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PIB do Brasil pode recuar pelo menos 0,3 ponto por efeito de enchentes no Rio Grande do Sul
O PIB do Brasil para 2024 pode sofrer um revés com as enchentes do Rio Grande do Sul. O estado representa 6,5% de todo o Produto Interno Bruto e é assolado por enchentes desde o final de abril. Economistas estimam que a paralisação de empresas, perdas de safra e danos às indústrias da região podem levar a uma queda da atividade econômica, além da perda de produtividade.
As enchentes no Rio Grande do Sul já fizeram 116 vítimas fatais e afetam cerca de 1,9 milhões de pessoas, conforme os últimos dados da Defesa Civil do Estado. Segundo um relatório do Itaú BBA, o impacto da calamidade pública no PIB de 2024 deve chegar a 0,3 ponto percentual. Mas outros economistas explicam que ainda é cedo para calcular o estrago.
Como as enchentes no Rio Grande do Sul podem afetar o PIB do Brasil?
Com base no PIB do Brasil em 2021, o Itaú calcula em relatório que o PIB do Rio Grande do Sul tem peso de 6,5% em toda produção nacional bruta.
Do total das atividades que compõem o PIB do Rio Grande do Sul, a maior parte vem do setor de serviços, que responde por 61%. A indústria vem em segundo lugar, com 24% e, por fim, o agronegócio contribuiu com 15%.
De acordo com estimativas do banco, as enchentes devem provocar queda de 0,1 p.p. do PIB do agronegócio em 2024, principalmente pela perda de cerca de 4% da safra de soja no Rio Grande do Sul.
Dentro da parcela de 24% do setor de indústria, 18 pontos percentuais correspondem à indústria de transformação. O Itaú BBA prevê queda de 0,1 a 0,2 p.p. do PIB no Brasil com as enchentes na região. O banco destaca que a paralisação pode levar a uma baixa de produtividade “semelhante ao covid” na indústria.
O maior ponto de atenção, segundo o banco, gira em torno de “alguma destruição de capacidade” em indústrias próximas de Porto Alegre.
Assim, na última linha, o Itaú BBA estima um impacto de 0,3 p.p. no PIB do Brasil em 2024.
Perda no PIB pode chegar a R$ 30 bilhões
Ao calcular a queda percentual em valores, o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, afirma que o impacto pode se traduzir em R$ 30 bilhões no PIB do Brasil.
“Vale destacar que esse não é o custo da reconstrução, nem o prejuízo com o estoque de infraestrutura”, avalia Gala.
Claudio Considera, economista e autor do Monitor PIB, do FGV IBRE, afirma que 25 municípios gaúchos respondem por pelo menos metade do PIB do estado. Ou seja, com mais de 80% dos municípios atingidos, “estamos falando de um impacto em uma região responsável por 3,5% do PIB”, diz.
Mesmo assim, para o economista, ainda é difícil calcular efetivamente os danos.
“O PIB do Brasil vai ser atingido certamente, mas o quanto eu não sei. Brumadinho teve efeito sobre o PIB do país, o mesmo ocorreu quando houve a greve dos caminhoneiros”, aponta Considera.
“Todos vão reduzir as previsões de PIB comparado com o dado antes das enchentes.”
Claudio Considera, autor do Monitor PIB, do FGV Ibre
Além do PIB: ‘Enquanto a água não baixar, não sei o que perdi’
A programadora Marina Rocha detalha como sua própria vida foi afetada pelas enchentes. Ela explica que serviços básicos e produtos como comida têm sido difíceis de acessar. O próprio trabalho remoto que realiza como desenvolvedora de software, que depende de conexão, sofre com a falta de internet.
Marina estava em Canoas (RS) quando as enchentes começaram. Teve que sair da cidade. Levou consigo quatro animais de estimação, uma fonte de energia e o computador profissional. “O pessoal eu deixei em casa”, conta à Inteligência Financeira.
Foi por meio de uma foto que recebeu de um supermercado local que soube que sua casa em Canoas ficou totalmente submersa. “O mercado é num lugar mais alto que minha própria casa. Enquanto a água não baixar, não sei o que perdi”, diz a programadora.
Marina relata dificuldades para retornar à rotina normal de trabalho. “Meu lugar de trabalho agora é uma cadeira de praia”.
A história dela se assemelha a de outros 337 mil desalojados pelas chuvas, segundo o último dado da Defesa Civil do Rio Grande do Sul.
Para Considera, o setor de serviços tende a sentir mais o impacto das enchentes no Rio Grande do Sul. “As pessoas não conseguem sair de casa, não estão consumindo.”
Já Paulo Gala lembra que o estado tem importantes polos industrias que, por enquanto, estão parados. O Sul é muito industrial, tem contribuição de 6% para o PIB da indústria no Brasil”, afirma.
O destaque vai para a indústria petroquímica: a Braskem, por exemplo, interrompeu atividades no polo Triunfo.
“O setor petroquímico afeta todas as outras indústrias porque produz polietileno, resina, e mais materiais de base usados pela cadeia produtiva”, pontua Gala.
MB Associados: impacto no PIB do Brasil pode chegar a 0,4 p.p.
Em relatório, a consultoria MB Associados afirma que o impacto das enchentes pode chegar a 0,4 p.p. do PIB de 2024.
“A MB já espera 2% de PIB este ano e se havia chance de revisão para cima, a tragédia gaúcha diminui essa possibilidade. Reforçamos assim nosso número de 2% e diminuímos a chance de números mais próximos de 2,5%, que poderia ser uma possibilidade”, diz a equipe de economistas da consultoria.
O relatório compara as enchentes no Rio Grande do Sul com a inundação do estado norte-americano de New Orleans, em 2005, quando enfrentou cheias após o furacão Katrina.
“Talvez, o melhor comparativo seja com crises climáticas semelhantes no passado e o furacão Katrina, em 2005, possa ser o mais parecido com o tipo de devastação com que o Sul está vivendo.”
Saiba como ajudar as vítimas da tragédia no Rio Grande do Sul.
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