Desabastecimento de diesel: como a falta de combustível pode afetar os investimentos

Em entrevista à IF, Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, explica o que pode ser feito para proteger seus investimentos se o cenário evoluir para uma crise
Pontos-chave:
  • O economista Étore Sanchez explica qual o grau de atenção o investidor pessoa física precisa ter agora com sua carteira
  • Sanchez destaca também os setores da Bolsa mais vulneráveis

A Petrobras alertou oficialmente, no último dia 25 de maio, o Ministério de Minas e Energia e a ANP (Agência Nacional de Petróleo) sobre o “elevado risco” de desabastecimento de óleo diesel no segundo semestre. O potencial problema entrou no radar do mercado em meio ao mais recente imbróglio sobre a troca no comando da petroleira e diante da pressão do governo federal para a companhia segurar novos reajustes do combustível.

Em entrevista à Inteligência Financeira, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, explica o que tem motivado a preocupação de que pode faltar o produto nos postos e os eventuais impactos para a economia.

Sanchez responde também qual o grau de atenção o investidor pessoa física precisa ter neste momento, destaca os setores da Bolsa mais vulneráveis e o que pode ser feito para proteger a carteira de investimentos se o cenário evoluir para uma crise de combustíveis.

Leia a seguir trechos editados da entrevista:

O que explica o alerta da Petrobras de que pode ter desabastecimento de diesel no mercado brasileiro?

Existe um processo no mercado global de commodities chamado arbitragem, que é quando o preço de um bem homogêneo praticado em um lugar é mais barato do que em outro.

O diesel usado aqui é o mesmo usado em outros lugares (do mundo). Então você consegue comprar em um mercado, pagar o frete para transportar, colocar uma margem de lucro e vender em outro. Isso justifica a política de preços da Petrobras que segue a paridade internacional.

Fora essa parte associada à oferta, temos o lado relacionado à demanda. O Brasil é um país que está se recuperando, está mostrando força na atividade econômica. E o diesel, além de um insumo para transportar as cargas, é usado na indústria e em muitos outro setores, como na própria geração de energia elétrica. Tem toda uma cadeia dependente do combustível.

Ou seja, com o país voltando a acelerar, a demanda por diesel se amplia e consequentemente a oferta, que já está sofrendo problemas, pode ficar mais restrita. Por isso a Petrobras alertou para essa possibilidade (de desabastecimento).

Quais os possíveis efeitos para a economia se de fato houver um desabastecimento?

Além do preço do diesel, você vai promover uma escassez generalizada de produtos, já que a matriz de transporte brasileira é rodoviária. Enquanto isso, os produtos à disposição tendem a ficar mais caros. Isso pode ampliar ainda mais o processo inflacionário já vivido no país.

Qual o grau de atenção o investidor pessoa física precisar ter neste momento?

Primeiro, no tocante à renda fixa, é importante se proteger do avanço da inflação e seu potencial risco. Para quem ainda não fez isso, é primordial neste momento comprar um título público ou privado que remunere a inflação.

Para quem tem exposição à renda variável, é importante também fazer uma realocação buscando uma maior eficiência. Como? Buscando ativos que vão se beneficiar da atual conjuntura, de inflação alta e juros elevados.

A principal recomendação, em linhas gerais, é o setor bancário, que tende a se fortalecer neste ambiente. São os chamados ativos defensivos. Mas, evidentemente, cada investidor precisa avaliar seu perfil, seu risco, sua alocação de recursos para tomar uma decisão inteligente.

Ainda buscando orientar o investidor pessoa física, principalmente o que tem aplicações na Bolsa. Em que setores é preciso redobrar a atenção diante deste cenário de incertezas?

O setor de transportes e logística é o mais imediato. Rumo é um ativo que podemos destacar para olhar com atenção. As empresas associadas ao setor agrícola. Não somente aquelas da cadeia de grãos. Mas também as companhias que atuam na cadeia de carnes e demais proteínas, uma vez que o grão é o insumo básico para alimentação de bois, frangos e outros animais.

É preciso colocar no radar e acompanhar o desempenho, por exemplo de BRF, JBS e Minerva. Tem que ter cautela principalmente entre aquelas empresas com a produção escoada para exportação.