Análise: Bolsonaro intervém no QG de campanha e assume mobilização da máquina para a eleição

Insatisfeito com o engajamento de ministros e parlamentares, presidente cobra ação estruturada nos estados, diz Fábio Zambeli, do JOTA

Jair Bolsonaro durante passeio de motocicleta quando ocupava o cargo de presidente. Foto: Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro durante passeio de motocicleta quando ocupava o cargo de presidente. Foto: Alan Santos/PR

Faltando três meses para o primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL), enfim, assumiu a frente da sua estratégia eleitoral. Numa tentativa inédita de organizar a base de apoio político e a estrutura da máquina pública em favor da conquista de novo mandato, o presidente passou a orientar diretamente ministros, dirigentes de órgãos federais e caciques dos partidos que dão sustentação ao Executivo sobre as “palavras-chave” da campanha pela reeleição.

A mudança de conduta, demarcada esta semana com reuniões ministeriais e conversas periódicas com puxadores de votos nos estados, surpreendeu até mesmo integrantes do QG eleitoral bolsonarista, notadamente os caciques do PL, PP e Republicanos.

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O representante da família do presidente no comitê, o senador Flávio Bolsonaro (PL), é um dos entusiastas da iniciativa, que visa, no entendimento dos governistas, criar uma “dinâmica operacional” entre os principais porta-vozes do Planalto na caça aos votos.

A ideia de Bolsonaro é surfar na agenda positiva que ele acredita estar impulsionando nos meses decisivos da disputa eleitoral, sobretudo com a vigência dos novos auxílios à população carente e o barateamento dos combustíveis.

Nas palavras do chefe do Executivo, cabe à campanha alimentar os aliados com as mensagens mais poderosas para o eleitor comum. Na visão de Bolsonaro, a força-tarefa tem como objetivo furar o que ele chama de “bloqueio da mídia tradicional”, crítica às iniciativas de sua gestão.

O núcleo digital da campanha está envolvido diretamente nessa empreitada e pretende recorrer aos influenciadores indicados pelo presidente para disseminar os “feitos do governo”, além de impulsionar a desconstrução do principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O movimento tem como mentores os membros da ala ideológica do Planalto, que vinham se distanciando da tomada de decisões no QG bolsonarista.

“O governo está onipresente na vida dos brasileiros. Agora, que temos boas notícias, como os auxílios e a queda do preço dos combustíveis, cabe a quem está na ponta fazer essa comunicação com o povo”, resumiu ao JOTA um dos estrategistas de Bolsonaro, reproduzindo a cobrança do presidente.

Esse grupo produziu um documento com 55 “realizações” da atual gestão, perpassando temas como segurança, liberdade econômica, assistência social, infraestrutura e tecnologia. O material servirá de referência para as publicações em redes sociais e discursos.

Palanques

Um dos mais enfáticos apelos de Bolsonaro a seu time está ligado aos palanques regionais. Ele tem dito a auxiliares que acredita que atores relevantes do seu governo e de sua base de sustentação no Congresso têm peso eleitoral em estados fundamentais para sua estratégia e estariam atuando prioritariamente em suas respectivas candidaturas, sem o devido empenho no projeto nacional. O presidente menciona especificamente a ex-ministra Tereza Cristina (na região Centro-Oeste) e os ex-ministros João Roma e Rogério Marinho (na região Nordeste) e Tarcísio Freitas (na região Sudeste).

Nessa nova engenharia da campanha, o general Walter Braga Netto, provável vice na chapa, tem papel de liderança, pois é considerado especialista em logística de guerra. Caberá a ele a concepção das diretrizes do programa de governo e distribuição de tarefas em cada unidade da federação, ao lado de outro general, Eduardo Pazuello — ambos ex-ministros e com forte atuação no Rio de Janeiro.

Sinal amarelo

A campanha de Bolsonaro recebeu como uma “advertência” a manifestação do presidente do TSE, Edson Fachin, que disse nesta quarta-feira que pautará para o mês de agosto um “número expressivo” de representações sobre as chamadas motociatas.

Fachin não citou o nome de Bolsonaro, mas enfatizou que as representações dizem respeito a “determinado candidato que realiza locomoções em veículos de duas rodas”.

O tema preocupa os bolsonaristas, pois, com as restrições legais para participação do presidente em inaugurações e eventos oficiais, as tradicionais motociatas tendem a ser intensificadas entre os meses de julho e setembro.

(Por Fábio Zambeli, analista-chefe do JOTA em Brasília)
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