Lula chora durante discurso em diplomação no TSE e exalta ‘vitória da democracia’
Lula foi diplomado junto com Alckmin em cerimônia do TSE como etapa final das eleições; presidente chorou durante o discurso e falou em 'fortalecer trabalhador e empresário'
O 39º presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chorou ao discursar durante a cerimônia de diplomação no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nesta segunda-feira (12). O petista recebeu seu terceiro diploma para exercer o cargo de maior autoridade do Executivo federal, já que ele também foi eleito por dois mandatos consecutivos entre 2002 e 2010. O vice-presidente, Geraldo Alckmin, também recebeu o diploma.
Lula chorou ao lembrar que foi eleito em 2002 mesmo sem possuir um diploma universitário. A única formação do presidente eleito é do curso técnico no SENAI. “Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder — para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário — o diploma de presidente da República”, disse o petista ao ser diplomado no TSE.
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Cerimônia de diplomação torna Lula presidente?
A cerimônia de diplomação do presidente e vice-presidente eleitos estava marcada para começar às 14h, mas atrasou enquanto esperava todos os convidados. A diplomação é a última etapa do processo eleitoral ao consagrar o vencedor à Presidência da República,
Ao receber o diploma, Lula é formalizado presidente do Brasil, e Alckmin vice-presidente, respectivamente. A cerimônia valida os mandatos de ambos entre 2023 e 2026, mas a posse oficialmente só acontece no dia 1º de janeiro de 2023.
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No evento, foram entregues a Lula e a Alckmin os respectivos diplomas assinados pelo presidente do TSE, ministro Alexandre de Moraes. Depois da execução do Hino Nacional, Lula discursou.
Em discurso, Lula fala de fortalecer ‘trabalhador e empresário’
Em seu discurso, Lula exaltou a “vitória da democracia” ao comemorar o resultado das urnas em outubro. “Quero dizer que muito mais que a cerimônia de diplomação de um presidente eleito, esta é a celebração da democracia. Poucas vezes na história recente deste país a democracia esteve tão ameaçada. Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida”, disse Lula.
“Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular”, continuou.
Lula citou tentativas de “sufocar a voz do povo” por meio da desqualificação sem provas de urnas eletrônicas, ameaças às instituições e coibição de eleitores antes da chegada aos locais de votação — provavelmente em referência aos bloqueios da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Nordeste.
“Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária, caso contrariassem os interesses de seus empregadores”, acrescentou Lula no discurso.
Em seguida, o presidente eleito destacou a união de frente ampla de partidos que o apoiou durante o primeiro e o segundo turno contra Jair Bolsonaro. Ao final das eleições, 14 partidos se juntaram à agremiação petista de 10 siglas formada no começo.
Lula então acusou o governo Bolsonaro de “desmontar as políticas públicas” e defendeu que sua vitória nas urnas une tanto o trabalhador quanto o empresário.
“Nestas semanas em que o Gabinete de Transição vem escrutinando a realidade atual do país, tomamos conhecimento do deliberado processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional.
Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo, que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas, e fortalece o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares deste país.
Lula também deu destaque para relações bilaterais entre o Brasil e o mundo, bandeira que prevaleceu antes mesmo da posse com a ida à COP27 e o diálogo com chefes de Estado como Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, e Emmanuel Macron, presidente da França.
“Precisamos de instituições fortes e representativas. Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um eficiente sistema de pesos e contrapesos que iniba aventuras autoritárias”, disse o presidente eleito.
Quem compareceu à cerimônia no TSE?
Além de Lula, compareceram à posse outros presidentes brasileiros. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT), estava presente, assim como José Sarney, presidente da República entre 1989 e 1994.
Todos os ministros já nomeados por Lula estavam na plateia, além de Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT. Fernando Haddad (PT), futuro ministro da Fazenda, Rui Costa (PT), futuro chefe da Casa Civil, Flávio Dino (PSB), da Justiça, José Múcio, futuro ministro da Defesa, e Mauro Vieira, que tomará posse como chanceler.
Na tribuna do TSE compareceram ministros da Justiça Eleitoral, assim como Augusto Aras, Procurador-Geral da República, e a ministra Rosa Weber, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal). Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado, e Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, também estavam presentes.
Veja o discurso de Lula da diplomação na íntegra
Em primeiro lugar, quero agradecer ao povo brasileiro, pela honra de presidir pela terceira vez o Brasil.
Na minha primeira diplomação, em 2002, lembrei da ousadia do povo brasileiro em conceder – para alguém tantas vezes questionado por não ter diploma universitário – o diploma de presidente da República.
Reafirmo hoje que farei todos os esforços para, juntamente com meu vice Geraldo Alckmin, cumprir o compromisso que assumi não apenas durante a campanha, mas ao longo de toda uma vida: fazer do Brasil um país mais desenvolvido e mais justo, com a garantia de dignidade e qualidade de vida para todos os brasileiros, sobretudo os mais necessitados.
Quero dizer que muito mais que a cerimônia de diplomação de um presidente eleito, esta é a celebração da democracia.
Poucas vezes na história recente deste país a democracia esteve tão ameaçada.
Poucas vezes na nossa história a vontade popular foi tão colocada à prova, e teve que vencer tantos obstáculos para enfim ser ouvida.
A democracia não nasce por geração espontânea. Ela precisa ser semeada, cultivada, cuidada com muito carinho por cada um, a cada dia, para que a colheita seja generosa para todos.
Mas além de semeada, cultivada e cuidada com muito carinho, a democracia precisa ser todos os dias defendida daqueles que tentam, a qualquer custo, sujeitá-la a seus interesses financeiros e ambições de poder.
