Nelson Tanure deve assumir rede Dia; fusão com GPA (PCAR3) está no radar

Negócio poderia criar grupo nacional de varejo mais robusto

Avanço do atacarejo e 'persistentes resultados negativos' estão entre os motivos para a rede de supermercados Dia pedir recuperação judicial no Brasil. Foto: Divulgação
Avanço do atacarejo e 'persistentes resultados negativos' estão entre os motivos para a rede de supermercados Dia pedir recuperação judicial no Brasil. Foto: Divulgação

O investidor Nelson Tanure deve assumir o controle da rede de supermercados Dia e, passada a fase de renegociação de débitos e reestruturação da cadeia, deve partir para a criação de um grupo nacional de varejo mais robusto, segundo fontes ouvidas pelo Valor. “A intenção é criar uma ‘corporation’ de varejo alimentar”, diz uma pessoa a par do projeto.

No radar, neste momento, pelas análises preliminares, há interesse de uma fusão do Dia com o GPA (PCAR3), dono da rede Pão de Açúcar, apurou o Valor. Maurício Quadrado, ex-sócio do Banco Master, instituição parceira de Tanure de longa data em outros negócios, tem assessorado o investidor para a discussão de um desenho viável.

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Quadrado deixou o Master em setembro, e ficou com o Letsbank, subsidiária do Voiter (antigo Indusval), que foi comprado pelo Master no início deste ano. Por meio dessa licença está montando o seu banco de investimento, que inclui as gestoras Macam e MAM.

Não há, neste momento, negociações em andamento entre GPA e Tanure porque o foco é finalizar a recuperação judicial em 2025, colocando a rede Dia de pé, e então avaliar ativos de varejo com potencial para a criação desse novo negócio. Apesar disso, nas conversas de Tanure com assessores, o Valor apurou que já haveria algum desenho sendo considerado com o GPA.

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A marca Dia poderia ser descontinuada nesse processo, e traria consigo cerca de 300 pontos imobiliários de alto valor, e o foco seria a marca Pão de Açúcar.

Nesse possível modelo, caso o plano avance, o GPA teria um “fit” melhor, pela sua força em São Paulo, onde estão as lojas do Dia, e pela situação financeira mais confortável hoje do GPA do que no passado, diz uma segunda pessoa a par do tema.

A princípio, a entrada no GPA poderia ocorrer de forma relativamente simples, via compra de ações no mercado, considerando que 66% do capital está pulverizado.

Os franceses do Grupo Casino, que foram vendendo sua posição da rede, ainda têm 20,4% da empresa por meio da Segisor, veículo de investimento da companhia, e são os maiores acionistas. Ronaldo Iabrudi, ex-presidente do GPA e homem de confiança do ex-CEO do Casino, Jean-Charles Naouri, tem 5,4%, numa compra recente de ações da empresa. O BTG Pactual soma 2,89%.

Procurados, Tanure e Quadrado preferiram não comentar.

O grupo Dia, em recuperação judicial desde março deste ano, é controlado pelo fundo Lyra II FIP Multiestratégia, cuja criação foi viabilizada pela MAM Asset, gestora do banco Master. Quadrado era sócio do banco quando a operação foi fechada com o Dia via o FIP.

O Banco Master, portanto, não teria relação direta com um eventual desenho de acordo do Dia com outras redes, caso isso evolua.

O intuito do fundo era assumir a operação do Dia após o pedido de recuperação, numa negociação fechada por valor simbólico junto aos antigos donos espanhóis.

O Lyra II tem apenas um cotista como sócio, cujo nome não é público. Como o Valor publicou em junho, segundo informações de mercado, Tanure seria esse investidor, mas pessoas próximas a ele negavam os rumores. O jornal “Folha de S.Paulo” informou que Tanure deve assumir o Dia por meio do fundo de investimento Arila.

Nos últimos meses, o Dia já liquidou dívidas com o Banco do Brasil e o Daycoval, segundo o último relatório de atividades da rede, de novembro, e existiria valor restante a pagar inferior à dívida inicial de R$ 1 bilhão. A empresa ainda está num processo de retomada de fornecimento da indústria, atual credora da rede, e de repaginação dos pontos de vendas, e há resultados vistos como mais animadores.

Atualmente, apenas a marca Pão de Açúcar vale quase quatro vezes o valor de mercado do GPA, de R$ 1,1 bilhão, e que perdeu fortemente seu valor após entrar em reestruturação há cerca de dois anos, por conta das elevadas dívidas e perda de mercado por trimestres seguidos.

Além das dívidas da empresa, a falta de interesse de investidores no setor de varejo, duramente afetado por crises sucessivas, e o cenário de liquidez baixa pelo nível de incertezas no país e os juros altos, acabou reduzindo interesse do mercado pelos ativos do GPA durante a sua reestruturação.

Questões de fraca governança envolvendo o antigo controlador, os franceses do Casino, também afastava os interessados.

Mas a recente reorganização financeira do GPA, e a saída dos franceses do controle, reduziu o risco da empresa. A atual reestruturação da gestão de Marcelo Pimentel vem, há dois anos, colocando a empresa nos eixos aos poucos. A alavancagem da varejista já caiu consideravelmente de um ano para cá, e a empresa tem ficado mais rentável gradualmente, um cenário que abre espaço para uma eventual oferta.

Como o Valor antecipou, a empresa vem reduzindo mais despesas, com cortes no quadro de pessoal em andamento desde novembro.

Informações sobre eventual interesse de diversos fundos e empresas, como o Pátria, e os chilenos do Cencosud, circularam no setor, mas não passaram de rumores.

Com informações do Valor Econômico

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

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