FIDC, DIP Funding e Vaquinha: uma análise sobre as soluções para as dívidas de São Paulo, Vasco e Corinthians

No fim do dia, o que conta mesmo são as boas gestões no futebol e um mercado financeiro atento

“Vaquinha” da torcida do Corinthians para pagar a dívida da Neoquímica Arena junto à Caixa é viável?

Na semana passada, falamos sobre a operação de FIDC do São Paulo FC, e que era a chegada do mercado de capitais ao futebol de forma mais estruturada. Ainda que tenhamos visto outras operações semelhantes, como o FIDC para a construção da Arena MRV, o caso são-paulino é o primeiro que busca acessar um mercado ainda desconfiado sobre o futebol.

Também vimos outras movimentações que jogam a favor dessa tendência de modernização das relações financeiras do futebol. Houve o financiamento que o BTG está estruturando no Vasco e a “vaquinha” da torcida do Corinthians para a dívida da Neoquímica Arena junto à Caixa.

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Recentemente, saiu a divulgação do lançamento da primeira Debênture-Fut, realizado pelo Atlético-MG. A captação de R$ 105 milhões terá remuneração de CDI+3,5%. O destino tende a ser o bolso dos acionistas, dada a remuneração baixa e descolada do risco do clube.

Problemas no Vasco

Voltando às operações mais “apimentadas”, vamos começar com a do Vasco da Gama. Não é segredo que a SAF enfrenta problemas financeiros graves em função do imbróglio entre associação e 777 Partners, fundo americano que comprou 70% da sociedade.

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O fundo está sob intervenção, com mandato de venda de seus ativos. Havia um compromisso da 777 de fazer aportes ao longo do ano, e a situação deixou a SAF sem dinheiro.

Com pouca margem de manobra, a atual gestão, que vive certo compartilhamento entre SAF e associação, optou por uma saída típica de quem está em recuperação judicial. Tomou dinheiro caro, com garantias pesadas, e que tem prioridade de recebimento em relação a outros credores, numa espécie de DIP Financing (Debtor em Possession).

Usualmente este tipo de operação ocorre dentro de uma recuperação judicial, e dá ao novo credor proteção em relação ao financiamento. Ele obtém garantias mais robustas e prazos menores, em contrapartida a oferecer dinheiro novo e fundamental para que a operação siga de pé.

O Vasco da Gama SAF está estruturando sua recuperação judicial, e operação de R$ 165 milhões do BTG entra nesse contexto. O clube pagará CDI+11,5% ao ano. Ou seja: 22,25% ao ano. A garantia são os 59% das ações da SAF e recebíveis de contratos de direitos de transmissão futuros. O Vasco está na LFU e os contratos de transmissão ainda estão em negociação.

Como o BTG vai ganhar dinheiro

Minha sensação é de que o BTG não ganhará apenas no empréstimo. Mas deve fazer parte do processo de M&A da SAF (venda da SAF). Este dinheiro novo pode ter vindo na esteira do entendimento de que a venda ganha viabilidade se a SAF não se deteriorar ainda mais.

Aliás, a presença do BTG cada vez mais forte e movimentações recentes na XP indicam que a empresa que iniciou o processo de aproximação do mercado de capitais com o futebol pode estar tirando o pé do setor. A conferir.

Dinheiro do Vasco é caro

Alguém pode dizer que a operação do Vasco é leonina. Cara, com muitas garantias, inclusive as ações da SAF, e isto é ruim para o clube.

Se compararmos com o CDI+5% (valor da cota SR) do São Paulo, e com estrutura e garantias bem mais palatáveis, o dinheiro do Vasco é caro. Mas a situação do clube carioca é incomparável: receitas não evoluíram, o acionista está dissolvendo, o clube tem dívidas e está com caixa estrangulado. A solução, por mais dolorosa que pareça, é a possível.

O cenário é duríssimo, e a operação em questão é a solução possível, até que surja um novo dono.

Tudo fruto de uma decisão equivocada na escolha de um parceiro que não era do futebol. Sem uma prova clara da origem do dinheiro. E com um plano de crescimento incompatível com a realidade do futebol e que começou o processo com declarações irreais.

Agora, porém, é esperar que este seja o último dinheiro caro, que a recuperação judicial seja homologada, que surja um novo acionista com planejamento e um plano exequível, e não mais um criador de ilusões.

Mercado financeiro entrando no futebol

De qualquer forma, é o mercado financeiro e suas armas entrando em ação na indústria do futebol, e mais um passo dado em direção ao amadurecimento. A vaquinha do Corinthians é viável? A ver.

Crescer dói, mas é preciso passar por isso se quisermos um futebol mais bem estruturado no futuro.

Vaquinha no Corinthians

Futuro que é o que a torcida do Corinthians tenta construir com a ideia da “vaquinha” para o pagamento da dívida da Neoquímica Arena. Uma dívida de R$ 710 milhões e que custa mais de R$ 90 milhões anuais ao clube do Parque São Jorge.

A chamada “vaquinha” é, nos termos da Faria Lima, um crowdfunding. Ou seja: um financiamento pulverizado, quase como doação, ou em troca de algum benefício nem sempre financeiro.

No futebol mundial temos casos como o do Watford, clube inglês da Championship, que está captando recursos para infraestrutura. Em troca oferece participação acionária no clube.

Ou do FC Clivense, clube italiano da 4ª divisão, que aumentou sua base de acionistas a partir de um crowdfunding.

No caso do Watford falamos de cerca de £ 4 milhões. Já no Clivense foram € 500 mil, sempre com recebimento de ações em troca da contribuição. Valores pequenos, com retorno de ativo. Já pela Neoquímica Arena, a ideia parece ser apenas juntar recursos e pagar a dívida.

Torcida corintiana mais preocupada com a dívida

Trata-se de uma ação bastante ousada.

Porque o valor é elevado, não há nada em troca ou porque estão trabalhando a favor de uma estrutura de gestão frágil, que trouxe dívidas e dificuldades.

É só pelo amor, mesmo.

Mas é um sinal interessante. A torcida está mais preocupada com a dívida que os dirigentes, que mantém o pé no acelerador, mesmo com um muro se aproximando.

Quando a torcida é mais consciente que a direção, há algo errado.

Torcedores seriam melhores negociadores?

É possível buscar alternativas melhor estruturadas junto ao mercado financeiro. Mas isso requer capacidade de negociação no clube, e entendimento da realidade.

Talvez seja melhor chamar os torcedores para negociar.

O fato é que vemos movimentos que se somam na direção de estruturas que visam melhorar a saúde financeira dos clubes de futebol.

Independentemente do desenho e de quem está patrocinando, observar que há uma preocupação. E que o mercado começa a olhar o futebol sem tanto preconceito é positivo.

Boas gestões no futebol e um mercado financeiro atento podem se transformar no ataque dos 100 gols.

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