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Nove toneladas de rocha para achar um grama de ouro: como é a mineração do metal sensação de 2024
O preço do ouro brilhou aos olhos dos investidores recentemente. Mas o processo de mineração ainda pode ser um mistério para muita gente. Assim, em visita a uma das minas ainda operando no Brasil na semana passada a Inteligência Financeira conheceu de perto a produção do metal nobre.
Esqueça as picaretas e peneiras recolhendo o metal de rochas e do fundo de rios. Agora, o processo exige cálculos complexos, bancos de dados extensos e atividades de máxima precisão. Tudo isso para achar um único pingo da matéria-prima no meio de toneladas de rocha.
Dessa maneira, esse trabalho todo ajuda a explicar o aumento gradual do preço do ouro ao longo da história – recentemente o metal foi um dos investimentos que mais valorizaram.
Atualmente, a onça (31 gramas de ouro) está cotada em US$ 2,6 mil. Mas o principal motivo para a valorização de 2024 pode estar no aumento da demanda da China por ouro para diversificar suas reservas em relação ao dólar.
Na mina de ouro de Apoena, em Pontes e Lacerda (MT), a Aura (AURA33) precisa movimentar uma tonelada de rocha para cada grama de ouro encontrada. Essa é a média.
Movendo montanhas por um único grama de ouro
Em geral, o trabalho de remoção de rochas para acessar a commodity é muito maior.
“Geralmente, é preciso tirar de sete a oito toneladas de estéril para poder acessar a área que contém ouro. Então, a conta pode chegar a oito ou nove toneladas por grama de ouro”. A explicação é de Glauber Luvizotto, COO da Aura Minerals.
Assim, para produzir uma onça, é necessário mover algo em torno de 270 toneladas de pedra.
“Eu perco 10% da receita se eu errar 10% no teor do ouro contido na rocha. Mas o custo continua o mesmo”, acrescenta.
Perfuração para achar ouro custa quase R$ 1,4 mil por metro
Dessa maneira, a perfuração é a etapa da mineração onde está a maior parte de capital investido. E por isso pode impactar bastante o preço do ouro para a produtora. Ali, um metro de sondagem custa US$ 230 ou US$ 240.
Ou seja, são gastos quase R$ 1,4 mil a cada metro de perfuração.
A operação de mina responde por 60% do custo total da Aura. Então, essa etapa está bastante relacionada ao preço do ouro que sai da mina.
“Esse gasto está em tonelada movimentada”. Luvizotto explica que isso envolve tanto a pilha de estéril quanto o minério que contém o ouro.
Outros 35% dos custos são relacionados ao processo laboratorial de beneficiamento do ouro. E o restante é custo administrativo.
Etapas da mineração de ouro
As etapas da mineração estão baseadas em quatro processos, resumidamente.
- Prospecção: entender quais áreas podem conter o metal;
- Exploração: saber se há recurso ou reserva viável. Assim, não basta ter ouro. A exploração precisa ser economicamente vantajosa;
- Atividade de mina: extrair o minério de ouro das camas de rocha;
- Atividade de beneficiamento mineral: separar o ouro de outras substâncias.
Garimpo geralmente antecede a mineração de ouro
No caso da Aura (AURA33), a mineração começa na exploração. Geralmente, a empresa arrenda ou compra terras com indícios já evidentes da presença de ouro.
Assim, a mineradora assume a área depois do trabalho de garimpeiros legalizados. Ou mesmo as adquire de outras mineradoras.
Dessa maneira, o executivo explica: “Normalmente os garimpeiros chegam antes e cortam uma parte do nosso caminho. Se existe ouro atrativo para escala de garimpo é porque tem uma boa concentração”.
Além disso, as mineradoras se baseiam nos trabalhos da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) do Ministério de Minas e Energia para achar ouro. A CPRM fornece um mapa indicando possível presença de minérios em diferentes regiões do país.
“A escala (usada pela CPRM) é muito ampla, mas também é um indicador para a gente”, diz o executivo da Aura.
Preço do ouro: pesquisa pode custar R$ 40 milhões e demorar oito anos
Então, dentro da etapa de exploração existe o trabalho de pesquisa. Geralmente, isso custa entre R$ 30 milhões e R$ 40 milhões. Além disso, o tempo de pesquisa pode demorar até oito anos para que então sejam identificados os locais para extração do ouro.
