O que esperar da Eletrobras (ELET3, ELET6) se Lula ou Bolsonaro vencer a eleição

Independentemente de quem seja eleito, a empresa tem desafios a serem resolvidos a curto e médio prazos

Eletrobras foi privatizada em processo realizado em junho de 2022. (Foto: Rafael Henrique/Reuters)
Eletrobras foi privatizada em processo realizado em junho de 2022. (Foto: Rafael Henrique/Reuters)

Maior empresa de geração e transmissão de eletricidade do país, a Eletrobras (ELT3, ELET6) ganhou novo papel no mercado de energia depois de privatizada. A expectativa do mercado é de que a empresa reassuma protagonismo que possuía no setor, com a realização de novos e vultuosos investimentos, especialmente em energias renováveis, seguindo o caminho de seus pares.

Como uma “corporation”, empresa sem controle acionário definido, livre das amarras vistas em estatais para compra de bens e serviços e para contratação de pessoal, a Eletrobras tende a trocar manchetes sobre indicações políticas (e suas implicações) por investimentos, crescimento e governança. No entanto, como não se pode ignorar o fato de que o governo ainda é um acionista relevante – ainda que minoritário no conjunto – é natural que o mercado queira saber o que vai ser da empresa após a apuração dos votos dos candidatos à Presidência da República.

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Independentemente de quem seja eleito – Luiz Inácio Lula da Silva ou Jair Bolsonaro, os dois primeiros colocados nas pesquisas; portanto, com mais chances de se eleger –, a Eletrobras tem desafios a serem resolvidos a curto e médio prazos. Entre eles estão a definição de estratégia para o mercado livre (segmento onde o consumidor pode escolher o próprio gerador), a diversificação de seu portfólio de geração, majoritariamente hidrelétrica, a alavancagem sadia, a disputa por espaço em tecnologias disruptivas, como hidrogênio verde, e uma reestruturação que a torne uma empresa ágil e inovadora.

Quais são as chances da privatização da Eletrobras ser desfeita?

Sendo Lula eleito, a chance da privatização da Eletrobras ser desfeita é próxima de zero, na visão de especialistas. Os custos e as consequências de uma reversão da capitalização são elevados, a repercussão no mercado financeiro seria negativa e o ônus político, alto, frente a outros temas prioritários, que exigiriam mais atenção do governo. Uma das medidas adotadas na privatização, a “poison pill” (dispositivo que impede ofertas hostis para compra de ações), estabelece um custo de três vezes o valor da ação em caso de recompra de participação pelo governo.

Além disso, a União ainda detém participação acionária relevante e uma “golden share” (ação especial que garante poder de veto para temas estratégicos), o que ainda garante certa ascendência sobre a companhia. Caso o eleito seja Bolsonaro, a chance de que a privatização seja desfeita é nula, uma vez que no segundo mandato, o governo se voltaria para novas privatizações e não haveria lógica de se reverter uma iniciativa que o próprio Bolsonaro patrocinou.

Como deve ficar a governança e a gestão da Eletrobras após as eleições?

A perspectiva é de que seja mantida a governança da companhia, independentemente de quem seja eleito. O conselho de administração eleito é considerado de alto nível pelo mercado e há planos de que a Eletrobras migre para o Novo Mercado da B3, o mais elevado nível de governança corporativa da bolsa. A previsão é que o processo seja concluído no fim do primeiro semestre de 2023. A gestão guiada por resultados e eficiência, com o retorno de Wilson Ferreira Jr deve ter mais foco a partir do ano que vem. Uma nova reestruturação deve ocorrer na empresa, de modo a aproveitar sinergias entre as subsidiárias. O executivo, por sinal, anunciou a criação de um “escritório da transformação”, ligado diretamente a ele, centralizando as decisões e iniciativas da nova Eletrobras.

Pode-se esperar algum nível de interferência política na Eletrobras?

As eleições deste ano serão um primeiro teste para a Eletrobras privada, no modelo de “corporation”. A expectativa é que poucas interferências ocorram na companhia, já que a escolha de diretores seguirá critérios profissionais. Eventualmente, algum nome indicado ao conselho ou diretoria da Eletrobras, ou de uma das subsidiárias, pode ser ligado diretamente ao governo, uma vez que a União é acionista relevante da companhia, mas qualquer ingerência indevida tende a ser neutralizada pelos canais competentes da companhia.

O uso político na empresa pode ser mais sensível, porém, num eventual governo Lula, em decisões de investimentos. Um caso semelhante ocorreu na Vale, que decidiu comprar novos navios para transporte de minério de ferro no exterior e foi alvo de críticas do então presidente Lula, que queria a fabricação das embarcações no Brasil. No caso do governo Bolsonaro, o mais provável é que ele possa ser mais ativo em futuras eleições de conselheiros.

Quais investimentos a Eletrobras deve priorizar no próximo governo?

No governo Dilma Rousseff, a Eletrobras assumiu o papel de parceiro estratégico de empresas privadas em projetos estruturantes, como as hidrelétricas de Santo Antônio, Jirau – ambas no Rio Madeira – e Belo Monte, no Pará. Como era uma estatal, a Eletrobras funcionava como uma espécie de garantidora para financiamento de projetos. Um exemplo recente dessa atuação ocorreu na usina de Santo Antônio. Após perder arbitragem, foi necessário aporte de capital para pagar os custos do processo vencido pelo consórcio construtor da usina. Como os demais acionistas não quiseram fazer o aporte de capital, Furnas se viu obrigada a arcar com a parte dos demais sócios, diluindo a participação deles na hidrelétrica.

Agora privada, a companhia tenderia a investir em renováveis, especialmente eólicas e solares, fontes com implantação rápida e de baixo custo de instalação. Uma saída para acelerar os novos investimentos seria por meio de aquisições de projetos (ou mesmo de empresas inteiras) ou criação de joint-ventures para projetos específicos. A Vibra, ex-BR Distribuidora, cujo modelo de privatização inspirou a capitalização da Eletrobras, apostou em joint-ventures e em aquisições para entrar em novos segmentos. A Eletrobras também deve priorizar a comercialização de energia, com a criação de novos produtos e serviços, de olho na abertura do mercado que vem sendo realizada há alguns anos.

Como será a relação da Eletrobras e seus acionistas?

Embora seja privada, a União detém cerca de 40% de participação acionária. No entanto, pelas regras da privatização, a empresa tem voto limitado a 10% de participação, como os demais acionistas relevantes. Isso ajuda a reduzir influências em decisões de investimentos. Uma questão que pode ser motivo de divergências entre os acionistas pode ser a distribuição de dividendos. Empresas de energia são vistas em geral como boas pagadoras de dividendos. Analistas de instituições financeiras têm apontado potencial de valorização nas ações da Eletrobras, o que significaria robustos dividendos para o governo – dinheiro importante para a União em cenário de deterioração fiscal.

Outro ponto que pode favorecer uma boa relação com os acionistas é o fato de que a empresa ganhou mais de 370 mil novos investidores, que aplicaram recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), perfil de público com o qual o ex-presidente Lula tem mais proximidade. O governo Bolsonaro pediu em junho às estatais (Banco do Brasil, Petrobras, BNDES e Caixa) que antecipassem a distribuição de dividendos, a fim de facilitar o fechamento das contas no azul. Pedidos semelhantes poderiam ocorrer no ano que vem, por Bolsonaro ou Lula, para pagamentos maiores, mas neste caso, a decisão dependeria de aprovação em assembleia.

Por Fábio Couto

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