Aldo Costa Jr, CMO da Renault: ‘A gente não acredita que o veículo elétrico vá se tornar a única solução no curto prazo’
Aldo Costa Jr, CMO da Renault: ‘A gente não acredita que o veículo elétrico vá se tornar a única solução no curto prazo’
Para Aldo Costa Jr, líder de marketing da montadora francesa no Brasil, na disputa pelo mercado de carros elétricos, os chineses estão na frente neste momento, mas a Renault está no páreo
O publicitário curitibano Aldo Costa Jr assumiu, há pouco mais de um ano, a segunda cadeira mais importante da Renault do Brasil, abaixo apenas do CEO, Ricardo Yuji Gondo. Assim, sob o mandato de Aldo estão as áreas de marketing, relacionamento com o cliente, ‘pricing’, produto, programação de demanda e planejamento de vendas.
A montadora francesa de 125 anos atua no Brasil há 25. O país é o segundo maior mercado global da marca, atras apenas da França, terra natal da montadora.
Aldo começou na empresa, há 22 anos, como estagiário. Então, foi galgando posições, tendo passado pelas áreas de vendas, pós-vendas, planejamento e distribuição, até chegar a líder de marketing da Renault no Brasil.
Maratonista, Aldo afirma que sua maior característica é a resiliência.
“Eu não acredito em recompensa de curto prazo e recompensa imediata. Então, para mim é super importante ter a visão lá na frente. A gente passa por muitas dificuldades. Às vezes, para superar contextos muito turbulentos, é preciso manter o foco num objetivo maior”, diz.
Em entrevista ao Visão de Líder, Aldo falou da transformação da indústria automotiva, da disputa com os chineses pelo mercado de carros elétricos (a Renault é a terceira marca em vendas de carros elétricos de passeio) e do futuro da mobilidade.
A seguir, trechos editados da entrevista com Aldo Costa Jr.
Disputa com os chineses
Olha, eu acho que tem uma vantagem dos chineses neste momento. A gente tem que respeitar o que eles estão fazendo.
Os chineses, entenderam uma fortaleza e uma fraqueza que eles tinham.
Por muito tempo eles tentaram copiar o Ocidente e não conseguiram.
A tecnologia a combustão é muito complexa. Já a tecnologia elétrica é mais simples.
A partir do momento em que eles entenderam isso, investiram (no mercado de elétricos).
E, a partir daí, trabalharam outros aspectos, como design, tecnologia e segurança.
E evoluíram exponencialmente em um curto prazo de tempo.
Então, hoje eles entregam produtos que são competitivos, com custos relativamente baixos.
Motor a combustão ou elétrico
A Renault foi pioneira nessa solução (de carros elétricos). A gente tem veículo elétrico no mercado desde 2012.
Temos uma expertise muito forte nessas tecnologias. Mas a gente não acredita que o veículo elétrico vá se tornar a única solução no curto prazo.
O veículo a combustão ainda tem bastante espaço e durante um bom tempo.
Então, diferente de outras marcas que anunciam a morte do veículo a combustão, a Renault investe ainda bastante em veículos a combustão.
Queremos ter um cardápio de oferta amplo para o consumidor.
Carro por assinatura
No leasing operacional, como a gente chama, a pessoa paga uma mensalidade e não se preocupa com mais nada. (A Renault) acredita muito no crescimento desse modelo. Fomos a primeira marca no Brasil a oferecer esse tipo de serviço, como montadora.
Mas ainda vai levar um tempo. Por enquanto, os jovens são mais abertos a isso. Eles já entendem o modelo de assinatura como algo mais natural. Até porque faz parte do dia a dia digital deles, em diversas interações (online) que eles têm.
Olhando para mercados mais maduros, como os Estados Unidos e a Europa, o modelo de carro por assinatura já é forte.
Porém, o brasileiro ainda valoriza muito a propriedade. O carro tem um espaço importante dentro do orçamento do brasileiro.
Mobilidade, segundo a Renault
Eu costumo usar um termo que é a ‘omni mobilidade’ que significa ter múltiplas possibilidades (de trafegar). Elas não eliminam uma à outra, elas precisam ser integradas.
Você tem um trajeto X que você começa saindo da sua casa com o seu carro. Você para num determinado local e usa um transporte coletivo. E você finaliza o seu trajeto com uma micro mobilidade, como um patinete.
Tudo isso vai estar integrado, num mesmo cartão (de crédito) ou em um mesmo aplicativo.
É esse tipo de ‘mindset’ que penso como solução para a mobilidade. E ela está dentro do escopo do plano estratégico (da Renault).
Então, a mobilidade hoje é o eixo principal disso, porque faz parte da nossa visão de futuro.
Futuro da Renault
Começamos uma revisão estratégica há alguns anos.
Passamos pela primeira fase, cujo plano era buscar, principalmente, a recuperação financeira da empresa. Foi importante para voltar a ter caixa. E foi super bem-sucedido.
Voltamos a ser uma empresa que consegue se financiar, fazer investimentos e colocar novos projetos na rua.
Passamos para a segunda fase, em que atualizamos toda a nossa linha de produtos. No Brasil, começamos esse ano.
E no terceiro estágio, vamos buscar outras soluções, outros serviços além do automóvel para entregar para o cliente outras oportunidades de negócio.