Uma prévia do desempenho dos clubes brasileiros
Não dá mais para viver de sucessos pontuais e esporádicos
O ano está chegando ao seu trimestre final, e, para o futebol, estamos caminhando para os dois últimos meses de competições. Hora, portanto, de fazer um balanço prévio dos clubes brasileiros. Quem foi mais eficiente e quem foi decepcionante?
Vamos começar com as copas. Mas antes relembramos os valores de receitas dos clubes brasileiros em 2023, obtidos a partir do Relatório Convocados / Galapagos Capital 2024.
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Copa do Brasil
Nas semifinais, que pagam uma premiação de encher os olhos de dirigentes e torcedores, mas cujo impacto financeiro é menos relevante do que tentam vender, temos nas semifinais: Atlético-MG, Corinthians, Flamengo e Vasco da Gama.
Duas SAFs, duas associações.
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Se analisarmos sob a óticas das receitas de 2023, temos as duas maiores receitas (Flamengo e Corinthians), a 7ª (Atlético-MG) e a 13ª (Vasco da Gama).
Obviamente que é uma referência, apenas, pois as receitas de 2024 já são outras. Mas exceto por uma eventual premiação de finalista, os clubes brasileiros não devem mudar muito de patamar em 2024.
Teremos, portanto, uma das duas maiores receitas do Brasil na final da competição.
E, do outro lado, um clube que faz parte do podemos chamar de 2º tier de receitas. Eles vão do Red Bull Bragantino (5ª maior, com R$ 488 milhões) ao Vasco (13ª maior, com R$ 336 milhões).
Mais equilíbrio
Dois complementos: as copas tendem a possibilitar maior equilíbrio, a ponto de um clube de menor receita vencê-las. São poucos jogos, e mesmo elencos menores podem desenvolver uma espécie de “doping emocional” e conquistar resultados relevantes.
Outro ponto é a lenda de que o investimento em elenco precisa ser alto, porque as receitas são variáveis.
E, por performance, uma conquista como a da Copa do Brasil paga a conta. Não é verdade.
No ano passado, tanto Fluminense como São Paulo venceram a Libertadores e a Copa do Brasil. Mesmo assim, suas dívidas cresceram, seus resultados econômicos foram ruins, e os valores pagos aos atletas a título de premiação cresceram absurdamente. Ou seja, parte relevante das receitas acaba no bolso dos atletas.
Lembrem-se: quem ganha dinheiro no futebol são os atletas e os agentes. Por isso o clube precisa ser muito bem gerido, controlar seus gastos, ou pavimentará um caminho para a insustentabilidade financeira. Custa caro.
Copa Libertadores
Após algum tempo em que os clubes brasileiros dominaram as semifinais, como em 2023, quando havia 3 clubes participando (Fluminense, Internacional e Palmeiras) e 1 argentino (Boca Juniors), eis que em 2024 seguimos maioria, mas com 2 clubes: Atlético-MG e Botafogo, que disputaram vaga na final contra Peñarol e River Plate.
O Botafogo foi a 12ª receita no Brasil em 2023 (R$ 355 milhões), e segundo seus dirigentes o número de 2024 já é substancialmente maior – não dá para saber, porque não há dados disponibilizados pelo clube – e tem se destacado pela grande quantidade de contratações e aumento de custos salariais, pois trata-se de um elenco qualificado. Não sabemos se acima ou dentro da realidade das receitas, mas qualificado.
O caso do Atlético-MG
Note que temos novamente o Atlético-MG numa semifinal de copa, o que mostra que a formação de elenco tem sido mais eficaz para este modelo de competição que para o Campeonato Brasileiro, onde ocupa apenas a 9ª posição na tabela após 27 rodadas, com 70% da competição disputada. Aliás, o Botafogo é líder.
O que nos remete a outro número: os custos e despesas. Vamos aos dados de 2023, como referência de comportamento.
Perfil de investimento
O Atlético-MG apresentou a 6ª folha de pagamentos (toda a estrutura do clube), enquanto o Botafogo foi a 7ª. Mas, enquanto o Atlético-MG foi a 7ª receita, o Botafogo foi a 12ª.
Ou seja, ainda que ambos sejam SAFs – olha lá duas SAFs nas semifinais da Libertadores – o perfil de investimentos atual do Botafogo é maior que o do Galo.
Mas é importante ressaltar que, para chegar ao atual estágio de elenco, o clube controlado pela família Menin, entre outros acionistas, já gastam bastante há algum tempo.
No gráfico acima vemos que o Atlético-MG cresceu gastos salariais até o ápice em 2021, quando venceu o Brasileiro e a Copa do Brasil. Aqui certamente estão incluídos prêmios pelas conquistas – para ajustar o valor a patamares acima do período de gestão dos então mecenas.
Já para o Botafogo os valores são historicamente mais baixos, e cresceram após a transformação em SAF, equiparando-se ao clube mineiro em 2023.
Na competição, os clubes de maiores receitas ficaram pelo caminho. Flamengo e São Paulo caíram nas 4ªs de final e o Palmeiras nas 8ªs de final. Aliás, a dupla paulista caiu para o Botafogo.
