litro).
“O governo federal como acionista é contra qualquer reajuste nos combustíveis, não só pelo exagerado lucro da Petrobras em plena crise mundial, bem como pelo interesse público previsto na Lei das Estatais”, disse. “Seus presidente, diretores e conselheiros bem sabem do que aconteceu com a greve dos caminhoneiros em 2018 e as consequências nefastas para a economia do Brasil e a vida do nosso povo”, afirmou Bolsonaro.
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O anúncio do reajuste acontece também depois que o Congresso Nacional aprovou o projeto de lei que limita em até 17% a alíquota do ICMS sobre combustíveis, energia elétrica, serviços de telecomunicações e transporte público. O objetivo do governo com a medida era deixar os preços da gasolina e diesel mais baratos.
Por que a Petrobras segue a paridade internacional de preços?
Especialistas ouvidos pela Inteligência Financeira explicam que a companhia não tem alternativa. “O petróleo é uma commodity, transacionada no mercado internacional, em dólar, igual no mundo inteiro. A dinâmica é a mesma do minério de ferro, do trigo, da soja e da carne. O produtor não vai vender mais barato aqui do que ele cobra lá fora”, diz o economista e consultor Alexandre Schwartsman.
“Se o barril sobe lá fora, não faz sentido a Petrobras calcular um valor menor. Ela vai ter prejuízo porque também precisa importar derivados do petróleo para fazer o refino”, esclarece Paulo Roberto Feldmann, professor de economia da FEA-USP (Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidade de São Paulo).
Feldmann lembra que a Petrobras já teve no passado uma política de reajustes que não acompanhava a variação da moeda americana. “O resultado foi muito ruim para os negócios da empresa”, afirma. Schwartsman avalia que desassociar o câmbio pode ser prejudicial. “Mata o importador privado, que questionaria a razão de trazer um produto caro para vender mais barato aqui. Pode até provocar um problema de desabastecimento”, comenta. A estimativa do mercado é que o setor privado tem participação em 20% do combustível consumido no Brasil.