Bolsonaro sabia e participou da tentativa de golpe, aponta relatório da Polícia Federal

Ex-presidente era avisado diariamente sobre o planejamento e o andamento dos atos

Jair Bolsonaro sabia da trama golpista. Esta é a conclusão do inquérito da Polícia Federal que indiciou 37 pessoas, entre elas o ex-presidente. De acordo com o texto, há, nos autos, “relevantes e robustos elementos de prova que demonstram que o planejamento e o andamento dos atos eram reportados a Jair Bolsonaro, diretamente ou por intermédio de Mauro Cid.

“As evidências colhidas, tais como os registros de entrada e saída de visitantes do Palácio do Alvorada, conteúdo de diálogos entre interlocutores de seu núcleo próximo, análise de ERBs, datas e locais de reuniões, indicam que Jair Bolsonaro tinha pleno conhecimento do planejamento operacional (Punhal Verde e Amarelo), bem como das ações clandestinas praticadas sob o codinome Copa 2022”.

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De acordo com a PF, a consumação do golpe de Estado perpetrado pela organização criminosa não ocorreu, apesar da continuidade dos atos para conclusão da ruptura institucional, por circunstâncias alheias à vontade do então presidente da República.

Segundo a PF, a posição pelo golpe foi mantida mesmo depois que os comandantes do Exército e da Aeronáutica, general de Exército Freire Gomes e Tenente-Brigadeiro do Ar Baptista Junior, e da maioria do Alto Comando do Exército, se permanecerem fiéis aos valores que regem o Estado Democrático de Direito, não cedendo às pressões golpistas.

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Núcleos da tentativa de golpe de Estado

Na decisão em que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou o sigilo dos autos sobre a tentativa de golpe de estado no Brasil desta terça-feira (26), ele informa que a Polícia Federal identificou seis núcleos de atuação dos golpistas. São eles:

O primeiro núcleo é o de Desinformação e Ataques ao Sistema Eleitoral, cuja forma de atuação seria a produção, divulgação e amplificação de notícias falsas quanto a lisura das eleições presidenciais de 2022 com a finalidade de estimular seguidores a permanecerem na frente de quartéis e instalações das Forças Armadas. O objetivo era criar o ambiente de caos propício para o Golpe de Estado.

Faziam parte desse grupo: Mauro Cid, Anderson Torres, Angelo Martins Denicoli, Fernando Cerimedo, Eder Lindsay Magalhães Balbino, Hélio Ferreira Lima, Guilherme Marques Almeida, Sergio Ricardo Cavaliere de Medeiros e Tércio Arnaud Tomaz.

O segundo núcleo seria o responsável por incitar militares a aderir ao Golpe de Estado, para isso os integrantes deste grupo elegiam alvos para amplificação de ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investidas golpistas. Os ataques eram realizados a partir da difusão em múltiplos canais e por meio de influenciadores em posição de autoridade perante a “audiência” militar. Os integrantes deste núcleo são: Braga Netto, Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, Ailton Gonçalves Moraes Barros, Bernardo Romão Correa Neto e Mauro Cid.

O terceiro núcleo foi o responsável pelo suporte jurídico ao golpe. Para isso, trabalhou no assessoramento e na elaboração de minutas de decretos com fundamentação jurídica e doutrinária que atendessem aos interesses golpistas. Os integrantes são Filipe Martins Pereira, Anderson Torres, Amauri Saad, José Eduardo Oliveira e Silva e Mauro Cid.

O quarto núcleo é o Operacional de Apoio às Ações Golpistas, em que os integrantes agiam a partir da coordenação e interlocução com o então ajudante de ordens do presidente Bolsonaro, Mauro Cid, em reuniões de planejamento e execução de medidas para manter as manifestações em frente aos quartéis militares, incluindo a mobilização, logística e financiamento de militares das forças especiais em Brasília. Integrantes: Sérgio Cavaliere de Medeiros, Bernardo Romão Correa Neto, Hélio Lima, Rafael Martins de Oliveira, Ale de Araújo Rodrigues e Cleverson Ney Magalhães.

O núcleo número cinco é de Inteligência Paralela, em que os integrantes faziam a coleta de dados e informações que pudessem auxiliar a tomada de decisões do então presidente Bolsonaro na consumação do Golpe de Estado. Ainda estava na função deste núcleo monitorar o itinerário, deslocamento e a localização do ministro Alexandre de Moraes e de possíveis outras autoridades da República com objetivo de captura e detenção quando da assinatura do decreto de Golpe de Estado. Integrantes: Augusto Heleno, Marcelo Costa Câmara e Mauro Cid.

O sexto e último núcleo era composto por oficiais de alta patente com influência e apoio a outros núcleos. Os integrantes desse grupo utilizavam-se da alta patente militar que detinham para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos de atuação por meio do endosso de ações e medidas a serem adotadas para consumação do Golpe de Estado. Integrantes: Braga Netto, Almir Garnier Santos, Mario Fernandes, Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, Laércio Vergílio e Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.

Ainda de acordo com a decisão de Moraes, esses núcleos compunham a organização criminosa que atuava em cinco eixos: ataques virtuais a opositores; ataques às instituições como Supremo Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral, ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral; tentativa de Golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; ataques às vacinas contra a Covid-19 e às medidas sanitárias na pandemia; e, por fim, o uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagens.

O uso da máquina pública teria ocorrido por meio de: uso de cartões corporativos para pagamento de despesas pessoais; inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas do Ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina e o desvio de bens de alto valor patrimonial entregues por autoridades estrangeiras ao então presidente da República, Jair Bolsonaro.

Com informações do Valor Econômico

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