Se, em termos de receitas não virmos Atlético-MG e Botafogo no top 5 de 2024 – exceto se o Atlético-MG vencer as duas copas -, possivelmente eles estarão no topo da tabela de gastos com pessoal. Em 2023 representaram entre 50% e 60% dos dois maiores. Será que se aproximaram, ou o bom desempenho esportivo está apenas ligado à melhor formação e gestão de elenco?
Copa Sulamericana
Em 2024 temos dois clubes brasileiros nas semifinais: Corinthians e Cruzeiro. Foram, respectivamente, a 2ª e 15ª receitas de 2023. Disputarão contra dois clubes argentinos: Racing e Lanús. No ano passado também tivemos dois clubes brasileiros nas semifinais (Corinthians e Fortaleza), o que nos faz manter a média de desempenho.
Estamos falando de dois clubes que gastaram bastante em contratações – e certamente em salários – em 2024. No caso do Corinthians vimos recentemente números bastante críticos em relação às dívidas e seu impacto no dia a dia. Para o Cruzeiro, SAF controlada por Pedro Lourenço, a estrutura é impactada por dívidas, com receitas que não devem ter crescido muito em 2024. Com gastos e investimentos relevantes. Não é da Sulamericana que virá dinheiro para ajudar nas despesas.
No Brasileiro, o Corinthians sofre com a 17ª posição e a zona de rebaixamento. E o Cruzeiro está em 7º, acima da campanha modesta de 2023, mas ainda longe da ponta da tabela.
Campeonato Brasileiro
Falando em Brasileirão, os destaques são Botafogo (56 pontos), Palmeiras (53) e Fortaleza (52).
Mais distante um pouco o Flamengo (45) com um jogo a menos.
Do outro lado da tabela, Corinthians (17º) e Fluminense (18º) lutam contra o rebaixamento contra clubes que em 2023 faturaram entre 15% e 30% de ambos, ou vieram da Série B, cuja distância é ainda maior.
Outros dois clubes que figuram entre os que se colocam em risco são o Athlético-PR e o Grêmio (ambos com 31 pontos, na 15ª e 14ª posições, mas com jogos a menos). Eles têm receita para ocupar posições bem acima das atuais, sem tanto risco.
A presença do Botafogo na disputa pelo título mostra que o elenco mais qualificado foi pensado para garantir competitividade nas duas frentes (Brasileiro e Libertadores).
Mas o destaque é o Fortaleza, que com baixo investimento segue firme na disputa. Isso mostra que é possível ser competitivo mesmo com menos dinheiro, mas capacidade de organização esportiva.
Destaques gerais
A partir desse apanhado geral das competições em andamento, podemos citar alguns destaques:
Positivos:
- Botafogo: excelente desempenho esportivo até aqui. Precisamos verificar a relação custo/benefício e os impactos nas finanças, mas esportivamente o trabalho tem sido eficiente.
- Atlético-MG: bom desempenho nas copas, mas ficou a desejar no Brasileiro. Para o investimento, era de se esperar melhor desempenho, mas até aqui não há do que reclamar: duas semifinais e a série A sem sustos.
- Fortaleza: mais um ano com desempenho esportivo acima da capacidade financeira. Há coisas que não são por acaso, especialmente quando se repetem.
Para avaliarmos mais adiante:
- Flamengo e Palmeiras: dependem do desfecho do Brasileiro e da Copa do Brasil. Ainda assim, esperava-se mais dentro de campo.
- São Paulo: nem lá, nem cá. Duas 4ªs de final, mas um Campeonato Brasileiro sem sustos, ainda quem sem brilho.
- Corinthians: muito bem nas copas, mas dificuldades no Brasileiro, e tudo feito na base do “all in” e com dificuldades financeiras. Cedo para falarmos o efeito disso tudo.
- Cruzeiro: outro que deu “all in” e, por enquanto, desempenho com altos e baixos. Veremos mais adiante.
Clubes na corda bamba
Para os demais vamos esperar o final da temporada e os números. Há clubes na corda bamba, como Fluminense, e histórias de superação, como Juventude e Criciúma. Deixemos o suspense no ar.
A realidade é que o futebol brasileiro em 2024 está se mostrando menos óbvio do que seria esperado. Muito por fruto dos clubes que têm mais dinheiro. Em qualquer lugar do mundo ter mais dinheiro transforma o clube num bicho-papão de títulos.
Vinha sendo assim no Brasil até o ano passado. Se Flamengo e Palmeiras vencerem a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro isso pode seguir se configurando uma verdade. Mas o fato é que já não sobram como no passado, mesmo com mais dinheiro.
SAF é a saída?
A recuperação de clubes transformados em SAF, como Botafogo, Atlético-MG, Cruzeiro, Bahia, Vasco, trazem um novo tempero ao nosso futebol. Sem contar o Fortaleza, firme e forte em sua estratégia.
É preciso estar preparado para isso. O alerta vem sendo feito. Não dá mais para viver de sucessos pontuais e esporádicos. A turma ligou a seta, deu farol alto, e é melhor ficar atento, para não comer poeira.