Felizmente, não faltou quem a defendesse neste momento tão grave da nossa história.
Além da sabedoria do povo brasileiro, que escolheu o amor em vez do ódio, a verdade em vez da mentira e a democracia em vez do arbítrio, quero destacar a coragem do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral, que enfrentaram toda sorte de ofensas, ameaças e agressões para fazer valer a soberania do voto popular.
Cumprimento cada ministro e cada ministra do STF e do TSE pela firmeza na defesa da democracia e da lisura do processo eleitoral nesses tempos tão difíceis. A história há de reconhecer sua coerência e fidelidade à Constituição.
Essa não foi uma eleição entre candidatos de partidos políticos com programas distintos. Foi a disputa entre duas visões de mundo e de governo.
De um lado, o projeto de reconstrução do país, com ampla participação popular. De outro lado, um projeto de destruição do país ancorado no poder econômico e numa indústria de mentiras e calúnias jamais vista ao longo de nossa história.
Não foram poucas as tentativas de sufocar a voz do povo. Os inimigos da democracia lançaram dúvidas sobre as urnas eletrônicas, cuja confiabilidade é reconhecida em todo o mundo.
Ameaçaram as instituições. Criaram obstáculos de última hora para que eleitores fossem impedidos de chegar a seus locais de votação. Tentaram comprar o voto dos eleitores, com falsas promessas e dinheiro farto, desviado do orçamento público.
Intimidaram os mais vulneráveis com ameaças de suspensão de benefícios, e os trabalhadores com o risco de demissão sumária, caso contrariassem os interesses de seus empregadores.
Quando se esperava um debate político democrático, a Nação foi envenenada com mentiras produzidas no submundo das redes sociais.
Eles semearam a mentira e o ódio, e o país colheu uma violência política que só se viu nas páginas mais tristes da nossa história.
E no entanto, a democracia venceu.
O resultado destas eleições não foi apenas a vitória de um candidato ou de um partido. Tive o privilégio de ser apoiado por uma frente de 12 partidos no primeiro turno, aos quais se somaram mais dois na segunda etapa.
Uma verdadeira frente ampla contra o autoritarismo, que hoje, na transição de governo, se amplia para outras legendas, e fortalece o protagonismo de trabalhadores, empresários, artistas, intelectuais, cientistas e lideranças dos mais diversos e combativos movimentos populares deste país.
Tenho consciência de que essa frente se formou em torno de um firme compromisso: a defesa da democracia, que é a origem da minha luta e o destino do Brasil.
Nestas semanas em que o Gabinete de Transição vem escrutinando a realidade atual do país, tomamos conhecimento do deliberado processo de desmonte das políticas públicas e dos instrumentos de desenvolvimento, levado a cabo por um governo de destruição nacional.
Soma-se a este legado perverso, que recai principalmente sobre a população mais necessitada, o ataque sistemático às instituições democráticas.
Mas as ameaças à democracia que enfrentamos e ainda haveremos de enfrentar não são características exclusivas de nosso país.
A democracia enfrenta um imenso desafio ao redor do planeta, talvez maior do que no período da Segunda Guerra Mundial.
Na América Latina, na Europa e nos Estados Unidos, os inimigos da democracia se organizam e se movimentam. Usam e abusam dos mecanismos de manipulações e mentiras, disponibilizados por plataformas digitais que atuam de maneira gananciosa e absolutamente irresponsável.
A máquina de ataques à democracia não tem pátria nem fronteiras.
O combate, portanto, precisa se dar nas trincheiras da governança global, por meio de tecnologias avançadas e de uma legislação internacional mais dura e eficiente.
Que fique bem claro: jamais renunciaremos à defesa intransigente da liberdade de expressão, mas defenderemos até o fim o livre acesso à informação de qualidade, sem mentiras e manipulações que levam ao ódio e à violência política.
Nossa missão é fortalecer a democracia – entre nós, no Brasil, e em nossas relações multilaterais.
A importância do Brasil neste cenário global é inegável, e foi por esta razão que os olhos do mundo se voltaram para o nosso processo eleitoral.
Precisamos de instituições fortes e representativas. Precisamos de harmonia entre os Poderes, com um eficiente sistema de pesos e contrapesos que iniba aventuras autoritárias. Precisamos de coragem.
É necessário tirar uma lição deste período recente em nosso país e dos abusos cometidos no processo eleitoral. Para nunca mais esquecermos. Para que nunca mais aconteça.
Democracia, por definição, é o governo do povo, por meio da eleição de seus representantes. Mas precisamos ir além dos dicionários. O povo quer mais do que simplesmente eleger seus representantes, o povo quer participação ativa nas decisões de governo.
É preciso entender que democracia é muito mais do que o direito de se manifestar livremente contra a fome, o desemprego, a falta de saúde, educação, segurança, moradia. Democracia é ter alimentação de qualidade, é ter emprego, saúde, educação, segurança, moradia.
Quanto maior a participação popular, maior o entendimento da necessidade de defender a democracia daqueles que se valem dela como atalho para chegar ao poder e instaurar o autoritarismo.
A democracia só tem sentido, e será defendida pelo povo, na medida em que promover, de fato, a igualdade de direitos e oportunidades para todos e todas, independentemente de classe social, cor, crença religiosa ou orientação sexual.
É com o compromisso de construir um verdadeiro Estado democrático, garantir a normalidade institucional e lutar contra todas as formas de injustiça, que recebo pela terceira vez este diploma de presidente eleito do Brasil – em nome da liberdade, da dignidade e da felicidade do povo brasileiro.
Muito obrigado.