Lula enfrenta pressão para indicar ministros

Descontentamento de aliados pode levar à antecipação do anúncio de principais nomes do governo

Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, falou à Globonews (Foto: Ana Paula Paiva/Valor)
Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, falou à Globonews (Foto: Ana Paula Paiva/Valor)

Além da insatisfação do mercado, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passou a ser pressionado internamente pelo amplo leque de aliados políticos para anunciar os seus principais ministros.

Avaliações de pessoas com influência dentro dos grupos técnicos do Gabinete de Transição, coordenado pelo vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB), apontam que há um descontentamento crescente. Diante da pressão, é forte a expectativa de que os primeiros nomes para ocupar a Esplanada, que deveriam ser oficializados apenas em dezembro, possam começar a ser definidos a partir desta semana.

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Fontes ouvidas pelo Valor informaram que o trabalho desenvolvido pelos grupos técnicos poderia caminhar de maneira mais satisfatória com a indicação de alguns ministros. Interlocutores petistas citam principalmente a importância de Lula não perder o “timing” para a escolha do titular da Fazenda.

A definição, argumentam, seria importante para apontar o compromisso fiscal do novo mandato, mas também para que o futuro ministro conduza o processo de transição de uma das pastas mais importantes do governo federal. O ex-ministro da Educação Fernando Haddad, candidato derrotado do PT ao governo de São Paulo, é um dos cotados para chefiar a equipe econômica do novo governo.

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A pressão inicial para que o nome do ministro da Fazenda fosse anunciado de maneira célere com o objetivo de “evitar ruídos”, feita pela senadora Simone Tebet (MDB) dez dias após a vitória de Lula, não foi bem digerida pelo petista. Nos bastidores, o presidente eleito teria demonstrado contrariedade com a aliada pela cobrança pública.

Pessoas no entorno de Lula avaliam que o nome para comandar a Fazenda pode, inclusive, não ser anunciado na primeira leva, justamente para marcar uma posição de que o presidente eleito não vai ser influenciado a partir de demandas diretas do mercado.

Além disso, segundo o Valor apurou, há duas grandes questões que norteiam as discussões no PT em torno da possível nomeação de Haddad para a Fazenda. A primeira é se esta seria a posição adequada para fazê-lo o sucessor de Lula em 2026. Com as contas públicas em situação mais que delicada, a pasta deverá ser um lugar de trabalho árduo, muita pressão e pouco prestígio. Nesse sentido, será difícil gerar a partir da Fazenda uma “marca”, uma realização da gestão com apelo popular que Haddad possa levar para as urnas.

Por isso, setores do PT já especularam outras posições para Haddad, como o comando do Ministério da Infraestrutura. Como “tocador de obra”, isso criaria para ele uma agenda positiva de entregas por todo o Brasil e poderia aproximá-lo de candidatos a prefeito nas eleições municipais de 2024. Os ministérios do Planejamento e das Relações Exteriores também já foram especulados. Mas a Fazenda parece ser, no momento, o lugar mais provável para o qual Lula designe Haddad. Há a compreensão de que o ideal seria apresentar Haddad junto com um “time”, cujos nomes acalmem o cenário.

Na avaliação de parte dos aliados, a demora em definir os primeiros nomes tem dado um sinal de falta de senso de oportunidade para gerar pautas positivas do ponto de vista de comunicação antes do início do governo.

Pessoas próximas ao futuro mandatário defendem que os integrantes do primeiro escalão sejam anunciados de maneira gradativa.

Um ex-ministro petista avaliou em reserva que Lula sabe o tempo certo dos anúncios, mas ponderou que o petista tem ouvido menos conselheiros do que antes. “Ele tem centralizado bem mais as decisões. Todos os detalhes partem dele. Isso ficou mais claro durante a campanha e tem se confirmado após o resultado eleitoral”, destacou.

Houve frustração interna, por exemplo, por Lula não ter divulgado nomes para o comando do Ministério do Meio Ambiente, dos Povos Originários e das Relações Exteriores durante participação festejada na COP27. Havia a expectativa de que a deputada eleita Marina Silva (Rede-SP), por exemplo, pudesse ser anunciada como autoridade climática, um cargo supraministerial que seria criado pelo governo eleito.

“Só o presidente tem os nomes de quem vai indicar. Ele é experiente e sabe a hora certa. Mas entendo que é importante ele não demorar muito e pelo menos anunciar os principais nomes até o final deste mês”, opinou um parlamentar com trânsito no novo governo.

Na tentativa de relativizar as reações do mercado e a pressão sob o presidente, aliados lembram com frequência da postura que Lula assumiu na definição de seu primeiro mandato. Ele demorou mais de um mês para anunciar os primeiros nomes que viriam a ocupar a Esplanada.

Eleito em segundo turno em 2002, Lula levou 44 dias para o primeiro anúncio: Antonio Palocci na Fazenda e Marina Silva no Meio Ambiente. A lista completa só viria a ser conhecida no dia 23 de dezembro daquele ano.

Outro ponto de insatisfação é o número elevado de participantes do Gabinete de Transição. “Não funciona direito. Já são quase 300 nomes e ainda tem grupo para ser fechado. Em alguns momentos, é notória a falta de organização e objetivo”, analisa um parlamentar que integra um dos grupos técnicos.

A partir desta segunda-feira é aguardado o anúncio do grupo técnico da Defesa, uma das poucas áreas que ainda não teve seus integrantes confirmados. Antes de revelar os nomes, o coordenador dos grupos, Aloizio Mercadante, quis validar as indicações pessoalmente com Lula.

“Acho que vocês vão ter uma bela surpresa. Acho que está muito bem construído o grupo. Pela composição do grupo, pela representatividade, pela estatura das pessoas que vão participar”, disse Mercadante, na sexta-feira.

A tarefa do grupo técnico da Defesa, segundo Mercadante, será estabelecer diálogo com as Forças Armadas. Sobre o Ministério da Defesa no novo governo, ele reiterou que o comando caberá a um civil. “O presidente já disse publicamente que o ministro da Defesa será um civil. Foi assim no governo dele e será [no novo]”, frisou.

Apesar do receio generalizado sobre a composição da Esplanada, um dos nomes que desponta como franco favorito é o do senador eleito Flávio Dino (PSB). O ex-governador do Maranhão já trata de temas como futuro ministro da Justiça e Segurança Pública. Questionado sobre o favoritismo, porém, faz questão de ressaltar que a escolha é de exclusividade de Lula.

No fim da semana passada, Dino, que coordena o grupo técnico de Justiça e Segurança Pública, foi pessoalmente até a sede do ministério conversar com o atual titular, Anderson Torres. Junto a auxiliares, combinou reuniões periódicas, estabeleceu áreas prioritárias e delegou tarefas.

Por João Valadares, Matheus Schuch, Andrea Jubé e Vandson Lima (Colaborou Caetano Tonet)

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