Futebol tem como objetivo minimizar os erros, e não ser uma caixinha de surpresas

É preciso ter uma gestão eficiente, com orçamento factível e poder para controlar custos

Afinal, qual é o negócio principal do futebol? - (Foto: Getty Images)
Afinal, qual é o negócio principal do futebol? - (Foto: Getty Images)

Nas melhores faculdades de administração e gestão aprendemos diversas técnicas e modelos que permitem obter resultados eficientes, maximizar o desempenho e produtividade, obter os melhores resultados. A ideia é que tudo é metrificável, e serve a qualquer segmento, seja varejo, agro, imobiliário, infraestrutura, papel e celulose. Mas – pois é, sempre tem esse tal de “mas” – eis que surge o futebol. E qual é o negócio principal do futebol?

O negócio do futebol

Estamos vivendo um momento em que a soma de várias partes está criando o que podemos chamar de indústria do futebol, ou seja, um conjunto de empresas que por suas semelhanças constituem um todo.

Receba no seu e-mail a Calculadora de Aposentadoria 1-3-6-9® e descubra quanto você precisa juntar para se aposentar sem depender do INSS

Com a inscrição você concorda com os Termos de Uso e Política de Privacidade e passa a receber nossas newsletters gratuitamente

Operam o mesmo negócio, disputam competições, acessam o consumidor. E, como todo negócio que ganha relevância, a indústria do futebol demanda profissionalização, o que consequentemente nos leva a modelos eficientes de gestão.

Quanto mais a indústria se organiza, maior é a necessidade por profissionalismo, à medida em que o grau de complexidade aumenta.

Últimas em Negócios

E, então, basta aplicarmos aquelas boas técnicas e práticas aprendidas nas faculdades e, voilá!, tudo estará resolvido. Seria simples, se fosse simples.

Futebol é uma indústria diferente?

Certa vez, no início do meu percurso nessa indústria, ouvi de uma pessoa que “o futebol é diferente”.

Lá na minha arrogância de quem achava que já tinha visto de tudo – e vi mesmo todos os setores da economia, alguns que já nem existem, e outros que eram apenas um breve sonho de ficção científica – achava a expressão uma bobagem.

Afinal, basta controlar custos, maximizar receitas, contratar da maneira certa e tudo se resolve. Basta querer. Ledo engano.

Se é verdade que não estamos falando de rocket science, e a engrenagem de funcionamento é relativamente simples – montar elencos, contratar profissionais, gerir custos e despesas, vender marcas que já têm um mercado consumidor relativamente estável – colocar essa engrenagem para funcionar é um desafio hercúleo.

E o desafio nasce no momento em que entendemos que a indústria do futebol é um negócio de minimização de erros.

Antes de falar sobre isso, temos que lembrar que a atividade de um clube de futebol é disputar competições profissionais da modalidade futebol.

Ou seja, o objetivo é montar os elencos de atletas que permitam atingir os melhores resultados possíveis.

Tudo que vem além disso é atividade satélite que deveria ter o objetivo de trabalhar em favor do core business.

As idiossincrasias do futebol

Só que para chegarmos a isso temos um negócio cheio de idiossincrasias:

O consumidor é chamado de torcedor, e, normalmente, é uma base estável. Só que essa base reclama mais do que consome. Isso porque ela opta por produtos piratas, das camisetas aos sinais de televisão. Reclama dos preços, mas exige times competitivos.

Além disso, parte desses consumidores são “organizados”, e vivem às custas de pressões sobre os dirigentes e atletas, explorado a marca do clube sem pagar por isso. Ah, e servindo aos dirigentes quando interessa, como pichar muros, invadir centros de treinamento, fazer pressão encomendada.

Os funcionários ganham mais que os chefes. E os chefes entendem quase nada da atividade core, porque os colaboradores especializados (vulgo diretos esportivos) mantém um chinese wall no entorno do seu feudo. “No vestiário ninguém mexe”.

A adversário é também seu parceiro, porque ninguém joga sozinho. E, por conta da pressão que se têm por conquistar vitórias, ele vira quase inimigo, ainda mais quando faz negócios com seu clube e não paga o que deve.

E isto remete à famosa falta de fair play financeiro, porque os clubes extrapolam suas capacidades financeiras em busca de conquistas, porque no final das contas ninguém cobra ninguém, e vira uma grande ação entre amigos.

Para ajudar, ainda tem a imprensa, que é mais um meio de cobranças e que não ajuda em quase nada. Muitas vezes estimula a pressão de torcedores, quando deveria agir como meio de equilíbrio, evitando disseminação de mitos como o do patrocinador que paga salários, ou reforçando a ideia de que o clube precisa manter seu equilíbrio financeiro.

    Minimizar os erros no futebol

    Coloca tudo isso num liquidificador, liga, e veja o caldo que dá.

    E o trabalho do dirigente é minimizar erros, porque montar elencos requer conhecimento do que se faz, uso de tecnologia e profissionais qualificados, equilíbrio entre o que se faz de receita e quanto se gasta para atingir esses objetivos.

    Como lidamos com gente, a certeza é que muitas operações darão errado – veja o Manchester United, um dos clubes com maiores receitas no mundo e que não consegue construir elencos competitivos e estáveis – e o trabalho diário é reduzir a chance de erro.

    Como? Pensando no DNA esportivo, que é a forma que se espera que o time jogue, contratando profissionais que sejam capazes de aplicar uma ideia de jogo associado a este DNA, entregando estrutura de qualidade, pagando em dia, avaliando de maneira estruturada. E ainda corrigindo os erros quando eles dão os primeiros sinais de alerta.

    Um dos erros mais comuns no futebol é não saber avaliar treinadores e atletas, deixando para o “feeling” o que deveria ser feito com base técnica.

    O papel do marketing e do financeiro no futebol

    Fora de campo é fundamental ter uma área de marketing que saiba se conectar com os torcedores e uma área comercial capaz de maximizar o que a marca representa.

    E passa pela melhor operacionalização do programa de relacionamentos e da venda de ingressos.

    Termina numa gestão financeira eficiente, com orçamento factível e poder para controlar custos, despesas e investimentos. Mais um erro comum no futebol é sair contratando para corrigir erros, sem saber se são erros estruturais, e apenas aumentando o buraco financeiro.

    Líderes que entendam do negócio do futebol

    Para isso, esses profissionais também precisam entender do negócio.

    Não é aceitável que um CFO, CMO, CRO não seja capaz de participar de maneira qualificada da gestão esportiva. Não é dar palpite ou indicar escalação, mas ser capaz de avaliar se as decisões e demandas da direção esportiva são razoáveis, se o desempenho está de acordo com a expectativa ou não.

    Esses são comportamentos esperados de uma indústria cujo objetivo é minimizar erros na operação.

    Porque o atacante perderá um pênalti, o goleiro tomará um frango, um zagueiro fará gol contra, o treinador escalará mal em algum momento.

    No futebol atual não dá mais para agir de maneira intempestiva, nem operar numa estrutura desagregada.

    Mas, essencialmente, é preciso entender como ele funciona, para não depender da bola que entra por acaso.

    A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.

    Mais em Futebol


    Últimas notícias

    VER MAIS NOTÍCIAS