Campos Neto vira alvo de Lula na semana em que Copom manteve Selic em 10,50%

Entre outras críticas, presidente da República chamou o chefe do Banco Central de 'adversário político'

Lula durante entrevista à rádio CBN; presidente fez uma série de críticas à atuação de Campos Neto no Banco Central. Ricardo Stuckert/PR
Lula durante entrevista à rádio CBN; presidente fez uma série de críticas à atuação de Campos Neto no Banco Central. Ricardo Stuckert/PR

O presidente Lula voltou a elevar na sexta-feira (21) o tom contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Dois dias depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) interromper o ciclo de cortes na taxa básica de juros do país. Na avaliação de Lula, o chefe do BC é um “adversário político” e “ideológico” do seu governo.

Além disso, o presidente disse acreditar que Roberto Campos Neto também é um adversário da sua gestão quando o assunto é o “modelo de governança” do Banco Central. A crítica do petista faz referência à autonomia do BC, adotada em 2021, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi o autor da indicação de Roberto Campos Neto para o mandato no banco.

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“O presidente do Banco Central é um adversário político, ideológico e do modelo de governança que temos. Ele foi indicado pelo governo anterior e faz questão de demonstrar que não está preocupado com a nossa governança”, disse Lula em entrevista à rádio Mirante News, do Maranhão, onde o presidente cumpriu agenda política.

Sucessor no BC

O presidente lembrou, em seguida, que o mandato de Roberto Campos Neto se encerra em dezembro deste ano, quando Lula poderá indicar um novo nome para assumir o controle do BC. Sobre isso, Lula deu a entender que, após isso, as coisas “vão voltar à normalidade”. “Está chegando a hora de indicar um novo presidente do Banco Central e acho que as coisas vão voltar à normalidade”, afirmou.

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Lula aproveitou o tema para reclamar dos bancos privados no Brasil, que, segundo ele, preferem trabalhar com juros altos do que oferecer crédito. “Os dois bancos públicos do Brasil têm mais carteira de crédito do todos os bancos privados juntos, porque eles não querem oferecer crédito”, citou o presidente.

Por fim, Lula comentou a desvalorização do real frente ao dólar. Isso porque a moeda americana atingiu ontem o maior nível frente à moeda brasileira desde julho de 2022, a R$ 5,4622. “Como só tem um lugar que fabrica o dólar, quando eles mexem na moeda, isso mexe com a gente aqui. Mas nós já provamos uma vez e vamos provar de novo”, respondeu Lula.

‘Quem perde é o povo brasileiro’

Na quinta-feira (20), à rádio “Verdinha”, de Fortaleza (CE), Lula comentou que foi uma “pena” a decisão do Copom. Para o presidente, quem perdeu com essa decisão, de manter a Selic em 10,5%, foi o “povo brasileiro”. Lula acusou também o Banco Central de “investir no sistema financeiro” e “nos especuladores que ganham dinheiro com juros”.

“Foi uma pena que o Copom manteve os juros porque quem está perdendo é o povo brasileiro. Quando mais alto os juros, menos dinheiro sobra para a gente investir aqui dentro [do Brasil] A decisão do BC não foi investir no povo brasileiro, foi investir no sistema financeiro, nos especuladores que ganham dinheiro com juros”, disse o presidente.

Henrique Meirelles

Lula voltou a cutucar na ocasião o atual presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ao defender que ele tem “tanta autonomia” quanto o Henrique Meirelles, ex-presidente do BC, tinha durante seus primeiros mandatos como presidente da República.

“O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom ou BC. O Meirelles tinha autonomia comigo tanto como esse que está aí [Roberto Campos Neto]. Resolveram [no Congresso] entender que deveria ser colocado um presidente do BC que tivesse autonomia financeira. Autonomia do BC em relação quem? Para servir quem? Atender quem?”, questionou, em tom irônico.

Por fim, o presidente da República acusou os bancos brasileiros de preferirem “ganhar dinheiro” com juros altos em vez de oferecer crédito. “Por que não se transforma em gasto a taxa de juros que pagamos? Os bancos privados preferem, em vez de oferecer crédito, ganhar com juros altos”, complementou.

Com informações do Valor Econômico

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