Bolsonaro indiciado: áudios obtidos em investigação da Polícia Federal mostram militares tramando golpe

A investigação, concluída pela PF na semana passada, levou ao indiciamento de 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro

O programa dominical Fantástico, da TV Globo, conseguiu com exclusividade acesso a 55 áudios que circulavam em grupo de militares de alta patente que, de acordo com a investigação da Polícia Federal (PF), preparavam uma trama golpista após o segundo turno das eleições de 2022. As informações foram publicadas pelo site g1, do Grupo Globo, na noite deste domingo (24).

Segundo a PF, Mario Fernandes, general da reserva e ex-número 2 da Secretária-Geral da Presidência, foi o articulador do plano, que envolvia uma conspiração para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice, Geraldo Alckmin e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

“Qualquer solução, caveira, tu sabe que ela não vai acontecer sem quebrar ovos, sem quebrar cristais”, diz áudio atribuído ao general Mário Fernandes e divulgado pelo Fantástico.

O general se mostra exaltado em várias conversas. “Tá na cara que houve fraude. Tá na cara. Não dá mais pra gente aguardar essa p…”, diz ele.

Últimas em Política

Nesse áudio, de 4 de novembro de 2022, ele alega, sem provas, que houve fraude na eleição. Pessoas próximas a Mario Fernandes e oficiais do Exército responderam assim: “Eu tô pedindo a Deus pra que o presidente tome uma ação enérgica e vamos, sim, pro vale tudo. E eu tô pronto a morrer por isso”, afirma participante do grupo, não identificado. “O presidente tem que fazer uma reunião com o petit comité. Esse pessoal acima da linha da ética não pode estar nessa reunião. Tem que ser a rataria. Tem que debater o que vai ser feito”, afirma um oficial do Exército.

A investigação afirma ainda que os acampamentos em frente a quarteis no final de 2022 faziam parte de um movimento orquestrado pelos militares e que o general Mário Fernandes se comunicava frequentemente com esses grupos.

“Talvez seja isso que o alto comando, que a defesa quer. O clamor popular, como foi em 64. Nem que seja pra inflamar a massa. Para que ela se mantenha nas ruas.”, afirma o general em áudios que circulavam nos grupos golpistas.

Em um outro áudio, Fernandes disse que teve uma conversa com o então presidente Jair Bolsonaro, sobre a diplomação da chapa Lula e Alckimin, no TSE: “Durante a conversa que eu tive com o presidente, ele citou que o dia 12, pela diplomação do vagabundo, não seria uma restrição? Qualquer ação nossa pode acontecer até 31 de dezembro. Tudo. Mas aí na hora: pô, presidente. A gente já perdeu tantas oportunidades”, mostra o áudio.

No dia 12 de dezembro, data da diplomação, manifestantes tentaram invadir o prédio da PF e incendiaram carros e ônibus em Brasília. “O senhor me desculpe a expressão, mas quatro linhas é o c… Quatro linhas da constituição é o c… Nós estamos em guerra, eles estão vencendo, está quase acabando e eles não deram um tiro por incompetência nossa”, afirmou um oficial do Exército.

A investigação apontou que o agente da Polícia Federal Wladimir Matos passou ao grupo que planejava o golpe de estado informações sobre a equipe de segurança e a localização de Lula. A investigação, concluída pela PF na quinta-feira (21), levou ao indiciamento de 37 pessoas, entre elas o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general Walter Braga Netto, candidato a vice na chapa de Bolsonaro; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça; Valdemar Costa Neto, presidente do PL; e Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência.

O Fantástico procurou a defesa do general Mário Fernandes e do Policial Federal Wladimir Matos, presos nesta semana pela Polícia Federal, que não foram localizadas. Procurou também a defesa do tenente-coronel Rafael Martins de Oliveira, o outro preso citado na reportagem, mas não obteve resposta.

Repercussões

Em nota divulgada no domingo (24), a Ordem dos Advogados do Brasil reafirmou o apoio às instituições e à Constituição e defendeu que lideranças políticas incentivem seus partidários a se afastarem de atos de violência e de terrorismo político. A Associação dos Juízes Federais do Brasil também se manifestou. A Ajufe disse que fatos que atentem contra a segurança e integridade pessoal de agentes públicos configuram grave ameaça ao estado democrático de direito. Para a associação, essas práticas devem ser combatidas com o rigor da lei.

Outra entidade a se manifestar foi a Associação dos Magistrados Brasileiros. A AMB afirmou que “um Poder Judiciário independente e sem receio de represálias em razão de suas decisões é essencial para democracia”. Disse ainda que o funcionamento regular das instituições é uma garantia para os direitos fundamentais da população.

Com informações do Valor Econômico

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

Mais em Brasil


Últimas notícias

VER MAIS NOTÍCIAS