Consolidação de nova regra e queda de juros animam assessorias de investimento para 2024

Expectativa do setor é de que a queda de juros contratada para 2024 pode fazer o investidor voltar a tomar risco em busca de maior rentabilidade, aumentando a diversificação do portfólio

Ilustração: Renata Miwa
Ilustração: Renata Miwa

A publicação do aguardado marco regulatório da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para os assessores de investimentos foi um momento emblemático para o setor neste ano, ainda que as regras devam se mostrar mais transformacionais apenas adiante.

Mas essa expectativa, junto ao cenário de queda de juros contratada para 2024 – o que deve implicar em mais trabalho para os profissionais, com algum retorno do apetite a risco de investidores – traz otimismo nas perspectivas do segmento no ano que vem.

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“O ano de 2023 foi mais um ano histórico no quesito de avanços e melhorias regulatórias. Da mesma forma que, em 2022, comemoramos a lei que reduziu a taxa de fiscalização e alterou o nome [da profissão] para ‘assessor de investimentos’, este ano, a edição das resoluções CVM 178 e 179 foi muito bem recebida pelo mercado, com um primeiro semestre de bastante empolgação”, afirma Francisco Amarante, superintendente da Associação Brasileira de Assessores de Investimentos (Abai).

Publicadas em 14 de fevereiro, as resoluções trouxeram pontos como o fim da obrigação de exclusividade com corretoras, a permissão para constituição de diferentes arranjos de sociedade, a possibilidade de entrada de sócios-capitalistas e a exigência de um diretor responsável para as empresas.

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Com a maioria das regras já amplamente esperadas, os documentos foram bem recebidos pelo mercado na ocasião e levaram a algumas movimentações nos últimos meses, como a desistência de escritórios em se tornarem corretoras e a entrada de sócios-capitalistas em assessorias.

Para Bruno Ballista, sócio e líder da área de assessoria e relacionamento com clientes XP Inc., as novas regras da CVM foram “as maiores notícias deste ano”, mas destaca que “nenhum marco regulatório revoluciona a indústria em um curto espaço de tempo”. “A indústria tende a se adequar, conhecer e entender como de fato vai funcionar, para então tomar decisões baseadas na nova instrução da CVM. Há muitas coisas para acontecer nos próximos dois ou três anos ancoradas no marco regulatório”, afirma.

O processo de entendimento envolve inclusive tirar as dúvidas dos agentes envolvidos, segundo Amarante, da Abai. Junto à BSM, a associação elaborou um “FAQ” (documento de perguntas e respostas) buscando validação da CVM para mais de 66 perguntas sobre “o espírito da resolução”. “Foi uma forma que encontramos para tentar equalizar o entendimento das resoluções”, diz Amarante, acrescentando que as dúvidas giram em torno da interpretação e aplicação das regras.

“A mudança da regulamentação traz a questão do profissionalismo. Qualquer escritório hoje que queira ter um sócio investidor vai ter que cumprir regras de governança, de compliance e de gestão. Isso é muito positivo para o mercado de assessoria e para os clientes finais”, destaca Alexandre Cassiani, líder de B2B da Guide Investimentos. Segundo o executivo, alguns escritórios parceiros já têm evoluído em conversas com investidores.

A XP, por sua vez, começou a dar passos com base nas novas regras, com o anúncio de sociedade com SVN Investimentos e Ável Investimentos. Segundo Ballista, a empresa segue olhando para escritórios considerando crescimento, alinhamento com sócios e proposta de valor clara. “Devemos continuar vendo uma agitação nesse mercado, e virá a reboque um ciclo de consolidações”, disse Ballista.

Para o ano que vem, um dos pontos que deve ser acompanhado de perto é a questão da transparência da remuneração. “Não acho que isso vai ser transformacional do ponto de vista operacional, com uma corrida para um lado ou para o outro. Mas tudo que vier de transparência para o investidor é saudável e fortalece a indústria independente”, afirma Ballista, da XP. Para Cassiani, da Guide, isso vai forçar cada vez mais o alinhamento de assessores com os objetivos de seus clientes, o que é positivo para a classe.

Após mercados mais conservadores, a bonança

O mercado vinha de um cenário apertado desde 2022, com a onda da variante Ômicron da covid-19, o início da guerra na Ucrânia, a escalada de juros no mundo e as eleições presidenciais no Brasil, o que, em 2023, se refletiu numa postura mais conservadora, na avaliação de Ballista, da XP, e Cassiani, da Guide. “Tudo isso influenciou o humor do investidor, e quem conviveu com isso foi o assessor”, diz Ballista.

Mas se até agora o famoso retorno de 1% ao mês estava garantido com a segurança da renda fixa, a queda de juros contratada para 2024 pode fazer o investidor voltar a tomar risco em busca de maior rentabilidade, aumentando a diversificação do portfólio.

“A gente entra em 2024 otimista. Quem fugiu da Bolsa ao longo deste ano perdeu o rali de novembro, então acho que isso dá mais confiança para o investidor, que vai procurar um especialista”, diz Balista. “Com queda de juros, o cliente começa a se movimentar mais, buscar risco, e é nesse momento em que o assessor consegue mostrar um bom serviço”, acrescenta Cassiani.

Retomada de contratações e mais capacitação

Em um ambiente de juros mais altos, é comum que profissionais de bancos não tomem a decisão de deixar o posto em busca de independência, segundo Ballista, da XP. Assim, o que a empresa fez neste último ano foi investir em programas de formação e contratação de assessores, como o XP Future, além da aquisição de uma empresa de certificação, a Melver. Para 2024, não só esse empenho deve continuar, como a contratação de talentos deve ser retomada. “O crescimento da rede de distribuição provavelmente estará a todo vapor”, aposta Ballista.

Os números mais recentes da Associação Nacional das Corretoras e Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários, Câmbio e Mercadorias (Ancord) mostram que há 24.880 assessores credenciados, sendo 17.887 vinculados a alguma instituição financeira, ou seja, exercendo a atividade.

“Não houve grandes solavancos na quantidade de assessores por conta da nova regra, mas há uma curva ascendente [no credenciamento]”, avalia José David Martins Júnior, diretor geral da Ancord, que acredita que os números devem continuar crescendo no ano que vem.

O diretor também destaca o dado de que, dos assessores em atividade, mais de 90% estão cumprindo o programa de educação continuada (PEC), com atividades e cursos obrigatórios para a renovação do credenciamento sem realização de nova prova. Periodicamente a Ancord oferece cursos do PEC gratuitamente, com o objetivo de motivar essa capacitação dos profissionais, diz Martins Júnior.

Com informações do Estadão Conteúdo

A Inteligência Financeira é um canal jornalístico e este conteúdo não deve ser interpretado como uma recomendação de compra ou venda de investimentos. Antes de investir, verifique seu perfil de investidor, seus objetivos e mantenha-se sempre bem informado.


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