Assim, a empresa “pode encontrar anomalia (indício de presença de ouro), mas não necessariamente vem numa quantidade que seja economicamente viável”, explica Luvizotto.
Nessa fase, o funcionário mais exigido é o geofísico, que caminha sobre o terreno num trabalho minucioso de análise visual do solo.
Depois, com as amostras recolhidas, é feita a análise química para em seguida passar à etapa de atividade de mina. É aí que começa a perfuração da rocha.
A ciência fina por trás da explosão de rochas na mineração
Dessa maneira, dentro da atividade de mina estão as etapas de perfuração e desmonte. Esta última nada mais é que a explosão das rochas.
Carlos Mamede, diretor de Operações da Aura na mina de Apoena, explica que a explosão exige cálculos complexos e ciência fina.
“De longe, parece uma operação muito bruta, mas a gente controla até os milissegundos (de detonação) e o intervalo entre os furos. O tipo de carga e o tempo podem influenciar diretamente no processo”, detalha Mamede.
Erro de cálculo pode deixar mineração de ouro mais cara
Em caso de uma dessas variáveis ser mal calculada, é grande o risco de perda de material. Isso se chama diluição e acontece quando uma parte do estéril se confunde com o minério.
Assim, o efeito prático é a pilha de estéril ser levada para análise laboratorial e com teor de minério menor que o calculado inicialmente.
Uso de dados para aumento da eficiência
Depois de a rocha ser perfurada, é retirado o que é chamado de ‘testemunho’. É um cilindro de rocha extraído da sonda perfuradora. Esse material é colocado em uma bancada para análise.
Então, o geólogo descreve, de metro em metro, qual o tipo de rocha presente. Isso é importante porque ajuda a entender as rochas associadas à presença de ouro.
A equipe técnica da Aura explica que a presença de quartzo e perita (o chamado ouro de tolo) ajudam a indicar que há ouro de verdade por perto.
Concluída esta etapa, parte da amostra é levada para laboratório. É lá onde se define o teor de ouro.
Assim, o banco de dados é alimentado e combinado aos conhecimentos em geologia para construir estimativas. Então, isso ocorre por meio de geoestatística e pode indicar onde encontrar ouro em formações geológicas semelhantes.
“Mas a certeza (do teor de ouro) só vamos ter quando extrairmos”, reconhece Luvizotto.
“A gente busca, na hora de executar a lavra (extração do material) ter certeza de mais ou menos de 5% (do teor de ouro da mostra)”, acrescenta o executivo.
Operação laboratorial: separando joio do trigo
Então, se encontrado o metal no solo, acontece a perfuração. Depois, há explosões e o transporte. Em seguida vem o beneficiamento mineral. Essa etapa também explica bastante a composição do preço do ouro que sai da mineradora.
Neste ponto, os nomes dos processos são quase tão complicados quanto suas dinâmicas.
A começar pela cominuição. É o método para reduzir partículas para então destacar o ouro na multidão de materiais extraídos
Depois, é preciso lixiviar, ou seja, diluir o ouro. Para isso, é utilizado o cianeto.
Na etapa seguinte de beneficiamento, o ouro e a solução ainda cheia de outros materiais passam por tanques com carvão ativado. É um filtro para reter o metal nobre. O carvão é lavado e então é gerada uma solução rica em ouro.
Depois, a solução vai para eletrólise. Se o nome não ajuda a entender o processo, vale usar exemplos do dia-a-dia.
“Aqui, você tem uma espécie de Bombril impregnado de ouro. Aí, você leva para fundição e lá ela derrete o ouro, mas não separa de outros metais que tem tempo de fusão parecido, como prata, alumínio e cobre”, explica Luvizotto.
Assim, o ouro sai em bulhões. São barras não acabadas com concentração de cerca de 90% de ouro.
Aqui a Aura encerra sua participação. O trabalho é concluído por refinarias. Assim, a barra vai ganhar aquele formato sem arestas, como é conhecido.
O repórter viajou a convite da empresa Aura Minerals
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